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Será que é machismo?

Na semana passada, a socióloga Maria Alice Setubal, mais conhecida como Neca, deu uma entrevista para a coluna da jornalista Mônica Bergamo, na Folha de S. Paulo, e disse o seguinte: “As editorias [jornalísticas] me colocam como ‘a herdeira’. Às vezes, não põem nem o meu nome [no título das reportagens]. Por ser mulher, eu apareço como herdeira. Mas os homens, não. Meu irmão, Jorge Luiz, que tem uma fundação, tem a filantropia, nunca foi herdeiro. Só eu que sou herdeira”.

Defender o direito das mulheres é algo importantíssimo e esperar da sociedade (ou do jornalismo) um tratamento igual entre os gêneros é algo imprescindível. Mas será que Neca Setúbal é vista como “herdeira” apenas por ser uma representante do sexo feminino?

Em primeiro lugar, ela é filha de um dos maiores banqueiros da história nacional, Olavo Setubal. E, com a morte do pai, recebeu seu quinhão, assim como os seis irmãos. Portanto, do ponto de vista técnico, sua fortuna veio de uma herança – o que faz dela uma herdeira.

Além disso, por suas atividades no campo da filantropia e da política (é amiga da ministra Marina Silva e próxima do presidente Luiz Inácio Lula da Silva), Neca é uma figura pública. E, por isso, imprensa e redes sociais falam muito mais dela do que de seu irmão José Luiz.

Quando fazemos uma busca com seu nome no Google, chegamos a 554.000 resultados. Se fizermos o mesmo com o nome de José Luiz, chegaremos a um índice bem mais modesto: 40.900 ocorrências. Mas há um detalhe. A fundação criada pelo médico da família Setubal com o seu nome domina a maioria das postagens registradas na ferramenta de busca.

Curiosamente, a primeira publicação a falar de Neca a define como “socióloga e banqueira”. Já a de José Luiz, de uma revista de negócios, diz o seguinte: “Quinto dos sete filhos do banqueiro Olavo Egydio Setubal (1923-2008), consolidador do Itaú, José Luiz é médico pediatra e herdeiro de uma cota relevante de ações no banco”.

Mas seu nome, de fato, aparece mais como alguém que recebeu uma herança enorme. Na última quarta-feira, por exemplo, ela foi pauta de um artigo no jornal Valor Econômico sobre a autobiografia que está lançando. O título da matéria também a definiu como “herdeira”. Mas isso seria mesmo uma demonstração de machismo por parte de repórteres e editores?

Talvez exista outra razão para esse fenômeno. Neca ganhou bastante notoriedade em 2014, quando integrou a equipe de campanha da então candidata Marina Silva, cujo ideário não é exatamente liberal. Isso intrigou muitos analistas políticos: o que fazia a filha de um banqueiro no núcleo duro de Marina? A partir daí, as ideias de Neca passaram a ser discutidas na imprensa e nas redes sociais. Em sua última entrevista, por exemplo, ela defende a taxação dos chamados super-ricos. “Eu sou a pessoa que está falando por justiça social e em, por exemplo, taxação de riqueza. A gente tem que ter um tributo progressivo, isso tem que ser encarado de frente. A filantropia é importante, a questão da pobreza é importante, mas isso não basta num país com as desigualdades que a gente tem”.

Quando uma grande acionista do maior banco do país diz isso, há curiosidade por parte dos jornalistas e do público. Por isso, usa-se o título de “herdeira” para chamar a atenção do leitor – e mostrar que uma pessoa muito rica pode levantar bandeiras típicas da Esquerda.

Isso poderia ser reduzido a uma simples manifestação de machismo? Não vejo dessa forma. E você?

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