A secretária de imprensa da Casa Branca, Karoline Leavitt, anunciou nesta semana uma mudança na escolha dos jornalistas que cobrem diariamente a Casa Branca. Até a última terça-feira, havia um rodízio para escalar os 13 profissionais de imprensa que acompanhariam o dia do presidente, seja na sede do governo ou em viagens no Air Force One. Esse revezamento era estipulado pela Associação de Correspondentes da Casa Branca, que elege seus membros através do voto direto (os eleitores são todos os repórteres setoristas da presidência americana).
A partir desta semana, no entanto, o governo americano vai escolher pessoalmente quem serão os jornalistas (e seus veículos) que terão direito a fazer perguntas ao presidente Donald Trump.
As relações entre o governo Trump e a imprensa tradicional são complexas desde o mandato anterior do presidente. Mas a tensão subiu a um nível inédito desde a semana passada, quando um profissional da agência Associated Press teve seu acesso barrado a uma entrevista coletiva. O motivo? Alguns dias antes, a AP havia anunciado que não iria alterar o nome do Golfo do México para Golfo da América, contrariando a vontade de Trump.
O motivo oficial para essa mudança de parâmetros, segundo Leavitt, seria para abrir espaço para novos veículos. “A Associação de Correspondentes da Casa Branca não deveria ter um monopólio da decisão sobre quem tem acesso ao presidente diariamente”, afirmou. “Todos os veículos, jornalistas e vozes merecem um espaço nesses momentos tão requisitados. Empresas tradicionais que sempre estiveram aqui também vão poder participar, mas queremos acolher novas vozes”.
A intenção do governo – democratizar o acesso à Casa Branca – é ótima. Mas esse é o único motivo? Dado o temperamento do presidente Trump, talvez a razão seja outra: a de colocar veículos que o apoiam para dominar as entrevistas coletivas.
Quem acompanhou as recentes coletivas de Trump pôde ver um clima pesado entre o presidente e os jornalistas, com um tom de voz agressivo entre os dois lados. O presidente, inclusive, chegava a criticar nominalmente a capacidade profissional de alguns repórteres.
Diante disse, talvez seja preciso fazer um esclarecimento e uma sugestão à equipe de comunicólogos de Washington.
O esclarecimento: críticas também podem ser feitas a partir de perguntas simpáticas e benevolentes. Há vários jornalistas que usam esse expediente: agem de forma amigável e arrancam declarações que podem ser usadas de forma bombástica. Ou seja, controlar o nível de octanagem das perguntas não vai provocar necessariamente uma cobertura positiva.
A sugestão: o presidente Trump poderia criar um cercadinho na Casa Branca igual ao que Jair Bolsonaro montou no Palácio do Alvorada. Assim, manteria um canal direto com seu eleitor e provocaria os factoides desejados, sem brigar necessariamente com a imprensa tradicional (isso, no mundo virtual, já vem sendo feito através das redes sociais). Quanto ao rodízio, poderia incluir alguns jornalistas convidados na cobertura diária, sem invalidar as escolhas da Associação de Correspondentes . Isso poderia ser recebido com desconforto, mas não abriria espaço para acusações de manipulação de informação ou censura às eventuais críticas.
Trump precisa de alguém ao seu lado que entenda de comunicação e não seja um torcedor de carteirinha. Desta forma, ele poderia obter tudo o que deseja (ou quase tudo) sem causar grandes polêmicas. Mas, para isso, teria de ouvir este eventual “spin doctor”. Mas será que Trump ouviria a opinião de alguém?
Trata-se, evidentemente, de uma pergunta retórica.
Uma resposta
O roteiro é claro e óbvio. Estamos diante de mais um ditador, autoritário, totalitário, “travestido” de defensor da democracia, como, aliás, está bastante em voga. É evidente que, a continuar com esse modelo, Trump se dará mal. A diplomacia ainda é o melhor caminho se quisermos preservar tudo o que foi alcançado e consagrado, no “mundo civilizado “ até hoje. O uso da força, seja meramente verbal, seja via armas, invasões, ameaças, truculência, violência, não é, certamente, o melhor caminho. E Trump está conseguindo o inimaginável: brigar com todos os seus parceiros, seja o Canadá, seja a Europa…Sinceramente, eu me arrisco a dizer que, das duas uma: ou Trump muda sua estratégia agressiva/beligerante, ou ele chegará ao final deste seu mandato (se chegar) com mais problemas do que quando começou.