BRASÍLIA (Reuters) – O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou, em artigo publicado no jornal Correio Braziliense desta sexta, que tem o compromisso de revogar, se eleito, medidas tomadas pelo atual governo, como venda de ativos da Petrobras, a negociação entre Embraer e Boeing e a privatização da Eletrobras, por meio de referendo.
No texto, Lula afirma que o governo do presidente Michel Temer se comporta como “refúgio para ambições de outros países” e é uma “ameaça à soberania nacional”.
“Esse cenário dramático e perigoso é um dos fatores que me levaram a reapresentar meu nome à Presidência da República. Tenho a obrigação histórica, não importam as condições pessoais nas quais me encontro, de conduzir nosso país ao reencontro com a democracia e a soberania, com o claro compromisso de revogar –por meio de referendo popular– todas as medidas daninhas à nossa independência”, afirma o ex-presidente.
Em entrevista à Reuters, um dos coordenadores do programa de governo de Lula, o economista Márcio Pochmann já havia dito que um eventual governo do PT planeja “rever” as medidas adotadas pelo atual governo. Pochmann ainda classificou o acordo entre Boeing e Embraer como “inviável”.
Lula afirma, em seu artigo, que o grupo que chama de “bloco conservador” sabia que não teria condições de se eleger, depois de quatro derrotas seguidas, para implementar no país seu programa, e por isso derrubou a ex-presidente Dilma Rousseff e manipulou o sistema jurídico para criminalizar o PT.
“Para que a nação se ajoelhasse, a democracia tinha que ser marcada para morrer. O que temos hoje é um regime de exceção cada vez mais agressivo”, diz o ex-presidente no texto.
“Minha prisão e a perseguição da qual sou alvo fazem parte desse processo de submissão nacional. Não basta que eu esteja preso por crimes que jamais cometi. Querem também me excluir da disputa eleitoral e calar minha voz, tentando intimidar e silenciar o povo brasileiro enquanto seu patrimônio é espoliado a céu aberto.”
Lula está preso há pouco mais de 100 dias em Curitiba, depois de ter sido condenado por corrupção passiva e lavagem de dinheiro no caso do apartamento tríplex na praia do Guarujá (SP). No processo, o presidente é acusado de receber o apartamento e reformas nele em troca da facilidades dadas a empreiteiras.
Mesmo preso, Lula é mantido como pré-candidato do PT à Presidência e terá seu nome confirmado na convenção do partido, na próxima semana. A expectativa é que o registro da candidatura seja impugnado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) com base na Lei da Ficha Limpa, que impede candidatos que tenham sido condenados em segunda instância.
“Quero voltar a ser presidente para que o Brasil retome seu protagonismo no cenário mundial e o respeito dos povos de todo o planeta, retornando ao empenho de erguer uma nova ordem internacional que seja democrática e multipolar, alçada sobre o direito à autodeterminação e a paz entre as nações”, diz o ex-presidente no artigo, acrescentando que “combaterá até o último de seus dias” para derrotar os “entreguistas”.
(Reportagem de Lisandra Paraguassu)