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Um vigilante que encantou gerações

Mais um ícone da minha geração foi-se embora: o ator Carlos Miranda se mudou para o andar de cima. Ele encantou as crianças de minha geração – e também as da anterior – no papel do inspetor Carlos, na série “Vigilante Rodoviário”. Encarnou o personagem tão bem que, ao final das filmagens do seriado, foi convidado pela Polícia Rodoviária Federal para fazer parte de seus quadros. Da telinha para a vida real, ele se aposentou como tenente-coronel da PRF.

A série começou a ser gravada em 1959 e foi ao ar em 1961, pela extinta TV Tupi. Nesta época, quase se chamou “O Patrulheiro Rodoviário”. Mas, naquela época, havia um seriado americano de bangue-bangue, cujo título original era “Tales of the Texas Rangers”, que havia sido batizado pela emissora de Assis Chateaubriand como “Patrulheiros Toddy”. Os produtores, então, mudaram o título e o vigilante Carlos foi patrocinado pela Nestlé.

Nos anos 1970, a TV Globo passou a reprisar “O Vigilante Rodoviário”, encantando milhares de crianças – eu e todos os meus amigos incluídos. Há alguns anos, lançaram a coleção em formato DVD e consegui comprar uma caixa com todos os episódios.

Ao rever as tramas vividas por Carlos, percebi que os produtores escolhiam suas locações sem se preocupar exatamente com a geografia paulistana. Em um episódio, por exemplo, uma viatura da polícia está em disparada em São Paulo pela Avenida Brasil, em direção ao Ibirapuera. Segundos depois, chega ao estádio do Pacaembu, que fica na direção oposta. Em outra cena, Carlos está perseguindo uma dupla de bandidos a pé. Ele começa sua perseguição em um prédio que parece estar no centro da cidade. Logo depois, a cena é cortada para o exterior da Oca, obra de Oscar Niemeyer que está localizada no Parque Ibirapuera.

A equipe de produção gravou quase todas as cenas de estrada em torno do quilômetro 38 da Rodovia Anhanguera, pois o microclima da região garantia sol durante boa parte do ano. É possível, assim, reconhecer os mesmos trechos da autopista em vários episódios.

Carlos dirigia um Simca Chambord e, eventualmente, pilotava uma Harley-Davidson. Mas, em um episódio ou outro, usava veículos diferentes: um furgão Ford F-100 ou um Ford sedã, modelo 1952. Em 1964, foi ventilada a ideia de retomar as filmagens para utilizar um carro novo – o Brasinca Uirapuru, que foi produzido em versão perua para atender a frota da PRF. O projeto, no entanto, nunca saiu do papel.

Em todos os episódios, o vigilante está acompanhado de seu cão Lobo, que se chamava King, na vida real, e era um animal treinado, pertencente a um… policial rodoviário.

Carlos trouxe para a criançada a ideia de que poderia existir um herói brasileiro, com enredos nacionais e assuntos que tinham a ver com nossa realidade: em um dos episódios, por exemplo, é retratado o desvio de sacas de café especial, que deveria ser direcionado para a exportação e não para consumo interno, como queriam os bandidos.

“Vigilante Rodoviário” foi criado em uma época na qual o Brasil seguiu o sonho do presidente Juscelino Kubistchek, se expandindo através das estradas, que viraram verdadeiras artérias nacionais. Assim, o personagem Carlos, de um lado, ajudava a mostrar um retrato do Brasil que se modernizava – e, ao mesmo tempo, estimulava as crianças brasileiras a sonharem com suas aventuras. E desejarem ser heróis 100% brasileiros.

O Brasinca Uirapuru, que foi cogitado como substituto do Simca Chambord do vigilante Carlos

A versão do Uirapuru que seria utilizada no seriado

O Simca utilizado na série, com o cão Lobo

Carlos Miranda, Lobo e a Harley-Davidson

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