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Ainda é a economia, mas falta olhar os números sociais

Dados do IDH revelam que vivemos menos, ganhamos pior e está difícil educar filhos. Daí o descontentamento geral

Há sinais contraditórios explicáveis sobre o Brasil que vão além das falhas de comunicação do governo em explicar que as coisas não estariam tão ruins. Se na economia a inflação está sob relativo controle, em 4,62%, o menor nível desde 2020, o emprego melhorou, com 1,4 milhão de novas vagas criadas em 2023, e a geração de riquezas se mostrou maior que o esperado, com um produto interno bruto de 2,9% (US$ 2,19 trilhões) no ano passado, a percepção negativa da população refletida nos índices de popularidade da presidência talvez tenham explicação nos resultados do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), que mede o bem-estar das populações. A correlação não é direta, mas oferece respostas plausíveis.

O Brasil melhorou pouco e lentamente, sem recuperar os índices de bem-estar anteriores à pandemia, indica o levantamento das Nações Unidas divulgado nesta quarta-feira (13). Enquanto o mundo conseguiu voltar ao patamar anterior, o IDH do país se arrastou de 0,754 para 0,760, inferior ao que ostentava em 2019, que era de 0,766. O país está à frente dos vizinhos Colômbia e Venezuela, mas segue atrás até da problemática Argentina, além de Peru, Uruguai, Chile, México e, pasmem, Cuba. A média da América Latina e Caribe é de um IDH de 0,763, acima do brasileiro. O IDH do mundo é de 0,739. O máximo é 1.

Inflação de 32%

E isso se reflete na percepção do cidadão comum, que não vive tão bem quanto antes. Na pesquisa Quaest realizada no fim de fevereiro, 38% avaliaram que a economia piorou (contra 31% em dezembro), 26% disseram que melhorou (contra 34%), e 34% que está do mesmo jeito (contra 33%). A perspectiva reflete humores, o que é preocupante em termos econômicos, pois represaria consumo e investimentos: 46% acham que vai melhorar (55% em dezembro), 31% acreditam que vai piorar (25% em dezembro), e 19% que vai ficar do mesmo jeito (16% em dezembro).

O rendimento médio domiciliar per capita avançou de R$ 1.625 em 2022 para R$ 1.893 no ano passado, em valores nominais obtidos pela Pesquisa Nacional de Amostras em Domicílio (Pnad Contínua), alta de 16,5%. Só que a partir de 2019, quando a renda era de R$ 1.419, a inflação acumulada do IPCA é de 32,8%.

Viver menos, ganhar menos

Há também um dado sutil. A expectativa de vida subiu de 72,8 para 73,4 anos, em relação a 2021. Antes era 75,3 anos. Ou seja, muita gente perdeu amigos e parentes. Outro ponto é a expectativa de escolaridade (estimativa de anos de estudos para a atual geração de crianças) que caiu de 15,59 para 15,58 anos. Ninguém percebe esse resultado estatístico, mas há gente de menos estudando. E isso afeta qualquer perspectiva.

Mesmo assim, o Pnud é algo otimista, pois considera que o Brasil poderá ir acima dos patamares anteriores nos próximos anos. Assim quando analistas afirmam que o governo não consegue entender como agradar os brasileiros, parece correto afirmar que parte da numeralha é ignorada como fator fundamental de percepção de qualidade de vida. Viver menos, ganhar menos e ter os filhos estudando menos desagrada geral. O cidadão tem pressa para ao menos voltar à vidinha que tinha. A partir daí, vai querer mais.

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