Por P.J. Huffstutter e Adriana Barrera
CHICAGO/CIDADE DO MÉXICO (Reuters) – Compradores mexicanos importaram dez vezes mais milho do Brasil no ano passado, em meio à preocupação de que as renegociações do Nafta possam prejudicar seus suprimentos provenientes dos EUA, de acordo com dados do governo e importantes comerciantes de grãos.
O México está a caminho de comprar mais milho brasileiro em 2018, o que prejudicaria um setor agrícola dos EUA que já tem lutado com preços baixos dos grãos e a crescente ameaça competitiva da América do Sul.
Os agricultores dos EUA, os processadores de alimentos e os comerciantes de grãos passaram meses tentando impedir que as relações comerciais fiquem prejudicadas, caso o Tratado de Livre Comércio da América do Norte (Nafta) termine.
Eles estão tentando proteger mais de 19 bilhões de dólares em vendas para compradores mexicanos, desde milho e soja até laticínios e aves poedeiras.
Apesar desses esforços, as remessas de milho da América do Sul para o México estão aumentando.
Os compradores mexicanos importaram um total de mais de 583 mil toneladas de milho brasileiro no ano passado –um salto de 970 por cento em relação a 2016, de acordo com dados do Serviço de Informações Agropecuárias e Pescas do México (SIAP). As compras ocorreram todas nos últimos quatro meses do ano passado.
O México tem sido o maior importador de milho dos Estados Unidos e é o segundo maior comprador de soja daquele país. Mas os compradores mexicanos estão trocando para o milho brasileiro para reduzir a dependência de décadas nos suprimentos dos EUA.
Preços mais baixos para o milho brasileiro proporcionaram algumas das vendas. Mas, em outros casos, os compradores mexicanos compraram o milho do Brasil mesmo quando mais caro, executivos e comerciantes dos EUA disseram à Reuters.
“Nós compramos do Brasil por dois motivos”, disse Edmundo Miranda, diretor comercial do Grupo Gramosa, um dos principais comerciantes de grãos do México. “Um, porque era competitivo. Dois, para ver quão prático e lucrativo era comprar do Brasil ou da Argentina, dada a possibilidade (de imposição) de tarifas comerciais devido às renegociações do Nafta.”
Gramosa e sua rival doméstica, a Comercializadora Portimex, não importaram nenhum milho brasileiro em 2016. Mas no ano passado elas importaram cerca de 260 mil toneladas –cerca de 44 milhões de dólares a preços atuais– entre setembro e dezembro. Os acordos não haviam sido relatados anteriormente.
As exportações de milho dos Estados Unidos para o México também aumentaram, apesar do fluxo maior do Brasil, porque o México precisava de importações recordes em 2017 para compensar o impacto de uma seca na produção doméstica de milho.
O México aumentou as importações dos EUA em 6,6 por cento, de acordo com os dados do Departamento de Agricultura dos EUA (USDA). O México compra muito mais milho dos Estados Unidos do que do Brasil, levando 14,7 milhões de toneladas em 2017, de acordo com os dados do governo dos EUA.
No entanto, o Brasil continua a ganhar participação de mercado dos EUA no México, e as compras mexicanas de milho brasileiro continuaram em janeiro, chegando a 100 mil toneladas, ante zero um ano antes, de acordo com o governo mexicano e fontes comerciais.
NEGOCIAÇÕES TENSAS
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, disse que vai eliminar o Nafta se sua administração não puder negociar termos comerciais com o México e o Canadá que são mais favoráveis aos Estados Unidos. A próxima rodada de negociações será no final deste mês.
O fim do Nafta, dizem grupos agrícolas e comerciais, provavelmente levaria ao aumento das tarifas no comércio de grãos, prejudicando um dos círculos eleitorais que levaram Trump ao poder. Durante sua campanha, Trump prometeu às comunidades agrícolas que a agricultura se beneficiaria de sua presidência.
A porta-voz da Casa Branca, Lindsay Walters, disse que a administração de Trump visa aumentar o acesso ao mercado para a agricultura dos EUA nas renegociações do Nafta.
Os EUA já estão em curso para perder sua posição como o principal exportador global de milho nos próximos anos. O Brasil está ganhando ao produzir suprimentos mais baratos que ajudam a compensar os maiores custos de frete para alguns destinos como o México.
Deterioradas relações comerciais dos EUA com o México –que compra quase um quarto das exportações de milho dos EUA– podem acelerar os ganhos para o Brasil.
Os importadores mexicanos que compraram do Brasil também encontraram frequentemente um produto de qualidade superior.
“Eu tenho o americano, eu tenho o brasileiro e o argentino, de quem comprei? O mais barato”, disse Alfredo Castillo, gerente de marketing da Portimex. “Se eles estiverem no mesmo preço, irei para o brasileiro.”
A equipe do Conselho dos Grãos dos EUA, um grupo de comércio da indústria, reuniu-se inúmeras vezes com compradores mexicanos e funcionários do governo para reforçar a importância do comércio de grãos entre os dois países, disseram autoridades do conselho.
(Por P.J. Huffstutter, em Chicago, e Adriana Barrera, na Cidade do México; reportagem adicional de Marcelo Teixeira, em São Paulo; Timothy Gardner, em Washington; e Caroline Stauffer e Karl Plume, em Chicago)