O caso da atriz Larissa Manoela, que anunciou nesta semana uma espécie de separação profissional dos pais, provocou uma enorme repercussão midiática. Programas de TV, redes sociais, artigos na internet – quase todo mundo parou para comentar esse episódio. Afinal, chama atenção uma moça de 22 anos ter de pedir aos pais um trocado para gastar na praia. Especialmente quando a garota em questão tem um patrimônio considerável e ganha grandes somas de dinheiro desde pequena.
Desde os 18 anos, Larissa estava insatisfeita em viver dessa forma. Mas ia tocando a vida – até porque não conhecia outro cotidiano. Os pais provavelmente usaram o controle financeiro (e acionário, já que comandavam as empresas que cuidavam da carreira da filha) para enquadrar a menina e possivelmente podar seus movimentos em direção à independência. Em suma, não aceitaram que a criança cresceu e que tinha de agir como uma adulta.
Além disso, o casal via a filha como uma mina de ouro que precisava ser mantida. Entende-se: os dois largaram suas ocupações para cuidar da carreira de Larissa, que se mostrou uma estrela desde a infância, ganhando papeis de destaque em várias novelas do SBT, como “Carrossel” e “Chiquititas” (minha filha era uma fã dessas novelinhas infantis). Mas, por outro lado, convenhamos que eles ganharam muito mais dinheiro gerenciando o trabalho da filha do que com suas profissões de origem (ele era representante comercial e ela, pedagoga).
Larissa revolveu deixar o patrimônio declarado pelos pais, de R$ 18 milhões, para trás – uma espécie de indenização pelo rompimento da relação profissional. Resolveu começar do zero aos 22 anos por achar que ainda tem muita condição de faturar alto, no que tem toda a razão.
Como todo assunto de família, essa briga tem exageros dos dois lados e a verdade deve estar entre as versões divulgadas pela atriz e por seus pais.
Esse imbróglio, de qualquer modo, lembra duas histórias internacionais. Uma é a do heptacampeão Lewis Hamilton, que destituiu o pai como seu empresário. Mas foi jeitoso ao demitir a figura paterna de sua carreira, pois – após um período turbulento – a relação dos dois continua forte. O outro exemplo é da cantora Britney Spears, que chegou a ser interditada pela família. Como Larissa Manoela, ela recebia uma mesada para viver e não tinha como acessar toda a sua fortuna. Esse caso foi resolvido nos tribunais e, hoje, Britney é dona do próprio nariz (e acabou se reconciliando com a mãe, embora continue brigada com o pai).
Geralmente um empresário profissional tem maiores chances de impulsionar a carreira de um artista. Mas uma gestão familiar também pode dar certo. Um exemplo disso é o do cantor Luan Santana – mas talvez essa seja a exceção que confirma a regra.
Larissa Manoela conseguirá tocar a carreira sozinha? Provavelmente não. Ela vai precisar de um executivo do ramo, deixando-a livre para se aprimorar como cantora e atriz. Sua carreira começou aos quatro anos de idade, como modelo fotográfico infantil. Aos seis, fazia sua primeira participação em um programa de televisão – uma série chamada “Mothern”, do canal GNT. Larissa cresceu em frente às câmeras, como Gloria Pires, Deborah Secco e Marina Ruy Barbosa. Seu talento e seu carisma são inegáveis. Ela, no entanto, precisa ser bem orientada para obter a longevidade de uma Pires ou de uma Secco.
Os pais teriam essa capacidade? Provavelmente não. Por isso, Larissa, escolha bem seu próximo empresário (ou empresária). Não troque seis por meia dúzia.
Uma resposta
Comentário absolutamente perfeito. Mostra clareza e objetividade, sem dúvidas “herdados” do pai, Aluízio Falcão, cuja pena deu origem a crônicas, letras de música e vários livros, lançados nos últimos anos pela Cia. Editora de Pernambuco.
Espero continuar nessa terra para ler os trabalhos de Aluízio Leite Filho, como aconteceu com Luís Fernando Veríssimo, filho de Érico.