Por Will Dunham
WASHINGTON (Reuters) – Cientistas usando um instrumento de radar em uma espaçonave em órbita descobriram o que disseram parecer ser um enorme lago coberto de sal sob gelo na planície polar sul de Marte, um corpo de água que afirmaram, nesta quarta-feira, ser um possível habitat para vida microbiana.
O reservatório que detectaram –com cerca de 20 quilômetros de diâmetro, com a forma de um triângulo arredondado e localizado a cerca de 1,5 quilômetros abaixo da superfície do gelo– representa o primeiro corpo estável de água líquida já encontrado em Marte.
A possibilidade de vida fora da Terra é uma das questões mais importantes da ciência em todos os tempos, e as novas descobertas oferecem evidências tentadoras, embora não sejam provas. A água é considerada um ingrediente fundamental para a vida.
Os pesquisadores disseram que pode levar anos para verificar se algo está realmente vivendo neste corpo de água que se assemelha a um lago subglacial na Terra, talvez com uma missão futura de perfuração através do gelo para testar a água.
“Esse é o lugar em Marte onde você tem algo que mais se assemelha a um habitat, um lugar onde poderia subsistir vida”, disse o cientista planetário Roberto Orosei, do Instituto Nacional de Astrofísica da Itália, que liderou a pesquisa publicada na revista Science.
“Esse tipo de ambiente não é exatamente o seu ideal de férias, ou um lugar onde os peixes poderiam nadar”, acrescentou Orosei. “Mas há organismos terrestres que podem sobreviver e prosperar, de fato, em ambientes semelhantes. Existem microorganismos na Terra que são capazes de sobreviver até mesmo no gelo”.
A detecção foi feita usando dados coletados entre maio de 2012 e dezembro de 2015 por um instrumento a bordo da espaçonave Mars Express, da Agência Espacial Europeia, que transmite pulsos de radar, que penetram na superfície marciana e nas calotas polares.
“Isso nos levou muitos anos de análise de dados e dificuldades para encontrar um bom método para garantir que o que estávamos observando fosse inequivocamente água líquida”, disse o coautor do estudo Enrico Flamini, cientista-chefe da Agência Espacial Italiana durante a pesquisa.
O perfil de radar do local encontrado lembra o dos lagos subglaciais sob lençóis de gelo da Antártida e da Groenlândia.
Muito tempo atrás Marte era mais quente e úmido, possuindo corpos significativos de água, como evidenciado por leitos de lago e vales fluviais secos em sua superfície. Já havia alguns sinais de água líquida atualmente em Marte, incluindo provas controversas de atividade de água em encostas de Marte, mas não corpos de água estáveis.
Orosei disse que a água no lago de Marte estava abaixo do ponto de congelamento normal, mas permaneceu líquida graças, em grande parte, aos altos níveis de sais. Orosei estimou a temperatura da água em algo entre menos 10 graus Celsius e menos 70 graus Celsius.
Resta saber se mais reservatórios subterrâneos de água serão encontrados ou se o recém-descoberto é uma espécie de peculiaridade, disse Orosei.
Caso outros sejam detectados e uma rede de lagos subglaciais exista como na Terra, disse, isso poderia indicar que a água líquida persistiu por milhões de anos ou mesmo datando de 3 a 2 bilhões de anos atrás, quando Marte era um planeta mais hospitaleiro.
A pergunta seria, acrescentou, se alguma forma de vida que poderia ter evoluído há muito tempo em Marte encontrou uma maneira de sobreviver até hoje.
“Ninguém se atreve a propor que poderia haver formas de vida mais complexas”, disse Orosei.