Com o Ibovespa próximo do recorde histórico, a bolsa de valores deixou 2020 de alma lavada. Depois de um tombo de quase 50% no início da pandemia do novo coronavírus, o mercado brasileiro conseguiu anular as perdas nos meses finais do ano. A recuperação do principal indicador da bolsa é uma pista de que a volta do crescimento da economia, impulsionada pela chegada de vacinas contra o coronavírus, e o excesso de dinheiro no ambiente externo podem dar um gás adicional às ações de empresas brasileiras.
Mas existem incertezas de curto prazo e, por essa razão, a recuperação não deve ser linear nem ser sentida de forma equânime por todos os setores da bolsa. A alta no número de casos de covid-19 no mundo todo, o surgimento de novas mutações do vírus e as dificuldades para a distribuição das vacinas podem causar volatilidade no início do ano. Além disso, o Brasil ainda precisa conter o risco fiscal, um desafio estrutural que pode minar a retomada da economia.
“A insegurança acerca do respeito à regra (do teto de gastos) e a falta de um compromisso claro do governo com uma trajetória sustentável das contas públicas podem amplificar os problemas econômicos e barrar a recuperação da atividade no país”, observou em relatório Gabriel Casonato, analista de investimentos do BTG Pactual digital (do mesmo grupo que controla a EXAME).
Para saber quais papeis têm maior capacidade de superar os obstáculos, a EXAME Invest procurou algumas das principais corretoras de valores para saber como estão as recomendações para 2021. Veja abaixo:
Recomendações do BTG Pactual
B3 (B3SA3)
As ações da empresa que administra a bolsa de valores brasileira devem se beneficiar do próprio momento de euforia do mercado. Em relatório, o BTG lembrou do crescimento de investidores no mercado de renda variável e avaliou que o ambiente de juros deve continuar colaborando para a entrada de novas empresas e recursos na bolsa.
“O mercado de capitais brasileiro está crescendo, e nossas estimativas para os lucros de 2021 ainda são conservadoras. Reiteramos a B3 como nosso nome preferido para aproveitar a transformação que está acontecendo no mercado de capitais brasileiro”, diz Ricardo Cavalieri, analista de renda variável do BTG.
Vale (VALE3)
A mineradora se beneficiou da alta dos preços do minério de ferro em 2020 e deve continuar aproveitando essa maré favorável em 2021. Considerando essa realidade, as ações da Vale estão sendo negociadas abaixo do valor de concorrentes diretas, como a australiana Rio Tinto. Por outro lado, alguns riscos não podem ser ignorados, como o acordo a ser firmado com as autoridades para a indenização pelos danos causados pelo rompimento da barragem de Brumadinho (MG), no início de 2019.
“Muitos observadores considerariam um acordo com as autoridades um catalisador, já que todas as questões seriam resolvidas e, finalmente, a página seria virada”, observam os autores do relatório.
Magazine Luiza (MGLU3)
O ano foi difícil para a maioria dos setores da economia, mas parte do varejo conseguiu “fazer do limão uma limonada” com o incremento de vendas digitais. Apesar de o crescimento do e-commerce ter sido impulsionado pela pandemia, esse é um hábito que veio para ficar.
“O e-commerce continuará crescendo a uma taxa secular, devendo pelo menos triplicar até 2025, aumentando a penetração nas vendas totais do varejo. Como em mercados mais maduros, há uma tendência de consolidação pela frente, com poucos vencedores”, observa o BTG. De acordo com os analistas do banco, o Magalu é a empresa mais bem posicionada para se beneficiar desse movimento.
Petrobras (PETR4)
A indústria do petróleo passou por uma montanha russa em 2020. A pandemia diminuiu a demanda pela commodity, mas a perspectiva de recuperação global indica que os preços do barril podem voltar a subir. “Do ponto de vista macroeconômico, a reabertura das economias (ainda que gradual) e a remoção das restrições para deslocamentos e viagens trazem uma melhor perspectiva para o lado da demanda”, explica o banco em relatório.
Além disso, assim como a Vale, as ações da Petrobras estão sendo vendidas a um preço inferior às de empresas concorrentes, o que abre espaço para uma valorização em 2021.
Oi (OIBR3)
A empresa de telecomunicações, que pediu recuperação judicial em 2016, tem vendido ativos considerados não-essenciais para pagar sua elevada dívida. Em paralelo, a Oi decidiu se dedicar e investir na estrutura de fibra ótica, o que, segundo o BTG, foi uma decisão acertada. O leilão dos ativos de telefonia móvel, realizado no dia 14 de dezembro, levantou 16 bilhões de reais.
A expectativa é que a Oi continue aumentando a base de clientes em 2021 e que consiga “limpar” as dívidas do balanço. Sendo assim, os papéis da empresa ganham uma boa relação de risco-retorno, aponta o BTG.
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Recomendações da Easynvest
Itaú Unibanco (ITUB4)
Apesar da concorrência acirrada com as fintechs, o Itaú é visto como uma boa ação para 2021 em razão da recuperação do mercado de crédito e das possíveis condições favoráveis para empréstimos durante a retomada da economia.
