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Exame: O segredo de sucesso da Gerdau

O ex-presidente de uma das maiores produtoras de aço do mundo compartilha seus desafios, valores e lições de carreira

De uma pequena fábrica de pregos em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, para uma das maiores produtoras de aço do mundo, a família Gerdau fez história no empreendedorismo brasileiro. Parte dessa história é contada no livro “A Busca”, escrito por Jorge Gerdau, bisneto de Johann Heinrich Kaspar Gerdau, alemão que imigrou para o Brasil e fundou a empresa siderúrgica em 1946 com a aquisição da usina Siderúrgica Riograndense.

O segredo que fez um relojoeiro europeu criar e sustentar uma siderurgia no Brasil por mais de seis décadas, percorreu gerações e chegou na gestão de Jorge Gerdau, advogado por formação que mergulhou nos negócios da família e presidiu por mais de 20 anos a companhia, acumulando lições e inquietações de liderança que ele compartilha à EXAME.

Raízes familiares e o início da jornada

Jorge Gerdau nasceu no Rio de Janeiro, mas cresceu imerso no negócio da família que se estabeleceu no Rio Grande do Sul. “Eu vim de uma época em que os pais encaminhavam os filhos sem perguntar se queríamos ou não. Éramos a quarta geração do negócio Gerdau”, conta. O bisneto do fundador da companhia começou na empresa na década de 50 e com 14 anos de idade já trabalhava e estudava simultaneamente. “Com cursos técnicos e com o contato direto com os funcionários no chão de fábrica, fui crescendo de forma gradativa na empresa”, conta o executivo.

O convite para Jorge assumir a presidência da Gerdau aconteceu em 1983, posição que ele ocupou por mais de 20 anos, liderando a expansão internacional da Gerdau.

Na prática, o sistema de gestão da Gerdau sempre foi pautado pelos quatro irmãos trabalhando em conjunto com dois profissionais, Carlos Petri e Luiz Pedó, mas naquele ano o pai de Jorge não participou. “Meu pai não quis interferir nessa decisão de me colocar como CEO e por isso passou a decisão para os irmãos”, afirma Jorge.

Depois de CEO, Jorge Gerdau chegou a ser presidente do Conselho da Gerdau entre 2007 e 2021levando os valores que ele aprendeu no seu primeiro dia de trabalho após uma trajetória de mais de sete décadas dedicadas à companhia.

Valores que não mudam 

Ao longo de sua trajetória, Jorge construiu uma visão de liderança que naquela época era considerada moderna, equilibrando responsabilidade econômica, social e ambiental – o famoso ESG que conhecemos hoje. “Esse tripé sempre orientou muito fortemente a Gerdau e consequentemente a minha forma de liderar”.

Na parte econômica, entre os momentos mais desafiadores da carreira de Jorge Gerdau foi a aquisição da Açominas, em Minas Gerais, e a entrada no mercado norte-americano. “Foram decisões complexas e arriscadas, mas essenciais para a consolidação da Gerdau. A usina de Ouro Branco, em Minas, hoje é uma das maiores do Brasil, e a expansão para os Estados Unidos nos tornou um grupo muito forte no continente americano,” afirma Jorge.

Além da questão social, Jorge Gerdau liderou iniciativas de impacto social, como o Movimento Brasil Competitivo (MBC), organização sem fins lucrativos criada em 2001 com o objetivo de promover a melhoria da gestão e da competitividade nas organizações, e projetos nas áreas de saúde, cultura e educação. “Sempre houve uma forte conexão entre nossa visão empresarial e a responsabilidade social. A prosperidade do Brasil passa pela educação básica. Sem boas fundações, não construímos uma casa sólida”, afirma Jorge.

No ambiental, a Gerdau é pioneira no uso de sucata metálica como matéria-prima para a produção de aço. Sob a liderança de Jorge Gerdau, a empresa consolidou um modelo de negócios baseado na economia circular, transformando sucata em produtos de alta qualidade.

O segredo do sucesso da família Gerdau

Para Jorge Gerdau a busca por excelência é um valor que transcende os negócios e deve estar presente em todas as iniciativas. “Essa inquietação de buscar a melhor solução sempre guiou minha carreira e a Gerdau,” afirma o ex-presidente.

Para alcançar a excelência e a inovação, a Gerdau precisou investir em um ponto muito importante e que guiam os líderes da companhia ainda hoje: a profissionalização e capacitação das equipes. 

