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Abram, e deixem que pessoas livres façam suas escolhas

Apenas pessoas livres podem produzir informações vitais

Os defensores do lockdown e do isolamento horizontal alegam estar “seguindo a ciência”. Mas essa é apenas uma frase de efeito criada exatamente para encerrar a discussão e interditar o debate.

Hipóteses científicas deve ser refutáveis por observação. O método científico é o processo de testar hipóteses refutáveis por meio de observações empíricas que ou respaldam ou rejeitam essas hipóteses. A ciência e o debate científico nunca estão “concluídos”. Muito menos estão fechados a qualquer desafio ou discussão. 

O que os defensores do lockdown e do isolamento horizontal querem realmente dizer ao alegaram que estão “seguindo a ciência” é que as declarações feitas por determinados cientistas deveriam ser aceitas como axiomas inquestionáveis (pleonasmo intencional) e que qualquer um que questione essas declarações é um ignorante, um reacionário ou um maluco que acredita em teorias da conspiração.

Só que o problema se torna óbvio quando diferentes cientistas fazem declarações conflitantes. E o problema se torna pior ainda quando o mesmo cientista faz declarações contraditórias em momentos distintos.

Ademais, já há evidências concretas de que o lockdown não altera o número de mortos per capita. Estatísticos não conseguem encontrar nenhuma diferença de excesso de mortalidade entre os países que se trancaram e os que não.

Como bem disse Jeffrey Tucker:

O que temos de concreto é que os governos ao redor do mundo embarcaram em um grande experimento de controle social que não tinha nenhuma comprovação científica. Ninguém consegue apresentar um único estudo acadêmico, revisado por pares, multi-cêntrico, que tenha utilizado grupos de controle e que tenha feito estudos randomizados controlados (RCT) demonstrando irrefutavelmente que o lockdown é a maneira mais garantida de se combater uma epidemia.

A única coisa que foi apresentada foi um modelo matemático do Imperial College, de Londres. Só que os modelos do Imperial College possuem vinte anos de histórico pavoroso; suas previsões sempre se revelaram astronomicamente erradas, e é apavorante que eles tenham sido utilizados para nortear decisões tão importantes. A própria imprensa britânica não se cansa de ridicularizá-los.

Tudo isso, em suma, significa que os governos ao redor do mundo embarcaram em um grande experimento de controle social baseados em teorias não-comprovadas e utilizando métodos não-testados.

Mas o objetivo aqui não é discutir estatísticas ou metodologias. Por isso, o que vem a seguir é apenas um apelo. Um apelo por liberdade e, acima de tudo, por responsabilidade individual.

“Quero voltar, mas tenho medo!”

“Sim, eu quero reabrir meu empreendimento exatamente neste segundo. Mas temos de ser cautelosos e sensatos. O que acontecerá se reabrirmos muito cedo e contribuirmos para um novo surto? E se esse novo surto for rastreado e apontar como origem meu estabelecimento? Aí ele seria fechado e eu não teria mais nada!”

Essas foram as palavras de um cidadão chamado Chris Escobar. Ele é o proprietário do Plaza Theater, um complexo de salas de cinema em Atlanta (que é considerado o quinto melhor do mundo). Ele disse isso em uma entrevista ao The New York Times.

As palavras de Escobar são sensatas e certamente são compartilhadas por vários empreendedores ao redor do mundo, de modo que se trata de um exemplo que pode ser tido como genuinamente universal.

E são exatamente essas palavras de cautela que demonstram vividamente por que os governos devem reabrir suas economias, por que é seguro fazer isso, e por que nem sequer deveria ter havido um desligamento forçado das economias.

Por mais paradoxal que pareça, as palavras deste empreendedor são a comprovação de que pessoas e empresas não precisam de uma lei impondo desligamentos e nem de legislações norteando reaberturas.

