Empresários e empreendedores são otimistas por natureza. Afinal, ninguém dura neste ofício se não achar que amanhã as coisas serão melhores do que foram ontem. Mas, mesmo quem atua na livre iniciativa sabe que precisa se render às evidências se existem fortes indícios de que haverá problemas no futuro. Quando ignoramos esses sinais negativos, o otimismo exagerado pode se transformar em irresponsabilidade.
No mundo da administração pública, não é diferente. Mas muitos políticos ignoram sinais óbvios de que catástrofes naturais podem ocorrer – e ficam na torcida para que a natureza não provoque fenômenos com consequências trágicas. Esse tipo de possibilidade foi potencializado ao máximo com as mudanças climáticas, embora sempre houve na história momentos em que torrentes, furacões e terremotos vieram de surpresa e fizeram inúmeros estragos.
Nos últimos tempos, no entanto, tivemos exemplos mais do que consistentes de que enfrentaremos tragédias provocadas pelo aquecimento global. O que ocorre no Sul do país, por exemplo, era um cenário previsto. O Instituto Nacional de Meterologia, em meados do mês passado, alertava para a possibilidade chuvas na região bem acima da média histórica.
Mas, mesmo que o Inmet fosse levado seriamente em consideração, não haveria muito a ser feito, uma vez que as administrações estaduais ainda não se prepararam para catástrofes naturais do porte que observamos em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul. Neste último caso em particular, estamos falando da terceira enchente em menos de um ano, atingindo mais de 280 municípios.
Os números da tragédia são impressionantes. São, até ontem, 56 mortos, com 67 desaparecidos e 74 feridos. São quase 33.000 pessoas fora de casa, alojadas em abrigos ou na casa de amigos ou familiares. O total da população afetada pelas cheias? Quase 380 mil indivíduos. São 155 estradas com bloqueio total e 33 com fechamentos parciais.
O tamanho da catástrofe não pode ser relativizado. Mas precisamos criar planos de contingência para esse tipo de situação em quase todos os estados. Esse tipo de ação consome dinheiro e não traz votos. Mesmo assim, é necessário.
Não é hora de apontar o dedo para o político A ou B. O momento é de convergência e de solidariedade. Precisamos nos unir para ajudar essa multidão desabrigada, vítima da força descomunal da natureza. As imagens que vimos são aterradoras, desde as fotografias com a água cobrindo postes de luz até os vídeos que mostram edificações inteiras arrastadas pela enchente – ou pontes sendo destruídas.
Ainda assim, lembremos que o otimismo exagerado ocorreu em São Paulo no passado, quando o então governador Geraldo Alckmin apostou na sorte e não tomou providências para prevenir uma temporada de seca que era prevista por 10 em cada 10 meteorologistas. O perrengue pelo qual passou a população teve efeito. Obras de contingência, com a interligação dos reservatórios, foram feitas – o que poderá mitigar os efeitos de um próximo estio.
Os governadores, daqui para frente, precisam olhar com lupa quais consequências o aquecimento global pode causar às suas regiões. Isso precisa ser feito urgentemente, pois tragédias, mesmo quando previstas de maneira geral, sempre começam de uma hora para outra.