“Tem uma frase que ouvi em Harvard que dizia que ‘business is people’. Ou seja, o sucesso de um negócio são as pessoas e passa pela capacitação e produtividade delas. Esse conceito continua sendo um ponto chave da filosofia da Gerdau”, afirma o ex-presidente da companhia.

Esse conceito de gestão, que foca nacapacitação das pessoas, Jorge aprendeu por meio das aulas de Vicente Falconi, professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) conhecido como o “guru da gestão no Brasil”. Foi Falconi que apresentou em 1980 os princípios do TQC (Total Quality Control), ou Controle da Qualidade Total ao Jorge Gerdau, que guiam a companhia ainda hoje.

Falconi desenvolveu sua metodologia de gestão com base nos modelos japoneses, aprendidos durante visitas ao Japão para estudar as práticas de qualidade implementadas em empresas como Toyota e outras indústrias líderes globais. A metodologia destaca práticas como uso de dados e indicadores, planejamento baseado em metas claras e a capacitação de pessoas. 

“Os japoneses copiaram essa tecnologia de gestão da equipe de guerra nos Estados Unidos e fizeram dela uma técnica diferenciada, que até hoje é motivo de muito sucesso em empresas internacionais”, diz Jorge.

A filosofia do TQC, resultou em maior controle sobre as operações e na redução de desperdícios da Gerdau. A companhia atingiu patamares de produtividade comparáveis aos das melhores siderúrgicas do mundo e criou uma mentalidade de busca constante por melhorias entre os funcionários, desde o chão de fábrica até a alta liderança.

“Percebemos que, para atingir os maiores patamares de produtividade do mundo, era fundamental educar nossas equipes. Sem educação, o negócio não anda”, afirma Jorge.

O poder do diálogo 

Aos 88 anos, o ex-presidente da Gerdau segue com sua paixão pelo hipismo e o surfe. Esses esportes, que se tornaram seus hobbies, trouxeram uma grande lição para o negócio e para a vida do executivo: o poder do diálogo.

“No surfe, cair faz parte e saber levantar também. Aprendemos a dialogar constantemente com o mar, entendendo os ventos e as ondas. E no hipismo, os melhores cavaleiros são aqueles que sabem dialogar com os cavalos”, diz Jorge.

A primeira prancha de Jorge foi de madeirite, um material mais pesado, e foi comprada no Rio de Janeiro, sua terra natal. “Procurava aprender as técnicas do esporte com os surfistas locais, porque assim como no surfe, o diálogo é fundamental para o sucesso de qualquer atividade”.

As palavras que guiam a carreira do bilionário do aço 

No livro “A Busca” lançado este ano, Jorge Gerdau cita 23 palavras que resume seus aprendizados na vida pessoal e profissional. “Elas são a base de tudo o que fiz e vivi”. Entre as palavras que causaram maior impacto, ele destaca 3:

Respeito

A primeira palavra que Jorge cita em sua lista foi respeito: “Trabalhar sem respeito nada anda, e foi algo cultural na companhia e na família, porque lembro que o meu pai respeitava todos os funcionários, da portaria até o principal engenheiro,” diz o ex-presidente.

Excelência

Apesar de décadas de trabalho, Jorge Gerdau permanece inquieto por mais soluções e conquistas. “Minha maior busca sempre foi pela excelência,” afirma.

Para os novos líderes, ele traz um conselho. “O sucesso está no domínio total do core business, na atividade principal do negócio. É preciso buscar conhecimento e se capacitar plenamente. O foco e a excelência técnica são indispensáveis para se destacar em padrões nacionais e internacionais.”

Amor

“Se não houver dedicação e envolvimento emocional no que fazemos, não fazemos o máximo”, afirma Jorge, que fecha a lista com a palavra amor. “É o que dá dimensão para as nossas atitudes. Sem amor, não se chega lá. É a chave de ouro para todas as palavras que definem a minha carreira.

As 23 palavras que guiam a carreira de Jorge Gerdau estão na autobiografia “A Busca”, escrito por Jorge Gerdau e publicado este ano pela editora Citadel.

Atualmente, Jorge Gerdau vive com a sua esposa no Sul e tentar manter uma rotina saudável, praticando exercícios diários das 7h às 8h da manhã. O hipismo continua sendo o principal hobby, mas agora mais limitado à criação e competitividade dos cavalos. “Trabalho para não ter tempo de envelhecer. Quero ser lembrado como alguém que buscou ser útil e contribuir para a construção de soluções, seja nos negócios ou na sociedade”, afirma Jorge Gerdau.

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Por Layane Serrano

Link original: https://exame.com/carreira/o-segredo-de-sucesso-da-gerdau-segundo-jorge-gerdau/

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