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A deflação e o horror das TVs mais baratas

Ignore os especialistas. Quedas de preços empoderam os consumidores

Por quase um século, o estado e seus aliados doutrinaram gerações de jovens universitários a acreditar que preços caindo eram um problema para a sociedade.

O que parecia uma tarefa difícil, dado o absurdo da alegação, de fato acabou ganhando tração, de modo que esta conveniente mentira serviu para justificar décadas de roubo, com a transferência de poder de compra dos mais pobres para alta elite financeira e intelectual que propagaram está mentira. Sendo assim, é fácil ver seu apelo.

Como Upton Sinclar dizia, “É difícil conseguir que uma pessoa entenda algo, quando seu salário depende inteiramente de ela não entender aquilo”.

Para aqueles que regularmente acompanham este site, o presente artigo não traz nada de novo. Os fatos e conceitos que aqui serão apresentados são tão óbvios e autoevidentes, que seria de se imaginar que não precisariam de maiores explicações. E, no entanto, décadas de políticas públicas e doutrinação provam o contrário. Por isso, este artigo utilizará o exemplo concreto de televisores para mostrar que preços em queda não levam ao desastre. Ao contrário: preços em queda enriquecem a todos: tanto os consumidores quanto os produtores (ao menos, os mais eficientes). É o estado, mergulhado em dívidas, que teme a deflação.

Comecemos deixando que a CBS News apresente todo o cerne do argumento pró-inflação: 

Se você está pensando em comprar um carro novo e acredita que o preços serão menores daqui a 6 meses, por que não esperar? Assim, preços em queda postergam o consumo do presente para o futuro, já que os consumidores irão preferir esperar a queda de preços. E isso causará uma queda na demanda por carros, a qual irá deprimir ainda mais a economia, levando a mais quedas de preços, e a mais quedas nos gastos em consumo — gerando uma espiral descendente rumo à recessão.

“Por que não esperar?”, pergunta a CBS News. Bem, talvez porque você precise de um carro para chegar ao trabalho amanhã, e trocar toda a transmissão do seu carro atual custa mais do que seu carro vale. 

Mas podemos ir ainda mais adiante.

As pessoas deixariam de comer agora devido ao preço em queda dos alimentos? Você deixaria de almoçar hoje, e almoçaria apenas no próximo ano, já que o preço da comida estará mais barato?

As pessoas deixariam de andar de carro hoje porque o preço dos combustíveis estará menor no próximo ano?

As pessoas deixariam de utilizar microondas, aquecedor, ar-condicionado, fogão elétrico, geladeira e mesmo energia elétrica como um todo porque o preço da eletricidade será menor no próximo ano?

As pessoas deixariam de pagar escolas para seus filhos hoje porque o preço da mensalidade (e do lápis, do papel, do caderno, do apontador e afins) estará mais barato no próximo ano?

As pessoas deixariam de ter TV a cabo e demais serviços de streaming porque o preço será menor no próximo ano?

As pessoas deixariam de tomar banho hoje porque o preço do saneamento será menor no próximo ano?

As pessoas deixariam de comprar remédios hoje (caso fiquem doentes) porque o preço dos medicamentos estará mais barato no próximo ano?

As pessoas deixariam de contratar plano de saúde, seguro para o carro ou mesmo seguro para a casa porque os prêmios destes serviços estarão mais baratos no próximo ano?

As pessoas deixariam de contratar alguém para consertar um móvel quebrado, um computador pifado, um problema no encanamento ou uma diarista para fazer faxina hoje porque o preço da mão-de-obra estará mais barato no próximo ano?

As pessoas deixariam de viajar de ônibus, avião, trem ou navio hoje porque o preço das passagens estará mais barato no próximo ano?

As pessoas deixariam de comprar roupas hoje porque os preços delas estarão menores no próximo ano?

As pessoas deixariam de fazer absolutamente qualquer curso profissionalizante hoje apenas porque as mensalidades serão menores no próximo ano?

É difícil de imaginar pessoas normais se fazendo perguntas absurdas com essas. Mas, para realmente ganhar a discussão, temos que considerar artigos de luxo. Como aparelhos de televisão. 

Os preços só caíram, e o consumo só aumentou

Em um mundo de preços em queda, por que não esperar eternamente para se comprar uma TV? Para começar, se fosse assim, nós nunca teríamos uma TV. De maneira mais generalizada, os indivíduos efetuariam um cálculo econômico. Eles comparariam o benefício de se ter uma TV agora em relação à poupança que conseguiriam caso esperassem mais um ano. 

O gráfico abaixo mostra o índice do preço de TVs de 1950 a 2021 nos Estados Unidos. Durante esse período, o preço de uma TV caiu incríveis 99 porcento. Desde 2000, a queda de preços foi especialmente acentuada.

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Gráfico: evolução do índice nominal de preços de uma televisão média nos EUA. Fonte: Bureau of Labor Statistics

Em vez de causar uma espiral descendente nos gastos em consumo, o número de casas com TVs continuou a crescer cada vez mais, batendo recordes sucessivos.

Supresa zero para qualquer indivíduo com um mínimo de bom senso sobre economia.