E é assim porque, em geral, não é do feito do indivíduo fazer coisas que podem matá-lo. Que o novo coronavírus represente uma ameaça desconhecida significa que, com ou sem lockdown ou isolamento horizontal, consumidores e empreendedores teriam sido bem mais do que cautelosos. E ainda continuariam sendo. Em uma sociedade livre, não existe algo como “não fazer nada” em resposta a algo que tem o potencial de matar.

Se há algo que a história do mundo comprova é que indivíduos livres estão constantemente respondendo a desafios, e organizando maneiras de atacar esses desafios. Acreditar que, se não houvesse políticos e burocratas dando ordens e apresentando diretrizes, as pessoas simplesmente ficariam sentadas inertes e apáticas em resposta ao novo coronavírus não é nada realista. Elas teriam se mobilizado. Elas sempre fizeram isso. Na melhor das hipóteses, a brutal intervenção política — por mais bem intencionada que fosse — simplesmente revogou essa possibilidade.

Indivíduos empreendedores, com iniciativa, sempre formaram associações e entidades com o objetivo de lidar efetivamente com ameaças potencialmente graves. Como estamos vivenciando diariamente em meio este desnecessário lockdown, inovações feitas por indivíduos tornaram possível que os cidadãos ao redor do mundo se comunicassem instantaneamente por telefone, computador e cada vez mais face-a-face (pense no Zoom, no Skype ou mesmo no WhatsApp). 

Com fartas informações disponíveis graças a esses avanços, a ideia de que indivíduos precisam de diretrizes emitidas por políticos para criarem respostas a um vírus de maneira segura é totalmente irrealista.

Mais realisticamente, a simples pressuposição entre alguns de que o vírus é fatal para determinados grupos de pessoas já basta para explicar por que os indivíduos deveriam ter sido deixados livres para organizar respostas por contra própria.

Como bem disse o poema chinês (que depois foi parodiado por Mao Tsé-Tung), “Que flores de todos os tipos desabrochem, que diversas escolas de pensamento se enfrentem!”. Se os estados são laboratórios de ideias em épocas boas, por que limitar as experimentações e as interações em épocas ruins, recorrendo a lockdowns homogêneos e uniformes?

É desnecessário enfatizar que a reação política a um vírus, a qual limitou amplamente nossas liberdades “para o nosso próprio bem”, nada mais foi do que um arrogante non sequitur. A morte é sempre uma possibilidade à espreita, e sempre pode surgir do desconhecido. Exatamente por isso, não faz nenhum sentido restringir o exato capital humano que já aniquilou várias outras doenças no passado com criatividade, engenho, crescimento econômico e avanços trazidos pela combinação de acumulação de capital e inteligência.

E, no entanto, é exatamente isso o que foi feito.

Alguns responderão que não estão dispostos a arriscar e arcar com a possibilidade de terceiros não obedecerem às normas sociais que se originariam destas respostas voluntariamente implantadas por indivíduos livres. Ok, mas assim como não existe algo como “não fazer nada” em resposta a um vírus, também não existe uma sociedade na qual absolutamente todas as pessoas seguem todas as regras. E isso vale até mesmo para os mais brutais e autoritários estados policiais. 

Aplicado a uma sociedade livre, sim, alguns indivíduos iriam desdenhar das regras voluntárias para aplacarem seu desejo de ficar perto de outros. Sendo assim, os mais temerosos teriam uma resposta fácil para isso: auto-isolamento. 

Assim como usuários de heroína produzem informações cruciais para os seguidores da lei ao utilizaram aquilo que políticos não permitem, indivíduos descuidados e negligentes em relação à Covid-19 também forneceriam informações cruciais para o resto da sociedade. Goste ou não, é assim que funciona uma sociedade livre.

Vale a pena enfatizar aquilo que já deveria estar óbvio: essa abolição das liberdades individuais, que muitos dizem ser a solução para o novo coronavírus, é exatamente o que nos afasta de uma solução. Há tanto o que ainda não sabemos, e um dos motivos para ainda não sabermos é que há muitas regras, e muitos continuam proibidos, por decreto, de produzir informações sobre quais seriam as implicações de pessoas livremente se movendo e interagindo.

E o mesmo vale para empreendedores.

