Por Ana Mano
VERA, Mato Grosso (Reuters) – Produtores brasileiros que pretendem expandir a área plantada com soja na próxima temporada para atender ao forte apetite chinês terão de avaliar os custos crescentes da terra no país, disseram agricultores e analistas durante uma expedição de safra pelas lavouras de Mato Grosso.
Os produtores no Estado, o maior produtor nacional de grãos, podem preferir investir os lucros com colheitas recentes no aumento da produtividade das plantações existentes, disseram agricultores, citando, como exemplo, a compra de equipamentos melhores.
A área de soja plantada no Mato Grosso deve crescer 1,2 por cento na safra 2018/19, segundo a primeira estimativa do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea), divulgada na segunda-feira, para a safra que será semeada a partir de setembro.
Caso se confirme, a área plantada com soja no Estado iria para um recorde de 9,58 milhões de hectares, aumento de 13,5 por cento em cinco anos.
O crescimento ocorre na esteira da expectativas de que o Brasil superará os Estados Unidos neste ano como o maior produtor de soja pela primeira vez na história.
Mas o boom pode se enfraquecer em razão dos custos da terra.
“Gostaria de aumentar a área de soja, mas não com os preços atuais da terra”, disse o agricultor Elzo Pozzobon, na cidade de Vera (MT), por onde passou a expedição técnica Rally da Safra, organizado pela consultoria Agroconsult.
Ele disse que custa o equivalente a 15 sacas de soja para arrendar um hectare na área. Com o rendimento médio em Mato Grosso pairando em torno de 56 sacas por hectare, os produtores correm o risco de não cobrir os custos de produção, que ele estima em 45 sacas.
Rafael Gatto, que cultiva cerca de 800 hectares em Vera, disse que ficou sem espaço para cultivar mais soja, de modo que vai investir em um novo sistema de irrigação para plantar três safras por ano: soja, milho e feijão.
O vasto território do Brasil o torna um dos poucos grandes produtores de grãos onde as áreas agrícolas e a produção ainda podem crescer em escala, mas alguns agricultores estão indo para terras menos produtivas.
André Debastiani, sócio da Agroconsult, disse que os altos preços da soja estão incentivando os agricultores a plantar em terras degradadas, incluindo pastagens convertidas.
Mato Grosso tem entre 2 milhões e 4 milhões de hectares de pastagens disponíveis para plantio, de acordo com a Embrapa.
O agricultor Darlan Anese disse que pretende arrendar 1.200 hectares, expandindo sua área de soja em 46 por cento na próxima temporada, mas primeiro terá de negociar com cautela.
“Tudo é muito caro e os erros podem nos custar caro”, disse ele.