Confesso que não acompanho as gírias de hoje com a rapidez que gostaria. Mas, nessa semana, ouvi uma nova: palestrinha. É aquela pessoa que fala sobre tudo com enorme propriedade. No site Dicionário Informal, há uma definição mais ampla: “Pessoa que gosta de se colocar no centro das atenções com discursos longos sobre política, com muitos clichês e em contexto inconveniente”.
Dias desses, fomos almoçar em um restaurante de frutos do mar e sentamos ao lado de uma mesa grande, de dez pessoas. Apesar do quórum alto, só se ouvia a voz de um homem com cerca de cinquenta anos de idade. Os assuntos mudavam e o sujeito tinha opiniões sobre absolutamente qualquer tópico de discussão – de física quântica aos hábitos alimentares dos aborígenes australianos, passando pelas eleições no Brasil e os efeitos benéficos no consumo de Ômega-3. Era uma verdadeira sumidade em assuntos aleatórios.
Percebi, então, que eu sou um palestrinha em potencial. Ou melhor: será que eu já sou um palestrinha em funcionamento e nunca percebi?
Tenho uma das características necessárias para isso: um conhecimento geral amplo (muitos chamam de cultura inútil), que me permite navegar por vários temas em um grupo de amigos. Mas, felizmente, não sou daquelas pessoas que gosta de ser o centro das atenções e, na maioria dos casos, raramente me voluntario a dar opiniões (a não ser entre pessoas mais íntimas).
O palestrinha geralmente é uma pessoa chata – e ser chato, incomodar os outros com a minha presença, deve ser um dos poucos medos que enfrento na vida. A chatice, para mim, é tão repulsiva que deveria fazer parte da lista de pecados capitais.
Meu pai costuma dizer, ao descrever um chato, que a pessoa “fazia calor”. E quem o conhece sabe o quanto as temperaturas altas incomodam-no. Quando via alguém entediante e desagradável comentava: “Aquele ali é o próprio Senegal”.
Há chatos involuntários e chatos com a consciência de que incomodam. Os palestrinhas geralmente sabem, no fundo, que estão aperreando seus interlocutores, mas não param de falar, turbinados pela vaidade. É como naquela piada (baseada em história real vivida por um publicitário famoso): dois caras acabaram de se conhecer e um deles começa a falar de si. Emenda uma falação de uma hora seguida. Ao final, já sem fôlego, diz: “Bem, eu já falei muito de mim. Agora, fala você um pouco de mim”.
O grande desafio é: como refrear o desejo de dividir seu conhecimento? Como fazer isso sem chatear os demais? É simples: seja comedido. Deixe que os outros falem. Faça uma leitura da linguagem corporal da audiência e busque por expressões de impaciência. Não caia na tentação de falar demais.
Uma boa história – ou boa palestra – precisa de alguns detalhes saborosos. Mas não se pode exagerar nos pormenores. Alguns anos atrás, por exemplo, um conhecido me contou uma história que pode ser resumida assim: o aeroporto da Cidade do México ficou fechado por várias horas e ele se distraiu jogando pôquer com vários passageiros em uma sala VIP. Lá pelas tantas, apareceu um gringo que entra na roda e perde todo o seu dinheiro. Sem nenhum tostão, ele apostou o chapéu de cowboy, que também acabou perdendo. O nome deste jogador? John Wayne.
História fabulosa, não? Tente agora esticar essa narrativa por 30 minutos, incluindo personagens secundários e detalhes inúteis, para revelar apenas ao final que o oponente no jogo era o maior ator de western de todos os tempos (não foi o que o conhecido fez, por sinal). Ficaria chato, não? Esse é o problema do palestrinha. Ele se sente mais importante do que a história que conta.