A fuga de capital estrangeiro do Brasil é maior do que nos demais países emergentes, o que irá comprometer a capacidade de financiamento do governo e das instituições privadas no curto prazo. A afirmação é de Roberto Campos Neto (imagem), presidente do Banco Central, que nesta segunda-feira (1º) apresentou os dados que confirmam a retirada de capitais estrangeiros da bolsa e dos títulos da dívida.
A queda começou em fevereiro e, entre março e abril, somou quase US$ 28 bilhões nos dois indicadores. Só em março foram US$ 21,3 bilhões. Só na semana passada o Tesouro Nacional registrou que a participação de recursos de não residentes no sistema financeiro caiu para 9,36%, o menor patamar desde 2010. Os brasileiros também tentam proteger seus investimentos. Nos primeiros cinco meses do ano eles removeram R$ 65,6 bilhões só da B3 (Ibovespa).
Campos Neto afirmou que a fuga é culpa da insegurança que a pandemia causa nos mercados, em especial os emergentes. O real acumula queda de 24,7% em 2020. De acordo com o BC, as moedas de outros países emergentes despencaram menos: de Índia (5,6%), Chile (6,6%), Rússia (11,85), Colômbia (11,9%), Turquia (12,8%), México (14,8%) e África do Sul (20,2%).
Ele afirmou que, baseado na experiência de outros países, medidas como a flexibilização da quarentena para reativação da economia terão impacto limitado. “Tem um elemento do fator medo na população, de que mesmo depois que a quarentena for encerrada, ou diminuída, o fluxo de pessoas vai demorar a voltar. Esse fator medo que existe na população vai ficar com a gente até ter uma vacina ou pelo menos até o meio do ano que vem. A volta em alguns setores de serviços vai ser mais lenta”, disse.