WASHINGTON (Reuters) – As tarifas comerciais impostas pelo governo do presidente norte-americano, Donald Trump, vão reduzir levemente o crescimento dos Estados Unidos e elevar também ligeiramente a inflação no país, uma consequência menor para uma economia de 19 trilhões de dólares que está passando pela segunda fase mais longa de expansão econômica já registrada.
Nesta sexta-feira, Trump impôs tarifas sobre 50 bilhões de dólares em importações da China, uma decisão que veio após decidir pesadas sobretaxas sobre compras de aço e alumínio, que passaram a valer neste mês.
Consumidores e empresas norte-americanas incorporaram o custo das tarifas e a economia em crescimento adicionou mais empregos e reduziu o desemprego para níveis não vistos desde a década de 1960.
Os custos até agora têm sido administráveis e o secretário de Comércio dos EUA, Wilbur Ross, afirmou que a sobretaxa sobre os metais, por exemplo, vai adicionar algumas centenas de dólares ao custo de um automóvel.
A retaliação comercial da China até agora foi confinada principalmente ao setor agrícola, uma pequena parte da economia norte-americana.
Mas isso pode mudar se Trump seguir adotando mais medidas protecionistas, possivelmente disparando uma venda de ações que prejudicaria a confiança dos empresários e dos consumidores, disse Michael Gapen, economista-chefe do Barclays nos EUA.
Os riscos surgem em um momento em que o Federal Reserve tem levado os juros dos EUA para terreno positivo em termos reais pela primeira vez em uma década, uma medida que vai elevar o custo do crédito.
Trump já ameaçou anular o Tratado de Livre Comércio da América do Norte (Nafta) após um ano de negociações com Canadá e México, e ordenou uma avaliação sobre se os EUA deveriam impor tarifas sobre importações de veículos sob o argumento de que elas prejudicam a segurança econômica do país.
“Políticas contra o comércio, particularmente tarifas, atuam como um imposto para consumidores e empresas ao elevarem os custos. Ao criar incertezas, elas também pesam sobre o valor de ativos, o que pode pesar sobre o gasto das famílias e reduzir incentivos para investimento de empresas”, disse Gapen, do Barclays.
As medidas unilaterais de Trump vão muito além de ações tomadas pelos EUA na história. Antes de Trump, a maior medida comercial adotada pelo país foi imposta na década de 1980, quando Washington forçou o Japão a limitar suas exportações de veículos.
O principal negociador de Trump, Robert Lighthizer, foi fundamental para a medida, que ajudou a proteger as montadoras de veículos da competição japonesa, mas não sem um custo.
Segundo estimativa do centro de pesquisas PERC, o custo adicional ao preço de um carro para consumidores dos EUA subiu em 1.200 dólares por veículo. No geral, o prejuízo dos consumidores somaram 13 bilhões de dólares, afirmou o centro em relatório de 1999.
China, Europa, Canadá e México não se curvaram aos EUA da mesma forma que o Japão fez na década de 1980 e lançaram medidas retaliatórias.
Os aliados dos EUA se mostraram contrariados com a recusa de Washington em negociar exceções para as tarifas sobre importações de aço e alumínio e a questão foi discutida pelo G7 neste mês, em uma cúpula que deixou Trump isolado.
(Por David Chance)