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Uma palavrinha sobre “racismo ambiental”

A ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, postou há alguns dias nas redes sociais uma nota na qual falava em “racismo ambiental”. O termo, bastante discutido nesta semana, definiria a concentração de efeitos nefastos do aquecimento global em locais nos quais há uma grande população negra.

Bem, podemos dizer que existem efeitos extremos das mudanças climáticas que ocorrem em regiões habitadas por pessoas de menor poder aquisitivo – um perfil que pode inserir facilmente indivíduos pretos e pardos. Mas fenômenos climáticos são democráticos: atingem sistematicamente ricos e pobres, pretos e brancos, religiosos e ateus.

Pode-se argumentar que em locais com menor infraestrutura de água e esgoto as consequências de uma enchente ou um tornado serão mais graves. Isso é realmente possível. Mas a natureza atinge, muitas vezes, regiões que têm pouca concentração de negros. Vejamos o caso das cheias de novembro, que deixaram boa parte do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina embaixo d’água: entre os gaúchos, 16 % se autodeclaram negros; já no caso da população catarinense, são 15 %.

Dias atrás, uma tempestade provocou a queda de mais de 200 árvores em São Paulo, causando cortes de energia que duraram até quatro dias. Um dos bairros mais afetados foi a Vila Nova Conceição, a região do Brasil com a maior renda mensal por domicílio, segundo o Instituto Geofusion.

Racismo é um tema muito importante para ser tratado de forma tão leviana e demagógica.

Além disso, o Brasil não pode importar uma narrativa como a dos Estados Unidos, onde há um conflito explícito entre segmentos da sociedade e preconceitos escancarados. No Brasil, um país de miscigenados (45 % da população é formada por pardos), essa dinâmica é diferente: discriminações e intolerâncias ocorrem de forma sutil ou dissimulada.

Até por conta da alta miscigenação, muitos defendem a tese de que o preconceito no Brasil é muito mais socioeconômico do que racial. O.K., pode ser assim. Mas o fato é que a luta contra o racismo se faz em duas frentes: entre os atingidos pelo preconceito e aqueles que praticam a discriminação.

Não adianta apenas empoderar (para usar uma palavra desgastada) pretos e pardos. É preciso também conscientizar os brancos que carregam a hostilidade racial dentro de si. Há, evidentemente, os casos perdidos, de pessoas que vivem no passado e têm uma mentalidade distorcida e supremacista. Provavelmente esses exemplos não têm salvação. A boa notícia, no entanto, é que eles formam uma minoria.

Uma parte razoável do problema está na maioria da população branca, que carrega um preconceito reprimido e envergonhado, mas que surge quando menos se espera, seja na forma de uma piada de mau gosto ou de rejeições que não são explicadas por quem as realiza. É necessário, assim, trabalhar aqueles que são preconceituosos e nem percebem isso – e não turbinar um confronto racial que pode ser combatido com um esforço consistente de conscientização.

Ocorre que esse grupo de pessoas brancas com preconceitos disfarçados também rejeita uma narrativa de confronto. Por isso, é preciso enxergar novas soluções para reduzir (ou eliminar) essas discriminações, que por sinal diminuíram entre as novas gerações.

Enquanto tivermos uma ministra que usa termos como “racismo ambiental”, porém, não chegaremos a lugar nenhum nesta batalha contra a intolerância.

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