Por Alberto Alerigi
SÃO PAULO (Reuters) – Milhares de caminhoneiros autônomos do país podem cruzar os braços a partir da próxima segunda-feira, uma manifestação que cobra do governo reduzir a zero a carga tributária sobre o diesel e que pode contar com apoio de outras categorias que têm no combustível o principal custo.
A paralisação está marcada para começar às 6h de segunda-feira, afirmou o presidente da Associação Brasileira de Caminhoneiros (Abcam), José da Fonseca Lopes. A entidade reúne aproximadamente 600 mil dos cerca de 1 milhão de caminhoneiros do país, representados por uma série de sindicatos de trabalhadores do setor.
“Pedimos que todos os caminhoneiros deste país façam a paralisação em suas casas, ou em postos de abastecimento, sempre de forma pacífica e sem prejudicar o direito de ir e vir de outros condutores. Não apoiamos atos de violência, agressões, barricadas nas rodovias ou atos de depredação de patrimônio público”, afirmou a Abcam em comunicado.
Segundo Lopes, cerca de 200 pessoas espalhadas pelo país iniciaram nesta sexta-feira coordenação para a paralisação de segunda-feira por meio de mensagens trocadas pelo WhatsApp.
“Agora o objetivo é fazer o movimento. O governo, se for conversar, vai conversar com o movimento em andamento. Fizemos todo o possível para não chegarmos a este ponto”, disse Lopes. Os caminhoneiros cobram desde outubro um diálogo com o governo para redução a zero dos impostos que incidem sobre o diesel, combustível responsável por cerca de 42 por cento dos custos dos caminhoneiros autônomos.
Questionado nesta sexta-feira, o ministro de Minas e Energia, Moreira Franco, disse que o governo está sensibilizado com a alta dos preços e que está discutindo formas para uma redução de impostos.
Numa tentativa de evitar protestos, concessionárias de rodovias já estão tomando medidas. A CCR afirmou que conseguiu liminar contra manifestações na rodovia Presidente Dutra, que liga os Estados de São Paulo e Rio de Janeiro.
A decisão é válida para todos os 402 quilômetros de extensão da rodovia e determina que Polícia Rodoviária Federal e o Exército sejam informados de seu conteúdo.
Uma paralisação no transporte poderia afetar, entre outros setores, a indústria de soja, cuja colheita no Brasil terminou recentemente. Isso no momento em que o mercado internacional conta com o produto do país, maior exportador global. O movimento promete ser mais forte justamente no Centro-Oeste e no Sul, as principais regiões brasileiras produtoras de grãos.
Mais cedo, a Petrobras anunciou que vai subir os preços do diesel em 0,80 por cento e os da gasolina em 1,34 por cento nas refinarias a partir do sábado, elevando os valores dos combustíveis a novas máximas de 2,3488 reais o litro de diesel e 2,0680 reais o litro de gasolina.
REAJUSTES DIÁRIOS
Desde que a Petrobras implantou em julho passado um sistema de reajustes mais frequentes de preços dos combustíveis, para refletir cotações internacionais do petróleo e do câmbio, o diesel e a gasolina tiveram aumento de quase 50 por cento nas refinarias da empresa.
O setor de combustíveis, entretanto, afirma que boa parte do custo dos combustíveis na bomba se deve a impostos. No caso da gasolina, os tributos respondem por cerca de 50 por cento do valor nos postos.
A ameaça dos caminhoneiros acontece enquanto a federação de nacional de comércio de combustíveis (Fecombustíveis), que representa os donos de postos, apela por mudanças tributárias, afirmando que a política de preços da Petrobras está causando prejuízos ao setor. Segundo a comunicado da entidade nesta semana, uma alteração nos tributos amenizaria as perdas.
Além dos caminhoneiros autônomos, o protesto de segunda-feira está recebendo apoio de categorias, como transportadores escolares e taxistas de São Paulo e Nordeste, disse a entidade.
2015
A última vez que os caminhoneiros promoveram protestos em âmbito nacional foi no início de 2015, quando exigiram redução de custos com combustível, pedágios e tabelamento de fretes.
Os protestos duraram vários dias e paralisaram dezenas de rodovias em um movimento que afetou as exportações do país. Os caminhoneiros somente suspenderam o movimento quando o governo da então presidente Dilma Rousseff aprovou a chamada Lei do Caminhoneiro, que reduziu custos em rodovias com pedágios.
“Espero que não aconteça como em 2015… Bloqueio de rodovia e quebra-quebra não consegue nada. Desde 2015 não aconteceu nada (sobre redução de custo de combustível)… mas agora, da forma como estamos fazendo, vamos ter sucesso muito bom”, disse Lopes. “Pode não parar tudo, mas 60 a 70 por cento dos caminhoneiros vão parar”, estimou o presidente da Abcam mais cedo.
(Por Alberto Alerigi Jr.; com reportagem adicional de Rodrigo Viga Gaier)