Por Camila Moreira
SÃO PAULO (Reuters) – A economia brasileira encolheu mais que o esperado em março, fechando o primeiro trimestre com contração de 0,13 por cento, reforçando a onda de piora no cenário de atividade do país para o ano ao corroborar a fraqueza neste início de ano em meio ao mercado de trabalho debilitado e à cena política que afetam a confiança.
O Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br), espécie de sinalizador do Produto Interno Bruto (PIB) divulgado nesta quarta-feira, recuou 0,74 por cento em março na comparação com fevereiro, segundo dado dessazonalizado.
O resultado foi bem pior do que a expectativa em pesquisa da Reuters com analistas, de queda de 0,10 por cento, e o cenário mostra ainda mais fraqueza após a revisão pelo BC do dado mensal de fevereiro pelo BC para recuo de 0,10 por cento, após divulgar expansão de 0,09 por cento.
Com isso, o indicador que incorpora projeções para a produção nos setores de serviços, indústria e agropecuária, bem como o impacto dos impostos sobre os produtos, interrompe série de quatro trimestres de expansão.
“A questão política travou talvez mais do que se esperava o consumo e o investimento no começo do ano. O que a gente mais ouve entre as empresas é que vai esperar para ver”, explicou o economista-chefe do banco ABC Brasil, Luis Otávio Leal, que já aplicou viés de baixa em sua projeção de crescimento de 0,3 por cento do PIB no primeiro trimestre.
Confirmado esse número, ele diz que as chances de crescimento do PIB acima de 2,5 por cento no ano são muito pequenas, e que sua projeção deve ir a perto de 2 por cento.
“Não há muita expectativa de que o cenário seja revertido logo porque essas incertezas vão com a gente até as eleições”, completou ele, destacando, entretanto, que um resultado eleitoral favorável pode liberar as contratações, investimentos e consumo represados agora, favorecendo o crescimento em 2019.
A poucos meses das eleições presidenciais de outubro, o quadro ainda é incerto. Investidores do mercado financeiro temem que um candidato que considerem menos comprometido com o ajuste fiscal desponte como favorito.
A mais recente pesquisa de intenção de voto, divulgada pela CNT/MDA nesta semana, mostrou que num cenário sem a presença do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) como candidato, Jair Bolsonaro (PSL) aparece com 18,3 por cento, à frente de Marina Silva (Rede), com 11,2 por cento, e com Ciro Gomes (PDT), em terceiro, com 9 por cento.
Em março, a produção industrial encolheu 0,1 por cento e terminou o primeiro trimestre estagnada, enquanto o setor de serviços apresentou nos três primeiros meses do ano contração de 0,9 por cento. Somente o varejo terminou o período com ganhos, de 0,7 por cento, mas ainda indicando oscilações.
Enquanto a inflação e os juros permanecem baixos, o desemprego ainda elevado contém o consumo e impede melhora econômica mais robusta num ano de eleição presidencial envolta por indefinições.
Esses cenários vêm afetando a confiança de forma generalizada no país, inclusive já neste segundo trimestre, movimento que levou analistas consultados pela Reuters a alertarem para novo possível período de fraqueza da atividade.
Economistas consultados na pesquisa Focus do BC vêm reduzindo a expectativa de crescimento do PIB este ano, agora a 2,51 por cento, sendo que no início do ano, estava em torno de 3 por cento.
JUROS
A ociosidade na economia deverá ser uma questão importante condução da política monetária, uma vez que seu prolongamento tem o potencial de afetar o tempo em que a taxa básica de juros poderá permanecer baixa, dado seu potencial desinflacionário.
Em rota de afrouxamento monetário que vem desde agosto de 2016, o BC deve reduzir a Selic à mínima histórica de 6,25 por cento nesta quarta-feira e dar uma pausa para avaliar os próximos passos, sendo que o mercado não vê mais nenhum movimento este ano.
“Se não houver nenhuma surpresa na corrida eleitoral, o quadro econômico de recuperação gradual pode levar o BC a não ter pressa para subir os juros”, avaliou o economista da consultoria LCA Antonio Madeira, vendo a probabiliade de elevação no final do primeiro trimestre de 2019.
Suas contas para o PIB, ainda em processo de revisão, devem ser reduzidas a crescimento de 0,5 por cento no primeiro trimestre sobre o quarto ante cerca de 1 por cento antes, rebaixando o cálculo para o ano de 3 por cento para algo entre 2,5 e 3 por cento.
Os dados oficiais do IBGE sobre o desempenho do PIB no trimestre passado serão divulgados em 30 de maio.
(Edição de Patrícia Duarte)