As redes sociais têm um poder interessante: dão destaque a assuntos que estão mortos e enterrados ou então despercebidos pelo grande público. É o caso de uma entrevista dada por Mark Zuckerberg, controlador da Meta, e publicada em 10 de janeiro. Nesta conversa de três horas com o podcaster Joe Rogan, muitos temas foram tratados. Mas, na semana que passou, os internautas passaram a discutir uma frase que, de fato, não caiu muito bem. Ele disse:
– Acho que a energia masculina é boa. E, obviamente, a sociedade tem bastante disso, mas acho que a cultura corporativa está realmente tentando se distanciar dela. Todas essas formas de energia são boas, e acho que ter uma cultura que celebra um pouco mais a agressividade tem seus próprios méritos, que são realmente positivos.
Bem, Zuckerberg foi cauteloso em suas colocações, mas o estrago já estava feito bem no início de seu raciocínio. Celebrar a energia masculina nos dias de hoje parece provocação às feministas e aos defensores de políticas de inclusão.
Não há nada demais em achar que o ambiente corporativo necessite de uma dose maior de agressividade. O problema é o contexto. Ainda sofremos o reflexo de décadas a fio com a tal masculinidade tóxica dando as cartas no ambiente de trabalho. Quando um importante empresário de tecnologia celebra a agressividade masculina acaba direta ou indiretamente endossando o lado ruim da força – e isso pode ser perigoso.
Além disso, todos os homens sabem o quanto uma mulher pode ser agressiva. O gênero feminino sabe ser hostil e belicoso. Pergunte a qualquer um. Mas aquilo que parece pegar bem entre homens não parece ser bacana quando vem de uma mulher. Assim, um discurso agressivo que provoca elogios quando proferido por homens recebe vaias quando uma mulher está na mesmíssima situação.
Diante de uma mulher agressiva, machistas acabam apelando para o chamado “gaslightining” – o ato de manipular alguém psicologicamente, distorcendo ou falsificando fatos ou informações em benefício próprio. Ou ainda a saída típica nessas situações: chamar a mulher de louca ou descontrolada.
O fato é que as empresas podem até perdido agressividade, mas isso não quer dizer que o machismo tenha desaparecido de suas entranhas. Ou que uma doçura feminina tenha tomado conta de suas estruturas. A agenda politicamente correta esteve em alta nos últimos tempos e acabou ditando regras de comportamento corporativo. Muitas delas exageradas, criando amarras desnecessárias nas relações entre colegas de trabalho.
A sociedade como um todo se tornou mais liberal nos últimos tempos. E o machismo foi varrido para debaixo do tapete, ficando escondido da maioria das pessoas. Temos de ter cuidado, agora, para não retroceder. As mulheres precisam manter suas conquistas de anos atrás e, de preferência, obter ainda mais espaço.
O caminho é íngreme e sinuoso. Mas não pode ser abandonado a essa altura do campeonato.