Nesta semana, um dos personagens mais icônicos de todos os tempos completou 85 anos de idade: Superman apareceu pela primeira vez na capa da revista Action Comics em 1938 e, desde então, ganhou todos os meios de comunicação. Das revistas, foi para o rádio; do rádio para a televisão; da televisão para o cinema; do cinema para o vídeo; do vídeo para a internet.
Os poderes do super-herói eram, no início, explicados por sua origem alienígena. Ele vinha do planeta Krypton, iluminado por um sol vermelho e com uma pressão atmosférica muito mais forte que a da Terra. O sol amarelo de nosso mundo lhe dava uma força descomunal; já a pressão atmosférica diferente causava o poder de saltar enormes alturas (com o tempo, esse superpoder evoluiu e Kal-El, seu nome de batismo, passou a voar).
Se você já se perguntou por que este personagem usa uma espécie de cueca por fora do uniforme, a explicação é simples. Nos anos 1930, havia dois ícones de homens fortes. Os que faziam luta-livre e os halterofilistas que se exibiam em circos. O que eles tinham em comum? Uma fantasia com uma espécie de short em cima de uma vestimenta de malha, colada ao corpo. Os autores da DC Comics usaram esse estereótipo para desenhar a roupa do protagonista de suas histórias, acrescentando uma capa vermelha.
Mas o que torna Superman tão famoso e popular?
Meu palpite: é sua dupla personalidade. No cotidiano, ele leva a vida como um pacato repórter chamado Clark Kent, desajeitado e míope. Mas, por baixo dessa aparente normalidade está um homem poderosíssimo, com ideais nobres e disposição de sobra para salvar as pessoas. Superman, no fundo, realiza todos o desejo de todo homem – o de, em seu íntimo, ser um herói incontestável.
O truque da identidade secreta é repetido em outros personagens, como Batman, Capitão Marvel, Thor e Homem-Aranha. Nesses outros casos – em especial no do Homem-Aranha – a dupla personalidade acaba sendo uma fonte de conflitos e de problemas.
Meu Superman favorito é George Reeves, que via na TV quando criança. Essa série, aliás, começou a ser filmada em preto e branco ainda nos anos 1950. O problema é que imagem do uniforme original (azul, vermelho com detalhes em amarelo) nos aparelhos da época, ainda sem cor, ficou muito ruim. A solução foi trocar a roupa por uma cinza, marrom e branca. Depois, quando o seriado passou a ser gravado em cores, no entanto, a paleta original foi retomada.
Lembro de dois episódios fabulosos. Em um deles, Superman aprende a usar a mente e atravessar paredes sem quebrá-las (algo que nunca foi tentado nas revistas ou no cinema). Em outro, ele tenta resolver o roubo de uma estatueta de jade e precisa usar mais a mente do que os músculos.
Reeves, por sinal, era um personagem à parte. Ele morreu em 1959 e até hoje não se sabe se ele cometeu suicídio ou foi assassinado. Este mistério é retratado no filme “Hollywodland – Os Bastidores da Fama”, no qual Ben Affleck faz o papel do intérprete de Superman.
Ele quase foi vítima de seu alter ego. Certa vez, andando na rua, foi parado por um adolescente que portava um revólver. Ele queria ver se o Homem de Aço era mesmo à prova de balas. Reeves teve bastante sangue frio e o convenceu a não atirar, dizendo que as balas iriam ricochetear em seu peito e ferir as pessoas ao seu redor. O menino concordou com o argumento e guardou a arma.
Este episódio mostra a força do personagem, que é frequentemente confundido com a figura dos atores que o encarnam, de Christopher Reeve a Henry Cavill, de Dean Cain a Tom Welling. Cavill, por sinal, viveu uma situação que ilustra bem essa confusão entre realidade e ficção.
Seu sobrinho disse na escola que Superman era seu tio. A professora, então, o repreendeu, afirmando que ele não poderia mentir na sala de aula. No dia seguinte, a pedido da família, o ator foi levá-lo à escola – e os colegas do menino foram dizer à professora que o amigo não estava mentindo. Um gesto nobre e heroico de Cavill. Digno de Superman.