Nessa semana, as redes sociais comentaram um encontro promovido pelo programa “Criança Esperança”: a performance conjunta das apresentadoras Xuxa, Angélica e Eliana. Ex-rivais na televisão, as três possuem várias características em comum. São loiras, conduziam programas infantis e tinham uma carreira paralela de cantoras. Não é à toa, portanto, que a imprensa soltasse, no passado, notas que reforçavam uma suposta inimizade entre o trio.
Recentemente, porém, elas vieram a público para dizer que sempre foram amigas apesar da concorrência profissional. E que essa apresentação no “Criança Esperança” seria uma forma de coroar essa ligação, além de bombardear as eventuais rivalidades femininas que existem por aí.
Ao assistir o show com as três loiras, fiquei pensando: isso seria possível no mundo corporativo?
É muito difícil separar a vida profissional da vida pessoal, especialmente para os empreendedores, que vivem e respiram o próprio negócio em regime non-stop. Diante disso, um empresário conseguiria desenvolver uma relação de amizade com quem concorre pelos mesmos clientes?
É plenamente possível ser civilizado com seus concorrentes – e até admirar (mesmo que secretamente) alguns deles. Mas, amizade é possível?
Sim, é possível. Já testemunhei isso em algumas ocasiões. Conheci dois empresários que (embora rivais) gostavam muito um do outro, conviviam muito socialmente – mas seus diretores comerciais estavam sempre às turras. Esses laços, curiosamente, se afrouxaram quando um deles vendeu a companhia e se mudou do Brasil.
Mas talvez esse caso seja a exceção que valide a regra. Normalmente, o que se vê por aí é o acompanhamento crítico daquilo que fazem os concorrentes, em um estado de eterna vigilância. “Só os paranoicos sobrevivem”, disse uma vez Andrew Grove, autor de vários livros e ex-CEO da Intel. Dentro dessa paranoia está a análise contínua da concorrência. Quando alguém faz isso consegue ser amigo de quem pode, potencialmente, diminuir seu faturamento?
Mas vamos dizer que existam dois seres humanos evoluidíssimos, daqueles que conseguem separar a vida particular da profissional – e que, apesar de oponentes, criam uma ligação de amizade. O que o pessoal da área de compliance iria dizer dessa relação? Iria estimulá-la ou bombardeá-la?
Em grandes multinacionais, esse tema acaba sendo um tabu. Um amigo que foi executivo da Pepsi durante anos nunca se permitiu abrir uma latinha de Coca-Cola neste período. Imagine arrumar um amigo na concorrência? Impossível.
A relação entre Coca e Pepsi é o exemplo extremo de concorrência acirrada. Cada movimento de uma empresa é analisado cuidadosamente pela outra. E reagir rapidamente aos movimentos da concorrência pode causar embaraços.
Tome-se como exemplo a grande arrancada que a Pepsi deu em meados dos anos 1980, quando conseguiu obter (por pouco tempo, é verdade) a liderança do mercado americano de refrigerantes, apostando em fortes ações de marketing para jovens, tendo Michael Jackson (a maior estrela musical da época) como garoto progaganda.
A resposta a tudo isso foi o lançamento da New Coke, um refrigerante que copiava o rival, mais adocicado e com menos gás. Foi um desastre completo. Mas, aos poucos, a Coca retomou a liderança e deixou a Pepsi para trás.
O executivo Roger Enrico, que entrevistei décadas atrás, foi quem derrotou a Coca-Cola. Ele acompanhava sempre o que os rivais faziam. Mas sempre se preocupava com os próximos passos dessa guerra mercadológica. Ele dizia: “Se todos estão envolvidos com a implantação de uma ideia, o verdadeiro líder deve estar trabalhando na próxima jogada”. Isso mostra que, com amizade ou não, acompanhar a concorrência é importante. Mas ser criativo e dar ao cliente aquilo que ele quer (e ainda não sabe) é imprescindível.