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Uma lembrança de quando os garotos queriam ser John Travolta

Escrevi esse texto em agosto de 2006, ao me recordar de um amigo. Neste semana, vi um post nas redes sociais que falava dele. Busquei esse texto em um blog antigo para republicar aqui:

Primeira pergunta: você já viu o programa ‘Dança dos Famosos’ do Faustão? Pois bem. Eu vi quase todos. Sigo as eliminações de Babi, Hortência e Preta Gil com a mesma fidelidade com a qual não perco um episódio de “Lost” ou “24 Horas”. Adoro ver as bailarinas ensinando aqueles marmanjos sem cintura a rebolar. E confesso: torci para o Stepan Nercessian. Motivo oficial: sou fã dele desde que assisti o filme ‘Marcelo Zona Sul’. (Mentira. O motivo verdadeiro é que me identifico demais com aquela pança!). Foi vendo o ‘Dança dos Famosos’ que me lembrei da época das discotecas, quando dançar era muito importante e acabei recordando um episódio no qual eu tive de ser professor de dança.

Segunda pergunta: Você já experimentou dar aula de dança para alguém? É uma das coisas mais irritantes da face da Terra. Cada pessoa tem seu próprio jeito de dançar – e passar isso para outro corpo é virtualmente impossível, a não ser que seja um passo de dança, daqueles universais, inventado justamente para ser copiado facilmente.

Bem, eu tinha quinze anos e um amigo meu, supertímido, tinha me pedido aulas de dança. Como eu disse, era uma época em que todos queriam dançar. O ídolo do cinema era John Travolta e a novela das oito era “Dancin’ Days”. Precisa descrever mais alguma coisa para vocês entenderem o cenário?

Mas o meu amigo não queria aprender só os passos. Queria também o pacote completo – ou seja, não só como dançar, mas também como se aproximar de uma garota, como paquerar, o que dizer… Enfim, um verdadeiro intensivão do acasalamento juvenil.

Na sala da minha casa, botei umas músicas no toca-discos (olha como essa história é velha) e ensinei algumas manhas. Dividi também dicas de como se aproximar das garotas. E ele foi embora feliz e contente.

Na primeira chance que teve para botar os conhecimentos recém-adquiridos na pista de dança, tudo estava indo bem. Ele mirou num alvo – uma loirinha de franja que, surpreendentemente, estava dando bola para ele – e foi à luta. Por alguns minutos, ele se sentiu numa espécie de disco-paraíso, embalado por “Heaven Must Be Missing An Angel”, do Tavares. Quando essa música acabou, o deejay tascou, ironicamente, Disco Inferno, dos Trammps.

Foi aí que a sorte dele mudou. Estava quente pra burro, como diz a letra dessa canção, e os óculos que ele usava começaram a embaçar. Não se dando por vencido, ele tirou os óculos e os enxugou – mal e porcamente, é verdade – na camisa de voil. Depois de quinze segundos, tudo embaçado de novo. Pensou: ‘vou tirar essa droga’. E colocou os óculos no bolso.

Sem enxergar um palmo à frente do nariz, continuou na pista. Perdeu a gatinha de vista – até que enxergou uma silhueta que parecia ser da menina. Foi dançando naquela direção. Depois de alguns minutos, um amigo lhe deu a má notícia: ele estava paquerando o pôster da Olívia Newton-John que fazia parte da decoração.

Desnecessário dizer que ele terminou a noite sem pegar ninguém.

Hoje, para meu total espanto, ele é um quarentão separado que azara as meninas nas pistas de dança em lugares cuja média de idade mal se aproxima aos 30 anos. Ele chega sozinho, escolhe alguns alvos e vai à caça. Quer saber de uma coisa? Seus óculos não embaçam.

Diante disso, só pude chegar a uma conclusão: talvez seja a timidez que faça a vista embaçar (com ou sem óculos).

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