Por Marcela Ayres
BRASÍLIA (Reuters) – O Banco Central desacelerou o passo e cortou a taxa básica de juros em 0,25 ponto percentual nesta quarta-feira, ao novo patamar recorde de 6,75 por cento ao ano, e sinalizou que o ciclo de afrouxamento na Selic deve acabar já no mês seguinte devido à melhor recuperação da atividade econômica no país.
“Para a próxima reunião (em março), caso o cenário básico evolua conforme esperado, o Comitê vê, neste momento, como mais adequada a interrupção do processo de flexibilização monetária”, informou o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC em comunicado.
Mas fez uma ponderação, como é de praxe.
“Essa visão para a próxima reunião pode se alterar e levar a uma flexibilização monetária moderada adicional, caso haja mudanças na evolução do cenário básico e do balanço de riscos”, acrescentou o BC em comunicado, no qual manteve a projeção de inflação de 2018 e 2019 a 4,2 por cento pelo IPCA, pelo cenário de mercado.
No documento, o BC passou a indicar que o conjunto dos indicadores de atividade mostra “recuperação consistente da economia brasileira”. Antes, o tom era mais cauteloso, com o BC classificando a recuperação como “gradual”.
Em pesquisa Reuters, 43 de 45 economistas consultados já previam que o BC cortasse a Selic nessa magnitude. Para março, próxima reunião do Copom, 30 dos 44 esperam manutenção da taxa de juros, enquanto o restante projeta mais um corte de 0,25 ponto.
“Havia dúvida era se deixariam claro o encerramento do ciclo ou não. Esse comunicado deixou claro que o plano A é de encerramento”, afirmou a economista do banco Santader, Tatiana Pinheiro, acrescentando que o BC deixou claro que vê cenários de inflação e atividade bastante benignos, “que tornam possível a manutenção da taxa neste patamar no ano inteiro”.
O BC voltou a dizer que “os próximos passos da política monetária continuarão dependendo da evolução da atividade econômica, do balanço de riscos, de possíveis reavaliações da estimativa da extensão do ciclo e das projeções e expectativas de inflação”.
Este foi 11º corte seguido na Selic no ciclo iniciado em outubro de 2016 e que já somou 7,5 pontos percentuais de redução diante do cenário de inflação fraca e retomada gradual da atividade econômica após dois anos de profunda recessão.
Mas a economia tem ganhado algum ímpeto neste ano, o que poderá fazê-la crescer ao ritmo mais rápido em cinco anos, pavimentando o caminho para o fim das tesouradas pelo BC.
Embora a inflação tenha terminado o ano passado abaixo do piso pela primeira vez desde a implementação do regime de metas, em 1999, a alta dos preços também voltou a ganhar força com o fim do período de meses de deflação dos alimentos.
Sobre o cenário externo, o BC manteve a avaliação de que ele é benéfico para economias emergentes, na medida em que a atividade econômica cresce globalmente.
“Isso tem contribuído até o momento para manter o apetite ao risco em relação a economias emergentes, apesar da volatilidade recente das condições financeiras nas economias avançadas”, informou.
Nesta semana, houve nervosismo nos mercados por conta dos temores de que o Federal Reserve, banco central norte-americano, poderá ser mais duro ao elevar a taxa de juros do país e atrair recursos aplicados hoje em outras praças financeiras, como a brasileira.
A reação foi de forte alta nos rendimentos dos títulos dos Estados Unidos e quedas acentuadas nas bolsas de valores.
“Uma coisa que eu acho que interessa e é importante é que ele (BC) ainda vê o cenário externo como favorável… apesar dessa volatilidade. A conjuntura macro está muito bem, obrigado”, afirmou o economista-chefe do banco Pine, Marco Caruso.
Neste comunicado, o BC manteve a avaliação de que as reformas e ajustes contribuem para a queda da taxa de juros estrutural no país. O governo não tem ainda apoio político suficiente para aprovar a reforma da Previdência, considerada essencial para colocar as contas públicas em ordem, no Congresso Nacional.
“Quanto aos eventos que poderiam alterar a atuação do BC, no sentido de promover um corte adicional de 0,25 ponto percentual, estaria a aprovação da reforma da Previdência, que até o momento não nos parece provável acontecer”, disse a economista da CM Research, em comunicado, Camila Abdelmalack.
(Reportagem adicional de Iuri Dantas, em São Paulo, e Bruno Federowski, em Brasília)