Por Marta Nogueira e Luciano Costa
RIO DE JANEIRO/SÃO PAULO (Reuters) – A renúncia de Pedro Parente à presidência da Petrobras nesta sexta-feira reavivou temores históricos do mercado sobre possíveis intervenções políticas danosas à companhia, trazendo incertezas sobre o futuro de uma das maiores empresas da América Latina.
O movimento ocorreu em meio a discussões e pressões sobre a política de preços da petroleira estatal, desencadeadas por uma grande paralisação de caminhoneiros contra a alta do diesel ter causado forte impacto na economia do país. [nL2N1T31D1]
Com este pano de fundo, o Conselho de Administração e a Presidência da República foram rápidos em concordar pela escolha do diretor-financeiro da empresa, Ivan Monteiro, como novo presidente-executivo da empresa.
Nome forte da gestão de Parente, Monteiro foi responsável por implementar as diretrizes financeiras do atual plano de negócios da companhia e deverá ajudar a acalmar o mercado, diante da nova crise enfrentada pela empresa, na avaliação de duas fontes da petroleira estatal, além de especialistas e executivos do mercado.
Ao nomear Monteiro como novo presidente-executivo da Petrobras, Temer afirmou que não haverá qualquer interferência do governo sobre a política de preços da estatal e que a escolha do executivo seria uma garantia de que o rumo da petroleira seguirá inalterado. [nL2N1T328D]
O diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE) Adriano Pires, um forte defensor da gestão de Parente, amplamente aplaudida por investidores do mercado financeiro, mostrou cautela.
“Tenho medo que se reinicie, mesmo que de maneira tímida, uma captura política da empresa”, disse Pires.
A liberdade para administrar a petroleira estatal com olhar empresarial, sem interferências políticas, foi uma prerrogativa de Parente para aceitar o cargo, dois anos atrás. Sua política de preços era como um alicerce de sua autonomia.
“O bode expiatório de toda esta confusão foi a política que ele (Parente) implantou; as pressões eram enormes em cima dele. O governo… enfraquecido politicamente num ano eleitoral deve ter pedido coisas a ele que como profissional ele sem dúvida nenhuma se recusava fazer”, disse o ex-conselheiro da Petrobras Roberto Castello Branco.
Apesar de Petrobras e governo defenderem que não houve interferência do governo na política de preços da estatal, Castello Branco, assim como outros analistas de mercado veem de forma contrária.
“Teve uma interferência grande do governo”, disse o ex-diretor da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) Helder Queiroz.
INCERTEZAS GERADAS
Edmar Almeida, pesquisador do Grupo de Economia da Energia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), classificou a saída de Parente como “um desastre para a empresa”, ponderando apenas que a escolha de Monteiro “foi a mais adequada para reduzir o estrago”.
“(Monteiro) representa uma esperança de manutenção do processo de recuperação econômica da empresa”, afirmou.
Para uma das fontes da empresa, Parente teria sofrido ataques políticos e que não viu como permanecer na companhia. Teria renunciado como forma de permitir a manutenção de sua estratégia à frente da empresa.
Segundo essa fonte, chegou a haver pressão da Brasília sobre a política de preços da Petrobras, mas até o momento a estatal conseguiu garantir que o governo bancará o custo das medidas para redução dos preços, como a mudança na frequência dos reajustes para o óleo diesel.
Em sua carta de demissão, divulgada nesta sexta-feira, Parente disse que não houve interferência governamental em seu período no comando da petroleira.
No documento, no entanto, Parente apontou que não queria ser “um empecilho” para a discussão de alternativas políticas pelo governo.
O programa federal de subvenção ao diesel, cujas regras foram publicadas nesta semana em decorrência da greve dos caminhoneiros, estabelece que governo pagará a Petrobras “em espécie” pelos custos com as mudanças nos reajustes para o combustível. [nL2N1T30F8]
Após a demissão de Parente, o governo informou que iniciou uma discussão sobre como criar um “mecanismo de proteção ao consumidor final” de combustíveis, mas de maneira que não impacte a política de preços da Petrobras e de outras empresas. [nL2N1T321W]
Enquanto isso, o governo busca defender uma imagem de continuidade para a Petrobras, que já havia conseguido reconquistar a confiança do mercado, antes de ser atingida em cheio com a greve dos caminhoneiros pela a maior crise de abastecimento de combustíveis desde pelo menos abertura do mercado de petróleo do Brasil em 1997.
(Reportagem adicional de Rodrigo Viga Gaier e Alexandra Alper, no Rio de Janeiro)