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O CEO Improvável: Oscar Niemeyer

Um comunista pode ser CEO? Em tese, não. Mas, quando se trata do arquiteto mais criativo e emblemático do Brasil, MONEY REPORT faz uma exceção. Oscar Niemeyer, assim, é o CEO Improvável da semana.

Pode-se criticar os políticos que circulam em Brasília ou o fato de que a distância da capital federal dos grandes centros a torna um local imune às pressões e anseios populares. Mas ninguém questiona a beleza arquitetônica dos prédios e monumentos locais.

Não fosse a obstinação de Niemeyer — e de seu parceiro, Lúcio Costa — o projeto jamais sairia do papel. O criador de Brasília era um gênio. Forjou estilo próprio, no qual as curvas ganhavam vida em qualquer construção, mas num desenho diferente dos projetos redondos que viraram moda nos anos 1940.

Carioca, conviveu desde a tenra infância com as belezas naturais do Rio de Janeiro. E é impossível não associar as curvas de suas obras ao formato do Pão de Açúcar e da Pedra da Gávea. A fluidez de seu traço criou obras primas, como a a Igreja da Pampulha, em Belo Horizonte, a Oca, no Parque do Ibirapuera, em São Paulo, e o Centro Cultural Internacional em Avilés, na Espanha.

A lista de curvas surpreendentes é quase que interminável. Pode-se destacar também o Museu de Arte Contemporânea de Niterói, no Rio, o edifício Copan, em São Paulo, e o prédio Niemeyer, na Praça da Liberdade, em Belo Horizonte.

Também surpreendeu no design econômico das linhas retas, como na Esplanada dos Ministérios, em Brasília, no edifício-sede da ONU, em Nova York (embora outros profissionais tenham colaborado no produto final) e no prédio da Bienal, no Ibirapuera.

Minha obra favorita? Infelizmente, não existe mais. Trata-se da fábrica de bolachas da finada Duchen, que ficava em Guarulhos, à beira da Via Dutra. Durante inúmeras viagens ao Rio de Janeiro e à Ilhabela, de carro, passava por este verdadeiro monumento arquitetônico e admirava seu design redondo e totalmente imprevisível.

Fábrica da Duchen, em projeto de 1949 Foto divulgação

A fábrica, no entanto, foi fechada e seu terreno adquirido por uma transportadora que quis demolir o prédio para instalar um estacionamento de caminhões. Foi iniciada, então uma disputa entre o proprietário e o Condephat. Quando o órgão quis colher a assinatura do autor do projeto, contudo, Niemeyer surpreendentemente preferiu não colocar seu nome do documento. A fábrica, assim, foi demolida e um tesouro arquitetônico destruído.

Tirando este deslize, tocou sua carreira de forma magistral, atraindo os olhares de todo o mundo e ocupando o panteão dos grandes profissionais da arquitetura, ao lado de nomes como Frank Lloyd Wright , Le Corbusier, Mies Van Der Rohe e Antoni Gaudi. Foi reverenciado por chefes de estado, bilionários e mecenas de inúmeras origens, que faziam vista grossa à predileção pelo comunismo e se rendiam ao puro talento que refletia em suas obras — assim como MONEY REPORT. Como explicar a originalidade de seu traço. O próprio Niemeyer responde: “O que me atrai é a curva livre e sensual, a curva que encontro nas montanhas do meu país, no curso sinuoso dos seus rios, nas ondas do mar, no corpo da mulher preferida. De curvas é feito todo o universo, o universo curvo de Einstein”, escreveu em suas memórias, publicadas em 1999 (ele morreria treze anos depois, com 104 anos de idade).

Num mundo cada vez mais reto e sem sutilezas, a sinuosidade de Oscar Niemeyer é um alívio. E uma esperança no talento que diferencia os gênios dos simples mortais.

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