Entretanto, a propaganda pró-inflação de fato contém algumas verdades. As melhores mentiras costumam ter. O consumo certamente seria maior em um regime inflacionário comparado a um deflacionário. Trata-se de uma reação natural: as pessoas irão tentar proteger seu patrimônio, antecipando-se à destruição dele. 

Olhe para qualquer caso de hiperinflação e você verá esse comportamento de forma extrema. Durante estes períodos, é racional sair comprando bens físicos o mais rapidamente possível, antes que seus preços disparem e se tornem maior do que a sua renda. A população — exatamente por já estar vivenciando uma subida rápida e diária dos preços — passa a esperar que os preços futuros irão subir a taxas ainda mais aceleradas. Se a inflação do mês passado foi de 100%, ela espera que a deste mês será de 150%. E a do mês seguinte, de 200%. E assim por diante.

Neste ponto, a demanda por dinheiro — ou seja, o desejo das pessoas de portar dinheiro — desaba. Ninguém quer manter consigo algo que amanhã já não terá nenhum poder de compra. Ato contínuo, as pessoas freneticamente tentam trocar todo e qualquer dinheiro por bens o mais rapidamente possível. Todos querem prontamente se livrar do dinheiro que recebem, trocando-o por produtos que ao menos tenham algum valor.

Ao mesmo tempo, praticamente ninguém aceita abrir mão de bens — principalmente alimentos e outros produtos essenciais — em troca de uma moeda sem poder de compra nenhum.

Ou seja, de um lado, as pessoas querem se livrar rapidamente do dinheiro em troca de bens. De outro, quem tem bens não quer receber esse dinheiro que não vale nada — a menos que cobre um enorme ágio por isso. Daí os preços sobem ainda mais.

Porém, quando as pessoas enfrentam apenas uma deflação “modesta”, o consumo também é estimulado, mas em um grau menor. No entanto, de nenhuma maneira essa relação implica uma espiral descendente mortal. Muito pelo contrário: um deflação modesta implica uma modesta propensão para se poupar em vez de consumir. Isso é algo que deveríamos estimular. Mas daí a imaginar que haverá um ciclo perpétuo de consumo zero é algo que encontra respaldo apenas no alarmismo de economistas keynesianos.

Em um mercado livre, os preços tendem a cair por causa dos ganhos em produtividade, consequência da acumulação de capital. Um trator, por exemplo, pode substituir o trabalho manual de vários homens, e a abundância resultante leva a menores preços

Nos últimos 70 anos, empreendedores desenvolveram métodos de uso intensivo de capital para produzir cada vez mais e melhores TVs por cada vez menos. Isso resultou em mais TVs compradas e uma maior qualidade de vida ao cidadão médio. Isso tudo apesar de milhares de teses de doutorado dizendo o contrário, no mesmo período.

Por que, então, a mentira? Dadas duas visões antagônicas do mundo, o estado e seus prosélitos sempre irão promover aquela que irá aumentar seu poder de confiscar riqueza de seus cidadãos. Vista desta forma, a escolha entre deflação e inflação fica muito simples. Enquanto a deflação concede poder ao cidadão ao permitir que suas modestas economias comprem mais bens ao longo do tempo, a inflação concede poder ao estado ao permitir que ele imprima mais dinheiro e reduza o tamanho de sua enorme dívida em termos reais. 

Não deveria ser surpresa que instituições mantidas pelo estado preguem as virtudes da inflação. Assim como também não deveria nos surpreender que os bancos e grandes empresas mais bem relacionadas ao estado, aqueles que estão mais “perto da torneira do dinheiro“, cantem louvores à inflação nos meios de comunicação por eles financiados

Não apenas eles são os primeiros a usufruírem o dinheiro recém-impresso, como também a inflação estimula o cidadão médio a comprar suas ações, seus fundos de investimento e suas debêntures para protegerem seu patrimônio. Tudo isso aumenta o preço destes ativos, o que enriquece seus líderes corporativos.

Para concluir

Não há nenhuma “grande conspiração” empurrando políticas inflacionárias. Se houvesse, poderíamos ir às suas raizes e destruí-la. 

O que existe, isto sim, é o comportamento que emerge de vários agentes do estado e adjacentes, cada um buscando maximizar seu poder, riqueza e prestígio. 

A única maneira de postergar a inexorável perda de valor do dinheiro — e, consequentemente, da civilização — é tornar as pessoas cientes do roubo e agitá-las o suficiente para lutar contra. Mas mesmo isso pode apenas atrasar o inevitável. 

Somente uma separação completa entre estado e dinheiro pode nos salvar. O eleitor médio pode não ter uma graduação em Ciências Econômicas, mas ele entende bem o que é o aumento no preço da comida e da conta de luz. Devemos deixar claros a eles que os objetivos declarados das elites intelectuais e financeiras, bem como do cartel bancário, são exatamente o contínuo aumento dos preços

E TVs nos dão um exemplo simples para se opor à propaganda de que preços em queda seriam “efetivamente” ruins para todos nós.

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Por Kyle Ward

Publicado originalmente em: cutt.ly/hXvh9TJ

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