Hoje, a ginasta Rebeca Andrade (foto) disputou a primeira de suas três finais nas Olimpíadas e levou a medalha de prata, apesar de dois erros na execução de seu solo. Rebeca é uma vencedora. Afinal, ela possui uma das principais características daqueles que conseguem se realizar em suas carreiras – a perseverança.
A ginasta brasileira enfrentou todo o tipo de adversidades. Dificuldades financeiras, para começar. Teve ainda de encarar o desafio de sair ainda criança de casa, em Guarulhos, para morar e treinar em Curitiba. E, ainda por cima, enfrentar e superar três operações nos joelhos. Detalhe: ela tem apenas 22 anos.
Perseverança é um ingrediente vital para quem busca o reconhecimento – de empreendedores a artistas, de executivos a atletas. Esse caminho, que nem sempre tem a ver com o sucesso monetário, é sempre sinuoso, esburacado e íngreme. São raríssimas aquelas pessoas que são aclamadas e não fizeram um esforço gigantesco para isso.
No mundo empresarial e artístico, há indivíduos perseverantes que, como Rebeca, conseguiram superar adversidades e se transformam em exemplos inspiradores para todos nós.
O escritor Stephen King é um deles. Goste-se ou não de sua obra, King é um dos autores mais prolíficos de todos os tempos. São mais de 400 milhões de livros vendidos no mundo todo, incluindo várias obras que se transformaram em filmes de sucesso (“Carrie, a Estranha”, “O Iluminado”, “Christine”, “Cemitério Maldito”, “Conta Comigo”, “Um Sonho de Liberdade” e “It – A Coisa” são algumas delas). King publica tantos livros que existe uma teoria da conspiração sobre isso. Segundo essa tese, ele chefiaria uma equipe de escritores e publicaria essa infinidade de obras sob seu nome.
Ele veio de uma família pobre e casou-se muito cedo. Para se virar, tinha vários serviços braçais e, mesmo com pouco tempo sobrando, encontrou tempo para escrever o que viria a ser “Carrie, a Estranha”. Certa manhã, no início da década de 1970, frustrado e cansado, jogou seu texto no lixo e foi trabalhar. Ao voltar para casa, sua mulher estava com os originais na mão. Ela havia lido e adorado o manuscrito. King recebeu uma nova dose de ânimo e conseguiu vender “Carrie” para um editor local. Seus honorários iniciais: US$ 2 500. Alguns meses depois, livro passou a ser distribuído por uma editora nacional. King quase caiu para trás quando recebeu seu primeiro cheque de direitos autorais: US$ 200 000.
O diretor de cinema, Robert Zemeckis, também pode ser enquadrado na mesma categoria de Rebeca e de King. Antes de estourar com “De Volta Para o Futuro”, Zemeckis não conseguiu emplacar um só sucesso no cinema e ficou quatro anos na batalha por um estúdio que aceitasse rodar o roteiro do adolescente que vai ao passado e conhece seus pais. Sua sorte começou a virar quando conheceu Steven Spielberg, que lhe ajudou com duas produções cinematográficas – que, apesar da assinatura estrelada, foram iniciativas fracassadas. A saga de Marty McFly, no entanto, começou a se materializar quando ouviu sugestões de executivos da indústria do cinema e mudou a máquina do tempo, que era originalmente uma geladeira enferrujada, para um De Lorean (felizmente, Zemeckis recusou a orientação de um produtor executivo da Universal que ordenou a mudança de título para “Spaceman from Pluto”, sob a alegação de que filmes com a palavra “futuro” no epíteto não faziam sucesso).
Ainda no mundo do entretenimento, Walt Disney é um que continuou insistindo em seus projetos (o coelho Oswaldo e, depois, o legendário rato Mickey) mesmo quando todas as portas se fechavam à frente. Mas nada se compara à saga que enfrentou para conseguir os direitos de filmagem de Mary Poppins. A escritora P.L. Travers (pseudônimo de Helen Lyndon Goff) se recusava a deixar seu personagem mais conhecido a ganhar vida nas telas. Durante 16 anos, Disney viajou à Inglaterra para convencer Travers a mudar de ideia. Ela só foi impelida a ouvir sua proposta quando ficou sem dinheiro e não lhe restou opção. Mesmo assim, criou inúmeras confusões durante a produção – a começar por se recusar a deixar que o filme fosse um musical. “Ela não canta”, disse a Disney sobre sua personagem.
No final, tudo deu certo e o filme conquistou cinco Oscars, mas Travers não gostou do resultado final. Toda a saga entre a escritora e o criador da Disneyworld pode ser conferido no filme “Walt nos Bastidores de Mary Poppins”. Neste registro – embora ficcional – a obstinação de Disney, vivido por Tom Hanks, pode ser conferida.
Por fim, temos o autor da seguinte frase: “O que separa empreendedores de sucesso dos que não têm sucesso é a perseverança”. Quem disse isso? A resposta correta é Steve Jobs, o criador da Apple. Frustrações, ataques dos concorrentes, desafios tecnológicos aparentemente impossíveis – nada disso o detinha.
A biografia de Jobs, escrita por Walter Isaacson, mostra que, em algumas ocasiões, ele ficou deprimido com as dificuldades. Mas, geralmente, respondia às intempéries com um temperamento agressivo e inabalável.
Ao longo da minha carreira como jornalista, aprendi rapidamente a perseverar e a me manter em pé enquanto outros iam ficando pelo caminho. Mas recebi a primeira grande lição quando fui promovido a editor na revista Exame, com 25 anos. Tinha pouca experiência profissional e uma chefia muito exigente. Para piorar, o fechamento avançava nas madrugadas, o que tornava a jornada dos profissionais algo difícil.
Lembro que pensei após a primeira semana: “preciso aguentar um ano nessa posição. Se conseguir isso, eu posso pensar em voos mais altos”. Ultrapassei essa barreira de um ano e fui em frente. Compreendi que aguentar o tranco era uma parte importante da profissão e consegui desenvolver uma resistência mental aos problemas, algo que me ajuda até hoje. Mas de nada resolve a perseverança sem o desenvolvimento de um grande talento. E esse é um grande desafio.
Talentos são desenvolvidos apenas com treinamento e dedicação. Cada uma dos cinco exemplos citados aqui (Rebeca Andrade, Stephen King, Robert Zemeckis, Walt Disney e Steve Jobs) não são apenas duros na queda – são também pessoas que souberam investir em suas habilidades e refiná-las ao máximo.
Essa combinação é única e vencedora. E vale para qualquer vocação: humanas, exatas ou biológicas. Seja qual for a origem da pessoa, da mais humilde à mais abastada. Sem perseverança, não há talento suficiente para garantir o sucesso. Sem talento, toda a perseverança do mundo não levará a nenhum lugar.