Quando o ministro da Fazenda é um economista, como Paulo Guedes, ou um engenheiro com atuação no mercado financeiro, como Henrique Meirelles, é possível ter alguma ideia de como será sua gestão antes de ela começar. Mas, quando um político é escolhido para o cargo, o que de fato pode definir o tom dessa administração é a equipe que irá ocupar os segundos e terceiros escalões da pasta.
Dois exemplos dessa cepa foram levantados na última quinta-feira pelo presidente do CIEE, Humberto Casagrande, um dos meus colegas de bancada do programa 4 Ases. O primeiro: Fernando Henrique Cardoso, que contava com Armínio Fraga, Persio Arida e Gustavo Franco, entre outros. Antonio Palocci, médico de formação, é o nome a seguir nessa lista. Ao assumir a pasta, ele tinha a ajuda de Bernard Appy, Marcos Lisboa e Joaquim Levy.
Diante disso, qual será a equipe de Haddad?
O novo ministro da Fazenda é alguém que gosta de um debate. No início do governo de Luiz Inácio Lula da Silva, em 2003, ele compunha o segundo escalão do ministério do Planejamento, comandado por Guido Mantega. E era conhecido pelos questionamentos às medidas tomadas pela Fazenda, capitaneada por Palocci.
Um artigo escrito pelo economista Marcos Lisboa na revista Piauí em 2017, em resposta a texto feito anteriormente por Haddad, diz o seguinte: “pouco depois da crise de 2008, contudo, o petismo se perdeu para não mais se reencontrar, abraçando-se ao nacional-desenvolvimentismo. Em vez de mudar de rota, o governo Dilma dobrou a aposta. O resultado foi uma crise ainda mais grave e prolongada do que o esperado”.
O próximo ministro da Fazenda, na edição seguinte, rebateu: “ao mesmo tempo, imaginar que a debacle da economia em 2015-16 tenha única e exclusivamente a ver com o erro de diagnóstico de Dilma – que produziu, sim, distorções, conforme apontei em meu ensaio – me parece redutor demais. É preciso considerar, além disso, os efeitos da crise política e os efeitos da Lava Jato sobre a economia para que se possa explicar a magnitude do colapso econômico”.
Diante dos últimos dois parágrafos, podemos tirar uma conclusão. No início de novembro, o ex-ministro Henrique Meirelles disse que no entorno de Lula havia gente que relativizava o fracasso econômico de Dilma. Pelo jeito, estava se referindo a Fernando Haddad.
Um nome que vem sendo comentado para a equipe de Haddad é o de Bernard Appy. E uma das declarações recorrentes de Haddad é sobre a necessidade que temos de realizar uma reforma fiscal. Juntemos lé com cré e chegaremos à conclusão de que a PEC 45, de autoria do deputado Baleia Rossi e coordenada por Appy, servirá de base para o texto do governo – quando não será apresentada na íntegra.
De início, o ministro pode comprar briga com um setor econômico importante – o dos serviços. Estudos preliminares mostraram que, na PEC 45 ou na 110, quem paga a conta da reestruturação dos tributos brasileiros é o setor de serviços, que pode ter sua carga elevada em pelo menos 36 %.
Caso o nome de Appy seja realmente confirmado, é preciso observar ainda quem mais será indicado. Cada economista traz atrás de si uma trilha de trabalhos segundo a qual é possível entender o que ele deve propor. Resta saber se essa equipe terá um DNA totalmente petista ou se parte dela trará ideias diferentes, como já propôs Lula.
Fala-se no mercado que economistas como Marco Bonomo, Bernardo Guimarães, Felipe Salto e Nelson Barbosa estarão na equipe da Fazenda. Barbosa é um quadro antigo do Partido dos Trabalhadores e chegou a ser ministro da Fazenda e do Planejamento na gestão Dilma. Bonomo é um dos 38 economistas que assinaram um manifesto no qual diziam discordar do PT, mas iriam votar em Lula; Guimarães se diz mais liberal que intervencionista e foi professor da London School of Economics. Salto, por sua vez, é secretário da Fazenda do governo paulista. O que Bonomo, Guimarães e Salto têm em comum? Todos, recentemente, deram declarações ou escreveram artigos defendendo a chamada responsabilidade fiscal.