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Henrique Bredda, do Alaska Black: “O Brasil está menos incerto que o resto do mundo”

Henrique Bredda, gestor do fundo de investimentos Alaska Black, gosta de recorrer a dados históricos para acalmar investidores em tempos de crise. Segundo Bredda, a bolsa brasileira subiu 35 vezes em dólares na fase de bonança, de 1990 a 1997. No meio do caminho, de setembro de 1994 a março de 1995, caiu 60%. Ou seja: mesmo períodos de longo crescimento são interrompidos por quedas momentâneas e circunstanciais. Para Bredda, algo parecido pode estar ocorrendo agora. Na entrevista a seguir, ele explica por que continua otimista com o país.

O bull market corre algum risco de se esgotar em função das contingências atuais?

Quando se fala disso, se pensa muito em função do que chamamos de preço na tela, da ação negociada. A gente olha o preço como consequência do que acontece com as empresas. A qualquer tuíte mal-educado do Trump, as bolsas caem. Em prazos mais longos, de dois ou três anos, a bolsa acompanha a situação das empresas.

Mas o bull market acabou?

A final do bull market ocorre quando fica esgotada a capacidade de aumento de lucro, mas no Brasil as empresas estão longe disso. O aumento de lucro se esgota quando o desemprego está na mínima, em 4% ou 5%, os preços das commodities estão muito altos, como quando a Petrobras faturava com o barril a US$ 150 e a Vale com o minério a US$ 200 a tonelada. Só que, quando olhamos para o Brasil, temos empresas com capacidade ociosa e muito desemprego. Ou seja, se a capacidade de consumo está baixa para todo lado, o bull market não acabou de jeito nenhum.

Você afirmou que é preciso confiança no mercado. Qual seria o mix de papéis para investir em um momento tão instável?

É preciso combinar a ação com a empresa. Tem empresa que vale R$ 10 bilhões, mas na bolsa está valendo R$ 20 bilhões. Logo, não é seguro entrar nessa, pois está muito cara. Há empresas com resultados mais voláteis, sofrendo mais numa crise, dando a impressão de não serem muito seguras. Só que, se estiverem com um baita desconto, é mais seguro investir nelas. Normalmente as pessoas esquecem dessa combinação. Você pode estar com empresas muito seguras, como Ambev, Renner e B3, mas paga mais caro por isso. Em crises, as empresas que têm um comportamento mais resiliente ficam bem mais caras. Sob esse ponto de vista, não é tão seguro tê-las.

Qual é a sua avaliação do cenário atual?

O que ocorre hoje, diferente do “Joesley Day” e da greve dos caminhoneiros, é que tudo caiu muito igual, com 15% ou 20% a cada dia. Foi a mesma facada para todo mundo. Não houve empresa que ficou mais segura, resistindo muito acima da média. Assim, o que tento fazer é me expor mais um pouco em cima daquilo que caiu de forma um pouco mais exagerada. Antes do coronavírus, tentaram imputar que a guerra comercial entre Estados Unidos e China seria a responsável pela possível desaceleração da economia de alguns países. Só que essa disputa acabou relativamente bem conduzida pelos dois países. Talvez o Covid-19 seja o estopim, mas já se acreditava que uma crise viria, com ou sem vírus. O mundo, de forma geral, hoje está crescendo menos que em 2018, mas o Brasil está menos fragilizado.

Por quê?

Há pouco tínhamos o Temer, que foi um presidente fragilizado, a Reforma da Previdência não tinha passado ainda, não sabíamos quem iria ganhar a eleição e quem seria o ministro da Fazenda. Hoje em dia, arrisco dizer que o Brasil está menos incerto que o resto do mundo. Por isso, tenho um olhar mais otimista com as empresas do mercado doméstico, pois se encontram menos expostas diante das atividades externas. Entre as que se destacam e que devem se manter, dou como exemplo a Cogna Educação (que foi a Kroton Educacional) e Magazine Luiza. Ambas estão com dinâmicas muito próprias. A Magazine Luiza cresce firme no e-commerce.

A previsão das autoridades sanitárias é que a pandemia do coronavírus acabe em quatro meses. O mercado financeiro consegue reagir antes?

Claro que sim. Reparemos que a queda ocorreu bem antes do Covid. E quando ocorreu, não houve nenhuma empresa despencando do nível 120 mil pontos para os 70 mil pontos. Não houve uma redução de 40% no lucro líquido registrado. As empresas com as quais tenho conversado nem prejuízo apresentam. Se formos olhar a Vale, os embarques de minério para a China continuam, mas suas ações caíram 40%. O mercado está querendo antecipar resultados péssimos – o que eu não acredito. Caso isso ocorra, o mercado já caiu.

No cenário externo, com o preço do petróleo caindo por decisões políticas, é bom negócio apostar em empresas de energia?

É um terreno pantanoso, pois envolve fatores geopolíticos que não estão totalmente visíveis. O que se sabe é que os sauditas não vão afetar tanto assim os russos, que conseguem se manter com os preços baixos, pois estão com suas contas externas em ordem. Quem se prejudica de verdade é o “shale gas” (gás não convencional) dos Estados Unidos. Os árabes também perdem. E quem sai ganhando são os chineses. No longo prazo, o Brasil pode se prejudicar. Quem perde é a indústria do etanol e a do carro elétrico. Mas acho que o petróleo a US$ 30 o barril não veio para ficar. Nenhum produtor deve aguentar muito tempo esse patamar.

Onde investir quando o cenário se estabilizar?

Eis a grande questão. É melhor investir agora, com o cenário na bolsa aos 70 mil pontos? Ou depois, quando tudo estiver mais tranquilo e perto dos 120 mil pontos? O fato é que agora o investidor vai pagar menos. É ilusão acreditar que, quando estiver a 120 mil, o cenário ficará favorável e que agora está tudo ruim. O futuro é incerto. A única garantia é quanto se está pagando. Para o investidor que deseja se expor na renda variável, a boa hora é na crise. Quem não quer arriscar, que fique de fora. Quem está dentro e achava boa a alta, saiba que os mesmos ativos agora estão mais baratos.

E quem deseja entrar?

Quem está estudando como entrar precisa ter a consciência de que esperar por um período mais tranquilo implica pagar mais caro. Incerteza é barata, tranquilidade custa caro.

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