Criminosos lançaram rojões fogos para sinalizar que autoridades estavam na Terra Yanomami. Fiscais pedem recursos para uma ação contínua
Desencadeada ainda no mês de julho no Acre, a operação “Guardiões do Bioma” tem feito uma série de ações contra garimpos e desmatamentos ilegais em áreas públicas e privadas do estado. E um dos pontos identificados é que o garimpo em áreas protegidas tem ligação com facções criminosas que agem na Região Norte explorando ouro ilegalmente para contrabando ao custo de grande impacto ambiental, poluindo rios com mercúrio e ameaçando grupos indígenas isolados, que perdem recursos de caça e pesca.
“Hoje, ali na [terra] Yanomami, em Roraima, a gente pode dizer com certeza que existe uma relação estreita entre o garimpo e as facções criminosas ali dentro. Assim que a presença da polícia se fez lá no rio a gente observou que eles começaram a soltar fogos. Então, esse é um sinal de alerta que eles dão, típico de facção criminosa. Para poder avisar que existe ali a presença da polícia”, afirmou o analista ambiental e um dos fiscais do Ibama à frente da operação em Roraima, Hugo Loss.
Além do sinal sonoro, garimpeiros também se comunicam via redes sociais. Pelo celular, eles avisam aos comparsas sobre as fiscalizações da PF e Ibama, e mantém contato diário. A estrutura dos garimpos é tamanha que a polícia já encontrou acampamentos com TV a cabo, internet, energia elétrica, locais de prostituição e até mercados – tudo para suprir atividade ilegal.
“Vieram baixinho, rasteiro”, diz um garimpeiro em um grupo de WhatsApp. “É bom dar uma aquietada, hein. Circula essa informação porque vai queimar trem aí”, alerta outro, em áudios interceptados pela polícia.
Durante a operação, em Roraima, além de quatro retroescavadeiras, fiscais do Ibama destruíram dois aviões de pequeno porte (imagem) e um helicóptero usados pelos criminosos. Foram apreendidos combustível de aviação e armamentos.
Garimpeiros ilegais abriram uma estrada clandestina dentro da Terra Yanomami, a maior reserva indígena do país. A via tem 150 quilômetros de extensão e corta trechos da floresta Amazônica perto de onde vivem indígenas isolados e vulneráveis. A estrada foi aberta para a chegada das retroescavadeiras e demorou a ser detectada pelas autoridades ambientais
Necessidade de fiscalização
O fiscal Hugo Loss, considera que para impedir o avanço de garimpeiros ilegais na reserva é necessário que o governo federal implante fiscalização contínua — em vez de ações pontuais. “Tem que existir também uma ação permanente de fiscalização dentro da Terra Indígena. Com uma ação permanente para coibir todo o garimpo que está lá dentro e também toda a estrutura logística de fora, que dá apoio para o garimpo dentro da [terra] Yanomami”, frisa.
Frente ao enorme aparato e estrutura dos garimpeiros ilegais, o superintendente regional da PF em Roraima, delegado José Roberto Peres, acredita ser necessário o envolvimento de todos os poderes no combate aos crimes cometidos por eles na Terra Yanomami. “Precisamos de um apoio maior dos poderes legislativo e judiciário, no sentido de aplicar penas mais severas e duras contra todos os atores que estão destruindo a floresta Amazônica em busca dessa ganância, desse lucro fácil. Extraindo o ouro das raízes da floresta amazônica”, pontua.
A operação Guardiões do Bioma ainda está curso. Foram destruídas cinco aeronaves, mais de 2,5 mil litros de combustível, minérios, armas de fogo, munições e maquinários, bem como a infraestrutura de suporte às atividades ilegais.
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