Desde que fiz a minha primeira viagem internacional, descobri que tinha sérios problemas para dormir durante o trajeto. Não importa se estou viajando em classe turística, executiva ou primeira. É óbvio que o conforto proporcionado pelas passagens mais caras ajuda bastante a passar as horas. Mas, sono que é bom? Umas duas horas, se tanto, e olhe lá.
No início dos anos 2000, viajava muito a trabalho – especialmente a Nova York – e criei um método que funcionava bastante bem. Naquela época, ainda corria provas de longa distância e conseguia programar os treinos mais pesados na manhã de meus voos.
Geralmente, embarcava nos sábados à noite. Então, acordava naqueles dias às 5 e meia da manhã e ia para a Cidade Universitária, em São Paulo. Corria de 14 a 18 quilômetros. À noite, estava destruído. Muitas vezes, nem esperava o jantar servido pela tribulação e dormia profundamente, acordando somente no aeroporto de destino. Em uma dessas ocasiões, capotei logo após a decolagem e só vim a acordar com o comandante anunciando no alto-falante os procedimentos de pouso.
Infelizmente, tive de colocar próteses nos dois quadris e deixei de correr há muito tempo. Por isso, esse método não funciona mais para mim. Assim, voltei à estaca zero: o jeito é assistir vários filmes durante a madrugada.
Hoje, os recursos tecnológicos são fabulosos: podemos escolher vários conteúdos na tela à nossa frente. Mas, quando comecei a fazer voos internacionais, não era assim. Havia uma tela no início da cabine e os filmes eram lá projetados. A primeira atração era alguma película que fazia sucesso na ocasião. As seguintes, porém, normalmente seriam produções antigas. Foi assim que eu vi, pela primeira vez, um filme sobre o qual já havia lido muito, mas nunca tinha visto: Casablanca.
Com o tempo, me ajustei ao jet lag e aos efeitos da privação do sono. Talvez seja a adrenalina que corre nas veias com as perspectivas abertas por uma viagem a trabalho. Talvez seja a excitação de estar em um local diferente.
Qualquer que seja a razão, porém, o fato é que estou aqui, de volta a São Paulo e pronto para encarar uma semana de trabalho que promete, incluindo um evento que MONEY REPORT na quarta-feira fará sobre empresas familiares – um dos principais motores da economia brasileira.