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Por que mais brasileiros estão investindo na bolsa?

A bolsa brasileira vive um forte ciclo de alta. Após ter recuado cerca de 50% entre 2008 e 2016, quando chegou aos 37.046 pontos, em janeiro, o Ibovespa iniciou um movimento de recuperação, fechando os três anos seguintes (2016, 2017 e 2018) com valorização de quase 170%. O índice que reúne as ações das principais empresas listadas na B3 encerrou o ano passado com alta de 15,03%, e vem batendo recordes neste início de 2019 – a bolsa avança 11,35% no ano, aos 97.861 pontos.

O momento positivo está atraindo novos investidores entre pessoas físicas. No ano passado, houve um incremento de quase 200 mil investidores na modalidade de pessoa física, em um salto de 619.625 para 813.291 pessoas (crescimento de 31%), bem superior ao avanço de 10% em 2017.

Na opinião de especialistas ouvidos por MONEY REPORT, o aumento da procura se deve tanto a fatores conjunturais quanto estruturais. Por um lado, a retomada da economia brasileira após a recessão entre 2014 e 2016 ajudou a recuperar o caixa das empresas e a confiança dos investidores, que passaram a ter mais apetite por aplicações de risco. A queda na Selic, taxa de juros básica da economia brasileira, de 14,25% ao ano no fim de 2016 para 6,5% no começo de 2018, também serviu como incentivo, por diminuir os rendimentos dos títulos de renda fixa atrelados à taxa definida pelo Banco Central.

Além disso, o próprio boom gerou um ciclo virtuoso, com as notícias positivas sobre o desempenho do Ibovespa incentivando a entrada de novos investidores. “As pessoas querem ir para onde o bonde está andando”, analisa Victor Cândido, economista-chefe da corretora Guide Investimentos. “O fator mídia ajuda bastante. Com o índice na máxima histórica e a imprensa noticiando isso diariamente, o interesse aumenta.”

Pensando do ponto de vista estrutural, o analista Raphael Figueredo, da Eleven Financial, aponta três fatores para o aumento de pequenos investidores na bolsa a partir de 2016: a realização de novos IPOs (ofertas públicas de ações), o avanço da tecnologia e a proliferação de cursos e palestras on line sobre finanças pessoais. “Os IPOs são mecanismos importantes de atratividade, que dão as boas-vindas aos novos investidores; além de tornar o processo mais ágil, a tecnologia aumenta a sensação de segurança; o avanço de coachings e cursos ajuda a desmistificar e esclarecer alguns pontos para quem tem medo de entrar na B3”, afirma.

Figueredo também destaca que o atual momento demográfico do Brasil favorece o ingresso de novos investidores no mercado acionário. Na sua opinião, a geração que cresceu após 1994 – ano do Plano Real – e está começando a aplicar seu dinheiro tende a ter muito mais apetite pelo risco, por não ter vivido o fantasma da hiperinflação e os vários planos econômicos fracassados nos anos 80 e no começo da década de 90. “Quando a pessoa nasce e cresce com alguma estabilidade, esse receio começa a se perder.”

Futuro

Apesar de a quantidade de pessoas físicas na bolsa ter crescido expressivamente, os dois analistas concordam que o número de pequenos investidores está muito aquém do potencial do país, que tem 208,5 milhões de habitantes. Para essa base expandir de forma consistente, sem depender dos momentos de alta na economia, Figueredo defende uma atuação ativa da própria B3 e da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), responsável por regular o mercado de capitais no Brasil.

“Precisamos que os órgãos reguladores tragam incentivos para uma educação financeira constante”, considera. “Pensando no longo prazo, é importante que estes assuntos sejam discutidos nos colégios, para criar uma cultura e chegar daqui a 20, 30 anos em uma realidade próxima aos Estados Unidos, onde mais de metade da população investe em ações.”

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