Lula recebe Xi Jinping em Brasília nesta quarta-feira para fortalecer a parceria, com foco em novos acordos comerciais e estratégicos
Nesta quarta-feira (20), o presidente da China, Xi Jinping, encontra-se com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva no Palácio do Alvorada, em Brasília. O encontro marca mais um capítulo na relação comercial entre os dois países, que completa 50 anos em 2024 e consolidou a China como o principal parceiro comercial do Brasil.
A agenda oficial inclui reuniões, assinatura de acordos bilaterais, pronunciamentos à imprensa e um jantar em homenagem ao líder chinês. Em meio a essa celebração diplomática, os números impressionam: em 20 anos, o comércio entre Brasil e China saltou de US$ 6,6 bilhões, em 2003, para US$ 157,5 bilhões em 2023, segundo o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços. Apenas até outubro deste ano, a movimentação já somava US$ 136,35 bilhões.
A força da soja e a modernidade dos semicondutores
A soja lidera as exportações brasileiras para a China nos últimos cinco anos, acumulando US$ 169,2 bilhões no período. Outros destaques incluem minério de ferro (US$ 113,9 bilhões) e petróleo bruto (US$ 94,9 bilhões). Por outro lado, os semicondutores e dispositivos fotossensíveis encabeçam as importações brasileiras da China, com US$ 16,9 bilhões.
A crescente demanda por veículos elétricos também contribuiu para o aumento das importações brasileiras. Em 2024, os carros vindos da China somaram US$ 2,95 bilhões, quase triplicando os números de 2023. Guilherme Rosenthal, cofundador da fintech Vixtr, aponta que esse boom está aliado a investimentos diretos chineses em montadoras instaladas no Brasil.
Impactos econômicos e riscos de concentração
A relação comercial, no entanto, traz desafios. O economista Paulo Feldmann, da FIA Business School, alerta que o Brasil ainda depende fortemente da exportação de commodities, cujo preço é definido por bolsas internacionais, enquanto importa produtos de alta tecnologia. “Essa dependência pode ser um risco. Apesar disso, o volume comercial segue em expansão, impulsionado pelo crescimento econômico da China, que registrou avanço de 4,6% no último trimestre”, destaca.
Guilherme Rosenthal observa uma leve diversificação, com exportações de itens industrializados, como aviões comerciais, mas ressalta a concentração em poucos setores. “Essa dependência de um único mercado é uma faca de dois gumes”, afirma.
Investimentos e cooperação acadêmica
Além do comércio, a China já é o oitavo maior investidor no Brasil, com US$ 37 bilhões até junho deste ano, segundo a Apex. Os maiores aportes estão no setor de energia, que recebeu US$ 14 bilhões. A parceria também avança no campo acadêmico, com iniciativas como o consórcio liderado pela Fudan University, da China, que reúne 12 universidades latino-americanas, incluindo a USP. A colaboração abrange temas como mudanças climáticas, inteligência artificial e erradicação da pobreza.
Perspectivas para o futuro
A reeleição de Donald Trump nos Estados Unidos e a possibilidade de novas tarifas sobre produtos chineses podem beneficiar o Brasil, ampliando as exportações de milho, soja e açúcar para o gigante asiático, segundo Feldmann. Apesar das críticas sobre o perfil da relação comercial, especialistas concordam que a parceria é essencial para o Brasil. “A China é muito mais que um mercado comprador. É um parceiro estratégico que também estimula o desenvolvimento de setores críticos”, conclui Rosenthal.