Por Gabriela Mello e Flavia Bohone
SÃO PAULO (Reuters) – A greve dos caminhoneiros já compromete a reposição de produtos, especialmente perecíveis, nas prateleiras de lojas e supermercados do país, levando alguns grupos varejistas a adotar medidas preventivas para evitar uma crise mais aguda de desabastecimento, em meio a incertezas sobre quando o governo e a categoria chegarão a um acordo para resolver o impasse.
Motoristas autônomos iniciaram na segunda-feira um protesto nacional contra tributos que elevam o custo do diesel, bloqueando estradas e rodovias em 23 Estados e no Distrito Federal, movimento que na quarta-feira ganhou a adesão de transportadoras de cargas.
Não tardou para que a paralisação se refletisse nas cadeias de abastecimento, afetando a produção de alimentos e gerando longas filas em postos de combustíveis em todo o país.
“Combustível e alimentos são produtos que dependem de abastecimento diário. Vamos sentir mais o problema nos bens não duráveis… Vamos ver quanto dura (a greve), o impacto é maior quanto mais demorar”, disse à Reuters nesta quinta-feira o assessor econômico da FecomercioSP, Fábio Pina.
Pelo menos 13 Estados reportaram problemas de abastecimento em supermercados até agora, informou Associação Brasileira de Supermercados(Abras). “Por enquanto, ainda não temos estimativas de perdas e prejuízos”, disse a associação em nota à Reuters.
Segundo a Associação Paulista de Supermercados (Apas), itens perecíveis e de abastecimento diário, principalmente frutas, legumes e verduras, são os mais atingidos pela greve. “Carnes, leite e derivados, panificação congelada e industrializados que levam proteínas no processo de fabricação já estão com as entregas comprometidas por atrasos no reabastecimento”, disse.
Grupos supermercadistas se empenham para administrar os estoques e evitar uma crise de desabastecimento, com alguns já recorrendo a ações preventivas, como limitar a quantidade máxima de venda por comprador, acrescentou a Apas.
Procurado pela Reuters, o Grupo Pão de Açúcar (GPA) citou falta de itens de hortifrúti em unidades das bandeiras Extra, Assaí e Pão de Açúcar nesta quinta-feira devido à dificuldade de recebimento e expedição de produtos tanto nas centrais de distribuição quanto nas lojas.
“A partir de hoje, os estoques de carnes e aves também começam a ser impactados, o que poderá causar faltas pontuais em lojas Extra e Pão de Açúcar”, alertou a empresa, acrescentando que busca alternativas para atender o maior número de clientes. Entre elas, o GPA está identificando fornecedores locais para tentar mitigar o impacto da falta de abastecimento.
O Carrefour Brasil informou que também está em contato com fornecedores locais em caráter preventivo, embora o seu abastecimento siga “sem grandes problemas nas lojas por enquanto, em função dos volumes dos estoques”.
A unidade brasileira do Walmart não quis se manifestar, enquanto os grupos de comércio eletrônico B2W, Magazine Luiza e Mercado Livre não responderam ao pedido de comentário até o fechamento da reportagem.