Por Marta Nogueira
BARCARENA, Pará (Reuters) – A norueguesa Norsk Hydro <NHY.OL>, dona da refinaria de alumina Alunorte, em Barcarena, não tem indicação de que seja responsável pela contaminação da água com resíduos do beneficiamento de bauxita e buscará uma análise independente, mas montou uma grande operação para cuidar da questão e garantir a saúde da população da cidade paraense, disse o presidente-executivo da companhia nesta segunda-feira.
Svein Richard Brandtzæg afirmou à Reuters que nomeou o seu “melhor” executivo, o diretor financeiro da Hydro, Eivind Kallevik, para responder também interinamente pela área de negócios de Bauxita & Alumina da empresa neste momento de crise, que resultou na paralisação de metade da maior refinaria de alumina do mundo, por decisão judicial, na semana passada.
Em entrevista após visitar no final de semana a refinaria e a região de Barcarena, a cerca de 100 km de Belém por rodovia, Brandtzæg declarou que o que o preocupa neste momento são as pessoas e o meio ambiente.
“Não temos indicação que nós causamos a contaminação ou de que danificamos o meio ambiente em Barcarena. Ainda, nossa principal preocupação agora é ajudar as pessoas com água e tratamento de saúde”, declarou o executivo, por telefone diretamente de Brasília, onde esteve nesta segunda-feira para conversar com autoridades.
Ele não elaborou sobre o que pode ter ocorrido, mas em nota à Reuters na semana passada a Hydro apontou investigações sobre uma quantidade limitada de água que vazou por uma tubulação antiga e desativada, que não teria ligação com o sistema de resíduos.
As informações sobre contaminação da água surgiram após chuvas fortes no mês passado, que teriam eventualmente colaborado para o transbordamento de resíduos de bauxita, matéria-prima da alumina, depois transformada em alumínio.
O Instituto Evandro Chagas (IEC), vinculado ao Ministério da Saúde, apontou contaminação da água da área. Uma nota do IEC citada pelo Ibama apontou “indícios de transbordamentos e lançamentos de efluentes não tratados” na região e “níveis elevados de alumínio e outras variáveis associadas aos efluentes gerados pela Hydro Alunorte”.
Mas o CEO da companhia norueguesa, dona de 92,1 por cento da Alunorte, afirmou que a companhia, contratará uma auditoria independente que dará um parecer sobre o que aconteceu na região. “Teremos as nossas conclusões quando tivermos uma visão completa…”, declarou ele, ressaltando que a companhia busca ser transparente, mas antes de qualquer ação é preciso saber o que ocorreu.
O órgão ambiental federal no Brasil (Ibama) multou a Alunorte em 20 milhões de reais, na semana passada, por realizar “atividade potencialmente poluidora sem licença válida da autoridade ambiental” e “por operar tubulação de drenagem também se licença”.
Em visita nesta segunda-feira à refinaria de alumina, a Reuters constatou mais de 20 caminhões e outras máquinas parados devido ao corte de produção que levou a empresa a declarar, na semana passada, força maior para não entregar o produto da unidade aos seus clientes.
O presidente da Hydro disse que não tem como falar ainda em quanto tempo a refinaria vai voltar a operar a pleno vapor ou o período que vai vigorar a força maior, ressaltando que no momento busca o diálogo com as autoridades.
“Queremos resolver a situação para restaurar a confiança na Hydro e na Alunorte.”
A Alunorte emprega cerca de 2 mil pessoas e tem uma capacidade nominal de produção anual de 6,3 milhões de toneladas ao ano.
Questionado se a empresa já recorreu da decisão judicial que suspendeu as operações de metade da unidade, ele disse que a companhia ainda não tem uma posição legal e que a empresa, por ora, busca dialogar com as autoridades.
Os principais clientes de alumina da Alunorte são fundições da própria Hydro em diversos países.
A Hydro se constituiu na maior empresa de alumínio da América do Sul depois de adquirir ativos da mineradora brasileira Vale <VALE3.SA>, no Estado do Pará, em 2011.