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Amigos, amigos, negócios à parte

Se Jair Bolsonaro tivesse conseguido se reeleger, Donald Trump teria elevado as tarifas de importação do nosso aço? Resposta: sim. Trump parece gostar de Bolsonaro (não na mesma proporção em que o brasileiro idolatra o americano), mas não iria poupar o Brasil enquanto sobretaxa o mundo inteiro. É a velha máxima: amigos, amigos, negócios à parte.

O presidente americano não abriu fogo tarifário apenas em direção à China. Mirou aliados históricos, como o Canadá, e já avisou que irá sobretaxar as importações vindas da União Europeia. Portanto, não deixaria uma simpatia pessoal interferir em uma política global.

Nesta questão do aço, havia ainda uma esperança entre os especialistas neste mercado. É que, em 2018, Trump também havia elevado as tarifas de importação – mas depois criou uma cota de 3,5 milhões de toneladas de aço isentas de tributos alfandegários. A ordem executiva do governo americano, no entanto, estabeleceu que, em 12 de março, não haverá mais exceções ao tarifaço.

Trump quer reabilitar as vendas da indústria americana ao tornar os produtos internacionais mais caros. A mentalidade protecionista, no entanto, pode trazer efeitos perniciosos para a economia americana. O maior de todos é o crescimento da inflação. Com a sobretaxação, as importações ficarão mais caras. O impacto disso? Há duas possibilidades. A primeira: a indústria americana vai ocupar o lugar dos estrangeiros, vendendo artigos e insumos no mercado interno. A segunda: mesmo com as tarifas, os produtores internacionais continuarão competitivos. Nos dois casos, porém, há um denominador comum: os preços internos vão aumentar.

Trump argumenta que essa elevação de custos será transitória e que o futuro será melhor. Mas é o caso de nos perguntarmos: por que os preços americanos deixaram de ser competitivos?

Muitos industriais – brasileiros inclusos – reclamam da China e dizem que há dumping nos preços praticados pelo país no mercado internacional. Isso até pode ser verdade, mas há mercados em que os chineses enfrentam a concorrência de outros países.

Não seria o caso de investigar as causas dessa perda de competitividade da indústria americana e combatê-las, deixando o aumento de tarifas como último recurso? Hoje, a China tem custos menores não apenas por conta de uma mão-de-obra barata, mas por conta de volumes astronômicos, já que se tornou um fornecedor mundial.

Quando se cria proteções artificiais para um mercado, como Trump está fazendo com o setor produtivo de seu país, há um perigo mortal: o risco de acomodação, já que as empresas estão embaixo do guarda-chuva alfandegário criado por Washington. Essa é uma reação típica do ser humano: quem vai investir em produtividade se as tarifas inviabilizam a entrada de outros fornecedores?

A dança das tarifas vai provocar desconfortos que podem provocar um rearranjo no comércio exterior. Trump está tornando mais caros os produtos de boa parte do mundo – e sofrendo retaliação das demais nações. Isso quer dizer que as vendas entre Estados Unidos e muitos países vão diminuir. Mas o mesmo fenômeno abre espaço para que essas nações negociem mais entre si, tendo a China como principal comprador e vendedor.

A aposta de Trump é arriscada. Pode ser bem-sucedida ou fracassar. Mas, qualquer que seja o resultado, uma coisa é certa: viveremos dias de extrema tensão até o início de 2029.

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