Danuza Leão foi uma das figuras mais celebradas do país entre os anos 1950 e 2022, quando faleceu. Atriz, escritora e socialite, ela era conhecida por todos, especialmente no Rio de Janeiro, onde morava. No início dos anos 1980 – quando seu nome era citado nas colunas sociais dia sim, outro também –, ela ligou para o escritório de um amigo, importante empresário carioca (esse episódio se passou antes da invenção dos telefones celulares), e disse que queria falar com ele. A secretária perguntou quem estava na linha. Ela respondeu: “Danuza Leão”. Como resposta, obteve outra pergunta: “De onde?”. Incrédula, Danuza retrucou: “Como?”. A mulher repetiu: “De onde?”. Danuza fulminou: “Da minha casa, ué!”.
Essa passagem mostra como a cultura do sobrenome corporativo está enraizada entre nós. Danuza ligara para um escritório. Para a secretária do amigo, a coisa mais natural do mundo seria perguntar qual era a empresa onde a autora de “Quase Tudo” trabalhava, mesmo que aquela fosse uma ligação de cunho particular.
Lembrei-me dessa história há poucos dias, quando recebi a mensagem de um amigo, CEO de uma empresa de tecnologia que havia deixado seu cargo há alguns meses. Ele me avisava que tinha se recolocado no mercado, muito entusiasmado com o novo desafio – em um contraste gigantesco em relação ao dia em que almoçamos e ele me contou que estava saindo de uma posição de comando na qual havia ficado durante anos.
Perder o sobrenome corporativo é algo dificílimo no mundo em que vivemos – e tem sido um dos maiores desafios para executivos há décadas.
Há uma mistura de sentimentos para aqueles que estão no topo da cadeia alimentar e perdem seus empregos. Em muitos casos, há alívio para encerrar uma história fadada a um final infeliz. Por outro lado, existe enorme constrangimento na hora de responder uma pergunta singela, feita por aqueles que não vemos há algum tempo: “O que você anda fazendo?”.
Nessas horas, a chance de nos sentirmos por baixo é enorme. A falta de um cartão de visita com um cargo importante mina a autoestima de qualquer um. Mas há outro tipo de situação difícil: quando nos recolocamos em um cargo não tão vistoso quanto o anterior.
Há muita gente que não respeita um profissional exatamente por sua estatura profissional refletida na pessoa física. Para esses indivíduos, o que importa mesmo é o cargo que está escrito na assinatura do e-mail. Isso ocorre também fora da carreira executiva. As posições de chefia no jornalismo também têm esse efeito em várias pessoas.
Quando estive em cargos de comando na grande imprensa, minha opinião era requisitada constantemente. No entanto, quando saí das redações para um período na publicidade e depois para abrir meu próprio negócio, percebi que minha opinião não valia tanto assim. Me senti como o ex-presidente George Bush, que disse em sua autobiografia nunca ter perdido um jogo de golfe enquanto esteve na Casa Branca – mas sofreu inúmeras derrotas depois que virou um ex-presidente.
Nessas horas, a chance de se experimentar algum tipo de ressentimento é enorme. Especialmente quando vemos que o blasé de hoje era o puxa-saco de ontem. Como se supera isso? Com estoicismo e foco no futuro. Para recorrer a um clichê (ou melhor, dois): nada como um dia após o outro, pois uma hora a maré vira.
Qual a lição que se pode tirar de uma situação como essas? Não guardar rancor. Vá em frente.
Uma resposta
Mais um ótimo texto com apropriada reflexão. Exatamente isso, caro Aluizio.
Vida que segue.
PLD.