Dia desses, conversava com amigos em um grupo de WhatsApp e a conversa tomou curso e direção a um reality show de negócios. Um dos membros mandou bala: “É um programa que incentiva a humilhação pública de empreendedores”. Vários colegas concordaram com a afirmação. Emendei: “Parece uma disputa para ver quem lacra mais nas humilhações e o casting provavelmente é feito com pessoas fracas para proporcionar esse tipo de reação por parte da comissão julgadora”.
Este, porém, não é único programa de negócios que detona seus participantes. Há pelo menos mais dois com essa pegada – um no formato concurso e outro que relata o dia a dia de uma empresa.
Naquele que é uma espécie de concurso, jovens são submetidos – por vontade própria, diga-se – a um cotidiano em que o fracasso proporciona mais interesse do que o sucesso. E as broncas do apresentador acabam se transformando na atração principal. Conheci dois dos âncoras desse programa. Durante o tempo em que eles estiveram no ar, ficaram mais pesados no trato com as pessoas – mas voltaram ao normal após o final da temporada.
Em relação ao reality que muitas vezes humilha empreendedores, a dinâmica é parecida. Temos ali gente que vai julgar o futuro de meros mortais. Isso pode mexer – e bastante – com a cabeça de quem está à frente da atração. E pode ocorrer o pior: a pessoa pode ficar refém do personagem televisivo, exercendo os mesmos cacoetes que desfila na telinha.
Lembro de uma conversa com um desses apresentadores, falando sobre política e das eleições que seriam realizadas daqui a um ano. Como ele tinha uma opinião completamente diferente da minha, decretou que eu estava errado. Retruquei que eu apenas analisava os fatos e não torcia para nenhum lado, ao contrário do meu interlocutor. No final das contas, o resultado do pleito ficou muito parecido com a minha previsão do que com a dele.
Esse tipo de comportamento, no entanto, é previsível. Quando somos responsáveis pelo destino de um grupo de indivíduos e isso depende somente de nossa escolha, é muito difícil segurar o ego. Não deveria ser assim, mas a natureza humana se deixa levar pela vaidade e gosta demais de uma bajulação.
Em outro tipo de reality, o cotidiano de uma empresa baseada na California é mostrado com minúcias – mas o foco está nas intrigas entre os participantes (a maioria de mulheres). A fofoca é constante e uma pessoa está sempre criticando a outra. O resultado é acridoce: de um lado, os barracos são deprimentes; de outro, são empolgantes, embora esteja na cara que muitas brigas são previamente combinadas.
A lógica dos realities é sempre a mesma: mostrar o lado ruim do ser humano, proporcionando uma catarse no telespectador. Nestes programas, a audiência tem a oportunidade de entender que sua vida até que não é tão ruim assim – e se aproxima muito mais da normalidade do que se pensava.
Ocorre que uma carreira executiva, seja no campo administrativo ou na área de vendas, é algo que precisa ser levado a sério. Por mais que existam fofocas nas empresas, o aspecto frívolo da vida corporativa não está em primeiro lugar. E, na vida dos empreendedores, é possível criticar com elegância e mostrar furos no raciocínio que quem deseja ter seu próprio negócio. Acompanhei algumas reuniões do grupo BR Angels, nas quais startups vendiam seu peixe para receber recursos do fundo criado para ajudar empreendedores iniciantes. Em todos esses encontros, houve – no meio de ideias boas – algumas apresentações que não ficavam em pé. Essas propostas fracas, porém, eram analisadas com respeito e sem lacrações.
Esse é o caminho: tratar empreendedores com carinho e consideração. É muito difícil viver sem patrão. A iniciativa de alguém que deseja empreender deveria ser elogiada e estimulada – mas jamais massacrada em público.