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Como a DeepSeek virou a lógica da IA e derrubou o Vale do Silício

Entenda os desdobramentos da inteligência artificial barata de criar e de uso gratuito que desafia Nvidia e OpenAI, acirrando de vez a disputa tecnológica entre EUA e China

Na segunda-feira (27), o mercado de tecnologia global foi sacudido por um terremoto causado por uma quase obscura startup chinesa de inteligência artificial (IA), a DeepSeek. Com o lançamento de um assistente de IA gratuito que utiliza chips de baixo custo, a empresa desafiou a lógica estabelecida pelas gigantes americanas, como NvidiaMicrosoft e Meta, e levantou questões e desafios inéditos para o futuro do setor.

O que MR publicou

High-Flyer e o DeepSeek-V3

Fundada em 2023 como um braço de pesquisa do fundo de investimentos High-Flyer, a DeepSeek surgiu para desenvolver modelos de IA eficientes e acessíveis – o que parece ter conseguido. A startup rapidamente ganhou destaque ao lançar o DeepSeek-V3, um modelo de IA que rivaliza com ferramentas como o GPT-4, da OpenAI, mas com custos significativamente menores.

O diferencial está na capacidade de oferecer desempenho comparável ao das big techs americanas, mas com um investimento de apenas US$ 6 milhões – uma fração do valor gasto por empresas como OpenAI e Meta. Além disso, a startup utiliza chips mais baratos e menos potentes, desafiando a ideia predominante até ontem de que a IA depende exclusivamente de hardware avançados, caros e que consomem energia em larga escala.

O impacto

O anúncio causou um terremoto no mercado de ações dos EUA. A Nvidia, líder global em fabricação de chips para IA, viu suas ações despencarem quase 17%, perdendo US$ 589 bilhões em valor de mercado – a maior queda em um único dia na história da empresa. A Microsoft e a Meta também sentiram o impacto, com quedas significativas.

Para analistas, o surgimento da DeepSeek representa um “momento Sputnik” para a indústria de tecnologia americana. Cunhada pelo investidor Marc Andreessen, a expressão faz referência ao lançamento do primeiro satélite artificial pela União Soviética em 1957, que marcou o início da corrida espacial. Agora, a DeepSeek parece estar desencadeando uma nova corrida, desta vez pela supremacia na IA.

Como funciona

O novo assistente de IA está disponível gratuitamente em mais de 70 idiomas, incluindo português, e pode ser acessado via aplicativo ou navegador. A interface é semelhante à do ChatGPT, com uma caixa de texto que pergunta: “Como posso te ajudar hoje?”. É o básico do básico.

O usuário pode interagir com o chatbot por texto, enviar documentos, imagens e até mesmo solicitar tarefas algo complexas, como cálculos matemáticos ou revisão de códigos de programação. No entanto, diferente do ChatGPT, o DeepSeek ainda não oferece interação por voz – por enquanto.

O modelo DeepSeek-V3 é o “cérebro” por trás do sistema e, em algumas tarefas, supera o GPT-4 da OpenAI. No entanto, como outros assistentes de IA, ele não está imune a “alucinações” programáticas – respostas incorretas ou enganosas. A empresa alerta que o conteúdo gerado deve ser usado “apenas como referência”.

Privacidade e controvérsias de sempre

A política de privacidade da DeepSeek levanta preocupações. A startup informa que coleta dados como nome, e-mail e endereço de IP que podem ser compartilhadas com autoridades públicas, detentores de direitos autorais ou terceiros para fins de publicidade e análise. Até aí, nada de novo.

Além disso, o chatbot apresenta censura em temas sensíveis na China, como os protestos da Praça da Paz Celestial, em 1989, ou os campos de detenção em Xinjiang. Quando questionado sobre o assunto, o DeepSeek responde: “Me desculpe, não posso responder essa pergunta. Sou um assistente de IA feito para fornecer respostas úteis e inofensivas.”

O futuro

O sucesso levanta questões sobre o futuro da indústria de IA. Ao desenvolver modelos competitivos com menos recursos, obriga as big techs americanas a se mexerem para se recuperar do impacto. A Nvidia, por exemplo, emitiu uma nota elogiando o avanço da DeepSeek, mas descartou preocupações sobre violações de restrições de exportação de chips dos EUA para a China.

Para Kayla Blomquist, pesquisadora do Oxford Internet Institute, a DeepSeek pode sinalizar uma mudança de paradigma: “Ela está apontando para métodos de desenvolvimento de modelos que são menos intensivos em recursos, o que pode desafiar as estratégias de monetização das empresas americanas.”

Enquanto o mercado se ajusta a essa nova realidade, uma coisa é certa: a DeepSeek não apenas abalou as big techs, mas também redefiniu as regras do jogo na corrida pela inteligência artificial pegando o mundo de surpresa, principalmente os Estados Unidos, o que abre um novo capítulo na disputa tecnológica entre estas potências.

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