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Ranzinzas, carentes e melancólicos

É muito comum dizer que os velhos são ranzinzas. Será? Muitos, de fato, são. O processo de envelhecimento, em diversos casos, tira o bom humor de qualquer ser humano. O corpo passa a ser habitado por desconfortos inéditos e dores em locais que não pareciam existir há pouco tempo.

Essas pessoas passam a ter de conviver com limites que surgem de repente, e a máquina biológica em que habitamos dá sinais de desgaste. É difícil passar por este processo sem experimentar alguns traços de revolta, enfurecimento ou até rancor. Daí a se transformar em alguém ranzinza é um passo.

Outro lugar comum é associar a velhice à carência emocional. Sejamos sinceros: quantas vezes ficamos de saco cheio ao engatar uma conversa com um idoso que foi do nada ao lugar nenhum? Como se aquele colóquio estivesse acontecendo apenas para preencher o tempo daquela pessoa?

Bem, quase todo ser humano demanda atenção – e, ao longo de nossa vida, essa é uma via de mão dupla. Quase que no automático, suprimos a carência alheia ao mesmo tempo em que satisfazemos a nossa. Mas, quando envelhecemos, nosso número de interlocutores diminui. Resultado: vários de nós passam a procurar a deferência alheia. O método varia de pessoa para pessoa: uns pedem, outros exigem e vários mendigam. Mas todos acabam querendo a mesma coisa: atenção.

Por fim, há momentos em que a velhice traz uma certa melancolia. A ideia de que o mundo que alguém conheceu está mudando rapidamente descortina o grande ponto de interrogação que cerca o futuro. O desconhecido é algo excitante para os jovens, mas extremamente desconfortável para os maduros. E essas incertezas acabam gerando uma certa melancolia.

Todos os que estão ficando velhos experimentam esses três estados de espírito ao longo da fase madura. Às vezes, apenas desses sentimentos. Em outras situações, uma combinação de dois ou três sensações. Cada um de nós tem a sua própria proporção e constrói um personagem único. Ainda assim, todos experimentam uma mesma situação: a falta de paciência dos mais novos.

Apesar da decadência física, os veteranos contam com a possibilidade de seguir aprendendo coisas novas ou estimulando o cérebro com novidades – e, convenhamos, nos últimos tempos exemplos de inovação é o que não falta para qualquer um de nós.

Mas, nesta semana, fiquei encafifado ao ouvir um médico que comentava no rádio o tombo sofrido pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva no banheiro, que provocou uma leve hemorragia no cérebro do mandatário. Este profissional da medicina disse que, com a idade, o cérebro diminui e pode flutuar mais agressivamente na caixa craniana.

Como assim? O cérebro diminui?

Já não basta perdemos alguns centímetros de altura, ver nossos músculos diminuírem e conferir que nossos olhos perdem a sua potência com o passar dos anos? O cérebro tem que diminuir também?

Meu Deus. Olha o velho ranzinza tomando conta de mim…

Vamos respirar fundo e deixar a rabugice para lá. Então, o cérebro encolhe? Será que ele fica mais concentrado e atento? O QI aumenta conforme as células ficam compactadas? Já me sinto melhor com esses questionamentos. Quer saber? O otimista deve viver mais que o ranzinza. Ou o carente. Ou o melancólico. Vamos virar esse jogo antes que alguém o vire por nós.

É como disse, certa vez, o ator Clint Eastwood, que tem 94 anos de idade. Ele afirmou o seguinte: “Meu segredo é o mesmo desde que fiz [o seriado] Rawhide, em 1959: ficar ocupado. Nunca deixo o velho entrar em casa”. É isso. Deixe esse velho fora de sua casa. Eastwood acaba de dirigir um filme (“Juror #2”) cujo lançamento mundial está previsto para hoje, dia 27 de outubro. Esta película conta com Kiefer Sutherland, J. K. Simmons e Toni Collette e tem tudo para ser um enorme sucesso. O grande Clint Eastwood. Aos 94 anos. Sempre sem deixar o velho entrar em casa.

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