Até pouco tempo atrás, gestores de fundos de investimentos eram figuras reclusas, que só se comunicavam com o mercado pelas cartas aos cotistas. Hoje, vivemos uma nova era, que pode ser chamada de “era dos gestores marqueteiros”. Nomes como Henrique Bredda, do Alaska Asset, e Renoir Vieira, da Pacific Investimentos, dão a cara a tapa: falam sobre teses de investimento, divulgam a carteira e debatem com quem aparece, sem medo de polêmica. É uma tendência que traz transparência ao mercado, ajuda a popularizar a bolsa de valores e, mais importante, ajuda o investidor a se sentir seguro, ou não, em ser cotista dos fundos de determinado gestor.
Mas há um lado dessa transparência que merece atenção. Em vários momentos, esses gestores falam sobre suas “ações preferidas”, que, na visão deles, têm como qualidades o potencial de valorização ou resiliência aos choques de mercado. O investidor iniciante, com essa informação, pode ficar tentado em colocá-la no seu portfólio. Faz sentido copiar a estratégia do gestor e comprar a ação indicada por ele?
Várias dúvidas surgem nesse momento. A primeira é: dá para confiar na informação passada? Ao anunciar publicamente a predileção por uma empresa, o gestor não quer influenciar o mercado? Ou: faz sentido copiar a estratégia do gestor para uma determinada ação.
Para o educador financeiro André Bona, a resposta é não, não faz sentido comprar uma ação só porque ela foi indicada por uma “estrela do mercado”. Mas não porque o gestor esteja tentando manipular o mercado e “impulsionar” uma ação da qual ele já está comprado. O ponto é mais simples: gestores atuam com carteiras formadas por várias ações. Cada papel tem uma função: uma é mais agressiva, ou seja, outra mais defensiva; outra entrega bons dividendos; e uma terceira tem potencial de valorização – mas tem risco de queda. “Cada ação está inserida dentro da estratégia do fundo”, diz Bona. As ações de determinada empresa que ele elogiou publicamente só fazem sentido dentro de uma estratégia específica. Fazendo uma analogia simples: um time de futebol não tem somente atacantes nem é formado por 11 zagueiros. Cada um tem sua função. “Pegar apenas uma ação específica pode criar uma distorção”, diz Bona.