Por José Roberto Gomes
SÃO PAULO (Reuters) – Em meio à perspectiva de uma safra volumosa, a indústria de café solúvel do Brasil avalia ter potencial para recuperar mercado e elevar as exportações neste ano de volta ao patamar recorde de 2016, deixando para trás um 2017 marcado por embarques mais fracos após problemas domésticos com a oferta, disse à Reuters uma importante liderança do setor.
O Brasil é o maior exportador global de café solúvel, assim como de grãos verdes, mas secas em 2015 e 2016 derrubaram a safra de conilon do Espírito Santo, o principal produtor nacional da variedade mais usada na fabricação do produto.
Durante o momento mais agudo da crise de oferta, a indústria de solúvel chegou a defender a importação de café verde para calibrar a disponibilidade interna.
As compras externas acabaram não se concretizando, e o Brasil perdeu negócios para concorrentes na Ásia, justamente por não ter conseguido obter matéria-prima no mercado a preços adequados. Em 2016, as cotações do conilon atingiram recordes acima de 550 reais a saca, enquanto estão em torno de 320 reais atualmente.
Mas a recuperação esperada para a safra de café neste ano deixa o setor otimista novamente, destacou o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Café Solúvel (Abics), Pedro Guimarães.
“(As exportações) têm todo o potencial para voltar aos níveis de 2016. Não vai faltar café, principalmente conilon. Mesmo que a torrefação queira aumentar o conilon no blend (mistura), vai ter café para todo mundo. Não haverá concorrência com a torrefação”, afirmou ele à Reuters.
As exportações brasileiras de solúvel somaram 3,46 milhões de sacas em 2017, queda de 10,6 por cento ante o recorde de 3,87 milhões de 2016, encerrando um ciclo de aumento nos embarques registrado desde 2014, conforme dados do Cecafé.
O desempenho da indústria de solúvel em 2017 foi, inclusive, o mais fraco desde 2010, como já havia alertado a Abics em agosto do ano passado.
As vendas voltaram a cair em janeiro deste ano, com queda de 16,3 por cento, mas Guimarães explicou que se trata de um período sazonal de embarques menores, o que compromete qualquer comparação.
“A recuperação com mais vigor (nas exportações de solúvel) se dará após a chegada da safra, de maio em diante… O importador precisa ter segurança de que há oferta”, acrescentou Guimarães, também diretor na Companhia Cacique de Café Solúvel.
Pelos dados mais recentes da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), o Brasil poderá produzir um recorde de até 58,51 milhões de sacas, das quais 44,55 milhões de arábica e 13,96 milhões de conilon.
Os volumes, que representam alta de 30 por cento sobre 2017, refletem um ano de bienalidade positiva nos cafezais do país.
RECONQUISTA
O “potencial” de recuperação de mercado, contudo, não se dará sem grandes esforços, alertou o presidente da Abics.
Ainda no fim do ano passado, Guimarães havia dito à Reuters que levaria tempo para reconquistar importadores que haviam trocado o Brasil por outros exportadores.
“Não tem muito segredo. É pegar a mala, ir a feiras, olho no olho do comprador, sentir o que o importador quer”, comentou ele, acrescentando que não há um país ou região nas prioridades.
“Neste momento minha prioridade é o planeta Terra”, brincou.
Guimarães frisou não ver mais necessidade de importação de café verde pelo Brasil, dada a perspectiva de ampla oferta neste ano, mas que a entidade ainda apoia o livre comércio.
O presidente da Abics prevê também consumo estável de solúvel no mercado doméstico, mas crescimento neste ano de cerca de 3 por cento mundo afora, “principalmente no Sudeste Asiático”.