Por Nandita Bose e Tatiana Bautzer
NOVA YORK/SÃO PAULO (Reuters) – O Walmart informou nesta segunda-feira que vendeu uma participação de 80 por cento nas operações no Brasil para a empresa de private equity Advent Internacional, deixando um negócio de fraco desempenho em seu terceiro maior acordo internacional desde abril.
A maior varejista do mundo vem buscando alavancar suas operações fora dos Estados Unidos, recuando em mercados de crescimento mais lento e investindo em lugares como China e Índia. O Brasil foi por uma década foco de expansão, mas a unidade perdeu força nos últimos anos com problemas operacionais combinados com os efeitos de uma forte recessão.
O Walmart não divulgou o valor da transação, mas disse que registraria um custo não caixa de cerca de 4,5 bilhões de dólares relacionado ao acordo no segundo trimestre. A varejista vai manter a fatia remanescente de 20 por cento no Walmart Brasil.
As ações do Walmart subiam mais de 2,5 por cento, com analistas dizendo que o acordo permite que a empresa volte as atenções para mercados mais promissores.
Duas pessoas envolvidas no acordo disseram que o custo é perto do valor da unidade brasileira nos registros do Walmart, o que significa que o valor do negócio é perto de zero. As fontes se recusaram a especificar o valor exato do acordo e uma delas afirmou que o valor final de passivos ainda não estava determinado.
O porta-voz do Walmart Randy Hargrove disse que a varejista não vai receber pagamento pela unidade, mas pode receber até 250 milhões de dólares da Advent com base no desempenho da unidade. O Walmart não divulga detalhes financeiros para o Brasil.
O Walmart está tentando alcançar os concorrentes que vão desde a supermercadista Aldi até a Amazon.com nos principais mercados internacionais. Os negócios internacionais de baixo desempenho do varejista representaram menos de um quarto da receita total de 500,3 bilhões de dólares no ano fiscal de 2018.
Em um esforço para ajustar seu desempenho internacional, o presidente-executivo do Walmart, Doug McMillon, indicou em janeiro a vice-presidente de operações Judith McKenna para coordenar a unidade internacional.
O Walmart recentemente vendeu uma fatia majoritária em seu negócio britânico ASDA para a J Sainsbury e pagou 16 bilhões de dólares por uma participação majoritária na empresa de comércio eletrônico da Índia Flipkart.
Steven Roorda, gestor de portfólio da Stonebridge Capital Advisors e que detém ações do Walmart, disse que a varejista vem sofrendo fora da América do Norte e que o presidente-executivo “McMillon (está) escolhendo mercados que ele pensa que pode ganhar escala e ganhar.”
A medida tem efeito positivo na classificação da empresa, uma vez que permite que o Walmart faça investimentos em lugares que têm potencial de longo prazo, disse o analista da Moody’s Charlie O’Shea.
O Walmart vinha buscando compradores para o seu negócio no Brasil e sondou investidores em potencial no ano passado, mas não recebeu interesse de varejistas concorrentes, de acordo com uma fonte.
A Reuters informou em janeiro que o Walmart estava oferecendo sua unidade no país para empresas de private equity como Advent e outras.
Em março, a Reuters informou que, no processo de due diligence, potenciais compradores estimaram que o Walmart deve até 3 bilhões de dólares em impostos a governos estaduais no Brasil, potencialmente somando-se à pressão por um desconto na venda.
O Walmart entrou no Brasil em 1995 e cresceu para se tornar o terceiro maior varejista do país após duas aquisições em 2004 e 2005 e um período de rápida expansão de lojas que foi paralisado em 2013.
Atualmente, a empresa opera 471 lojas no Brasil, segundo seu site local. A unidade brasileira da varejista reportou receitas de quase 30 bilhões de reais em 2016.
O Walmart reportou prejuízo operacional no Brasil por sete anos seguidos, após uma expansão agressiva de uma década deixar a empresa com locações fracas, operações ineficientes, problemas trabalhistas e preços não competitivos. (http://reut.rs/2DWNOtp)
Uma fonte com conhecimento do assunto disse que as operações do Walmart no Brasil não melhoraram ao longo dos últimos dois anos, o que coincidiu com a pior recessão do país em décadas.
Como resultado da transação, o Walmart espera registrar uma perda líquida não caixa de cerca de 4,5 bilhões de dólares como um item especial no segundo trimestre.
ATACAREJO
Uma das fontes, que pediu anonimato porque os detalhes da transação não foram todos divulgados, disse que a Advent deve investir principalmente no negócio de atacarejo.
Esse formato ganhou popularidade durante a recente recessão no Brasil, com lojas agindo como atacadista, mas também atraindo consumidores em busca de barganha.
O acordo inclui um compromisso da Advent de investir no negócio nos próximos anos, disse a fonte, dando ao Walmart potencial impulso para sua fatia remanescente.
“Nós planejamos investir no negócio, trabalhar com o time de gerenciamento do Walmart Brasil… criar uma empresa mais ágil e moderna”, disse Patrice Etlin, sócio gestor da Advent International no Brasil, em comunicado.
A transação está sujeita a aprovação regulatória e a varejista espera concluir o negócio ainda este ano.
Uma parcela significativa do prejuízo líquido será devido a perdas com conversão cambial e o prejuízo final pode flutuar de forma significativa devido a mudanças em taxas de câmbio até a data de conclusão da operação, disse a empresa.
A empresa não espera impacto material no lucro por ação no atual ano fiscal e um impacto ligeiramente positivo no próximo ano fiscal.
(Reportagem adicional de Gram Slattery em São Paulo e Uday Sampath Kumar em Bengaluru)