B3 (B3SA3)
Além do crescimento do número de investidores, como pontuou o BTG, a Easynvest lembra que “a B3 é a única bolsa de valores, mercadorias e futuros que opera no Brasil e é a maior depositária de títulos de renda fixa na América Latina. Ela tende a surfar sozinha esta onda”.
Vale (VALE3)
A valorização do minério de ferro no mercado externo é também ressaltada pela corretora, que avalia, ainda, que “a vantagem competitiva da Vale está na qualidade, pois as rochas encontradas em Carajás são formadas por 67% de teor de minério de ferro, o mais alto do planeta”.
Eneva (ENEV3)
A empresa de energia “é a única no país que possui um complexo integrado de tratamento de gás e usinas de geração”, lembra a Easynvest. As ações da Eneva podem subir significativamente se a empresa adquirir o Polo de Urucu, hoje pertencente à Petrobras. Se a compra se concretizar, a empresa de energia dobrará de tamanho.
Multiplan (MULT3)
Os shoppings centers sofreram os efeitos do fechamento das lojas em boa parte da pandemia e devem ser um dos principais beneficiados pela possível “volta à normalidade”. Nesse contexto, a Easynvest diz que a Multiplan é a empresa mais bem posicionada do segmento por ter um portfólio variado e com presença nas principais regiões econômicas do país.
Recomendações do Modalmais
Itaú Unibanco (ITUB4)
Assim como a Easynvest, o banco digital modalmais classificou o Itaú como o banco mais bem posicionado para aproveitar a retomada da economia. “O Itaú possui forte posição de caixa, crescente recuperação de ROE (retorno sobre o patrimônio líquido) e uma razão preço para valor patrimonial muito abaixo do negociado, com grande potencial de valorização”.
Vale (VALE3)
O banco também apontou as ações da mineradora como uma das principais apostas para 2021. “A empresa apresenta alta eficiência operacional e é mundialmente uma das principais do setor de mineração”, diz o modalmais, em relatório.
EcoRodovias (ECOR3)
A volta gradual da circulação de pessoas traz perspectivas melhores para as empresas de pedágios no próximo ano. “A empresa possui excelentes projetos de infraestrutura avançando no país. Além de a alocação de capital estar sendo bem executada, a EcoRodovias possui baixa ciclicalidade em seus negócios”, dizem os analistas do modalmais.
Banco BTG Pactual (BPAC11)
As ações do BTG podem ter boa valorização em 2021, pois, segundo o modalmais, “o banco começou a expandir seus negócios conseguindo atrair os grandes escritórios de agentes autônomos, além de oferecer produtos e serviços em sua plataforma online. Segue como uma boa aposta para o ano de 2021 no setor de serviços financeiros por possuir boas margens operacionais e excelente governança corporativa”.
Cyrela (CYRE3)
A queda nos juros barateou os financiamentos imobiliários e deu um impulso ao setor de construção civil mesmo com a pandemia. “Uma das principais empresas do setor de construção civil, a Cyrela vem apresentando ao longo dos anos um crescimento constante, o que ajuda a valorizar seus ativos. Para quem pretende investir no setor, é uma excelente opção”, pontua o modalmais.
Movida (MOVI3)
A companhia pode se beneficiar da normalização da atividade econômica. “A perspectiva de uma melhora mais rápida do que o esperado na demanda por aluguel de carros e serviços de transporte para o ano de 2021, combinada com a estabilidade do fluxo de caixa e com múltiplos atrativos, torna a empresa uma boa aposta”, diz, em relatório, o banco.
Iguatemi (IGTA3)
A expectativa de distribuição da vacina contra o novo coronavírus tem feito os analistas olharem o segmento de shoppings com mais otimismo. A escolha do modalmais foi o grupo Iguatemi, em razão da “alta geração de caixa e taxa interna de retorno, além da capacidade de renegociação com clientes”.
JBS (JBSS3)
De acordo com o modalmais, as boas vendas dos frigoríficos em 2020 não foram acompanhadas pelo desempenho das ações de empresas do setor. “Existe uma boa perspectiva de os frigoríficos continuarem performando muito bem em 2021, devido à demanda internacional, em especial da China. No caso da JBS, a empresa apresentou crescimento forte nos seus lucros e possui bom retorno sobre capital investido, além do aumento de escala com acordos de exportação”.
Azul (AZUL4)
A escolha da empresa aérea é polêmica, mas foi justificada pela expectativa de retomada das viagens de avião e pelo desconto que as ações sofreram nos últimos meses. “A Azul está bem posicionada no cenário de recuperação de demanda e tem potencial para ganhar participação de mercado. Além disso, adoção de rígido controle de liquidez e de despesas nos fazem acreditar que os ativos da companhia podem se beneficiar do processo de retomada”, prevê o modalmais.
Por Bianca Alvarenga
Publicado originalmente em https://exame.com/invest/acoes-que-devem-subir-em-2021/