Como demonstrado acima, Chris Escobar não está seguro para reabrir seu empreendimento. Para ele, há muitas incertezas e muita coisa desconhecida em relação ao vírus. Consequentemente, ele não quer tomar uma decisão econômica que poderá macular a marca de seu empreendimento. Escobar deve ser totalmente livre para continuar fechado.

Ao mesmo tempo, não é desarrazoado sugerir que vários outros empreendedores não compartilham do pessimismo de Escobar. Ou isso, ou então não é um luxo ao qual podem se dar. Logo, para que seus empreendimentos possam sobreviver, eles precisam reabrir urgentemente, para ontem, de modo que eles irão arriscar a possibilidade de o vírus se disseminar em seu estabelecimento, o que afetará para sempre sua imagem. 

Sim, essa é uma possibilidade, e caso aconteça, uma enorme quantidade de informação será produzida, estudada e entendida. Informação que seria revertida para Escobar e o ajudaria em seus planos de reabertura.

De novo: goste-se ou não, é assim que funcionaria em uma sociedade livre.

Com efeito, deve-se enfatizar que, embora Escobar esteja relutante em reabrir seu empreendimento hoje, é também possível que ele este disposto a esperar meses ou até mesmo anos (o tempo que alguns dizem ser necessário para se criar uma vacina) para reabrir. Com o tempo, empreendimentos terão de retomar suas operações ou então irão à falência — o que simplesmente nos remete de novo à importância de termos liberdade hoje.

Deixem que os intrépidos comecem suas experimentações com sua propriedade. Permitam que pessoas livres voltem a voluntariamente frequentar estes estabelecimentos (ou alguém realmente acha que iremos ficar enclausurados para sempre?). E vamos todos aprender com o que essas ações irão revelar.

Sem estas pessoas livres e intrépidas, não será possível realmente conhecermos a verdade sobre o vírus, entender como ele se dissemina, e quem é o mais vulnerável a ele. Pessoas livres produzem informações.

Isso é liberdade.

Não adianta fugir; outros virão

Sars-Cov-2 não será o último vírus deste tipo a se disseminar pelo mundo. Pode ter a certeza de que, tão logo a próxima cepa surgir, cientistas alarmistas, médicos e auto-declarados especialistas irão, sem nenhum esforço, convencer  políticos assustados e ávidos por “fazerem alguma coisa” a nos protegerem da doença, e até mesmo da morte. Políticos adoram isso.

E é exatamente por isso que as pessoas traumatizadas pelo lockdown deveriam se concentrar no argumento da liberdade. Afinal, será que realmente precisamos de políticos para evitarmos ficar doente? Precisamos de burocratas para nos protegerem da morte? É realmente possível alguém afirmar isso sem nenhuma vergonha?

Os lockdowns são inaceitáveis não porque destroem empregos, empresas e o espírito humano. Eles são inaceitáveis porque tudo aquilo que retira a liberdade é, por definição, contra a própria vida humana. Os lockdowns nos cegam para aquilo que é melhor para nós, impossibilitando que enxerguemos o que irá nos manter seguros quando nossa segurança estiver em risco.

Em suma, embora também estejam a nosso favor, números e estatísticas não são a maneira correta de se debater a Covid-19, os lockdowns e o isolamento horizontal. Se formos debater exclusivamente em termos de números, estaremos entregando para os próprios políticos que criaram toda essa catástrofe econômica o poder para fazerem tudo isso de novo. Não incorramos novamente neste erro. 

E, acima de tudo, que não permitamos que os lockdowns e as imposições de isolamento horizontal voltem novamente, pois aquilo que esmaga a liberdade também aniquila o conhecimento necessário para prolongar a vida e o bem-estar.

Deixemos que pessoas livres e responsáveis descubram, por meio dos sinais de mercado, como serão o presente e o futuro, agora que um novo vírus entrou em nossa vida.

(John Tamny)
Publicado originalmente em https://www.mises.org.br/article/3257/abram-e-deixem-que-pessoas-livres-facam-suas-escolhas

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