O resultado do PIB brasileiro no primeiro trimestre confirma as expectativas dos analistas. A economia brasileira, depois de ensaiar recuperação em 2017 e 2018, pode estar entrando novamente numa recessão, que, se ocorrer, pode causar maiores impactos à recessão anterior.
Depois de cair 7,6% no acumulado de 2015 e 2016, o PIB registrou taxas anuais de crescimento de 1,1% nos dois anos seguintes. Ou seja: ainda não recuperamos o nível pré-crise. Para piorar, a capacidade produtiva hoje é menor do que em anos anteriores. Isso quer dizer que a nossa taxa de crescimento sustentável (que não causa pressões inflacionárias) está mais baixa. Em entrevista publicada na edição de quarta-feira (29) do Valor Econômico, o economista-chefe do Citi Brasil, Leonardo Porto, alertou para a queda do crescimento potencial do PIB ocorrida entre 2008 e 2019. Naquela época, a mão de obra crescia a uma taxa anual de 1,8% e caiu para 0,9%. A taxa de investimento caiu de 20% para 15% do PIB. E não há evidências de aumento de produtividade. Sem trabalhadores nem máquinas (ou softwares, para sermos mais contemporâneos) não há como impulsionar a economia. Nos cálculos do economista-chefe do Citi, o PIB potencial gira em torno de 1% e 1,5% ao ano – ante 3,5% em 2008.
A queda na capacidade produtiva levou o economista Affonso Celso Pastore, que já presidiu o Banco Central, a dizer que vivemos uma depressão, que é mais grave do que uma recessão. Na definição de Paulo Sandroni, depressão é a “fase do ciclo econômico em que a produção entra em declínio acentuado, gerando queda nos lucros, perda do poder aquisitivo da população e desemprego”. A visão pessimista de Pastore, porém, não é consenso entre os especialistas.
Em outras crises, havia espaço para estimular a economia via política monetária (queda de juros) ou expansão fiscal (via aumento de compras e investimentos governamentais). Os juros em níveis já historicamente baixos e o déficit fiscal crescente tiraram essas duas armas do coldre do governo. Não podemos nem contar com o mundo, uma vez que o crescimento global é menor hoje do que na década passada.
Nesse cenário, a recuperação da economia virá, inexoravelmente, de ganhos de produtividade. Para isso, o governo federal e o Congresso precisam aprovar as reformas em discussão. Criar a Nova Previdência é apenas o primeiro passo. O país precisa de uma reforma tributária e de outras reformas microeconômicas para melhorar o ambiente de negócios, abrindo espaço para o aumento dos investimentos e do consumo.