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Como a estiagem no RS pode ser um alerta ao agro

Diante de uma das maiores colheitas da história, produtores de soja e milho precisam driblar volatilidade dos preços para compensar perdas locais já dadas como certas

A estiagem prolongada no Rio Grande do Sul (RS) acendeu um alerta para os produtores de soja e milho, as principais commodities agrícolas estaduais junto com o arroz. A ausência de chuvas há mais de 30 dias em algumas regiões, principalmente no oeste gaúcho, comprometeu mais de 50% da produção. A situação está relacionada ao fenômeno La Niña, que mesmo se for de curta duração, como o previsto, faz estragos. O RS é o terceiro maior produtor de grãos do país. Os prejuízos podem afetar tanto as exportações quanto os preços dos alimentos derivados destes grãos, contribuindo para a ampliação das atuais pressões inflacionárias.

A situação climática gera consequências variadas. No Rio Grande, as áreas semeadas no início de novembro apresentam floração abaixo do esperado e quedas prematuras de folhas e flores, o que é garantia de perdas consideráveis na hora da colheita. As projeções iniciais, que variavam entre 22 e 23 milhões de toneladas, agora caíram para algo em torno de 19 milhões de toneladas.

Esse desempenho já impacta as cotações da soja e seu farelo nas bolsas internacionais. O mesmo ocorre na Argentina, o terceiro maior produtor global de soja do mundo, atrás de Brasil e Estados Unidos, e principal exportador de farelo do grão.

O country manager da Biond Agro, empresa de gestão e venda estratégica de grãos, Enrico Manzi, explica que, apesar dos prejuízos RS, na Argentina e Uruguai, além das possíveis perdas de qualidade no Centro-Oeste, o cenário global aponta para um excedente de oferta no início da safra. Com uma previsão de queda na produção global de 427 milhões para de 424 milhões de toneladas, os estoques finais globais devem cair de 132 milhões para 128 milhões de toneladas, representando uma queda de 3% em relação ao ano anterior. Não é muito no quadro geral, as projeções para o Brasil são alentadoras, mas o risco no Sul se junta aos velhos problemas.

“Os preços dos grãos podem ser afetados temporariamente, uma vez que a safra brasileira continua avançando. Apesar da quebra no RS, estamos prestes a colher a maior safra da história. Com o progresso da colheita e a pressão logística para escoar os grãos, é provável que os preços permaneçam pressionados nos próximos meses”, argumenta Manzi.

A Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Rio Grande do Sul (Emater-RS) informou que o impacto da estiagem ainda não é tão significativo sobre a soja, conforme as primeiras análises. O presidente da entidade, Luciano Schwerz, declarou que a safra é desafiadora nas regiões mais isoladas, mas o quadro pode não se tornal tão crítico. Mesmo assim, algumas regiões demandam maior atenção. As Missões, a Fronteira Oeste e a Região Central são as mais afetadas.

O Rio Grande do Sul passou por três estiagens e uma enchente nas últimas cinco safras. Segundo levantamento da Emater, 50% das lavouras estavam em fases reprodutivas do desenvolvimento na semana passada. Sete das 12 regiões apresentavam algum problema significativo. As áreas somadas representam 75% dos 6,8 milhões de hectares semeados com a oleaginosa no estado. “Precisamos hoje de uma chuva generalizada para amenizar o impacto da estiagem. Com o passar dos dias, mais áreas vão entrando nessas fases mais críticas”, afirmou.

Já a situação do milho é um pouco diferente: as lavouras de verão apresentam um cenário misto. As precoces não foram severamente afetadas, ao contrário das tardias. Na Argentina, principal concorrente do Brasil, o problema é maior. Além disso, a expectativa de uma demanda aquecida, especialmente da China, ofereceria sustentação aos preços. Mas para o próximo ano, se o problema voltar, o importador irá procurar alternativas.

Mesmo com grandes safras previstas para ambas as commodities, se os eventuais desarranjos climáticos se ampliarem nos outros estados, os desbalanceamentos de preços podem deixar de ser regionais. O efeito em cadeia impactaria os custos das matérias-primas, gerando inflação em produtos básicos, como óleo, fubá, biscoitos, pães, massas e rações.

Nesses tempos de incertezas, a volatilidade dos preços pode trazer trazendo incertezas sobre a rentabilidade dos negócios. As potenciais reduções na produtividade acabariam por não ser compensadas pelo aumento dos preços.

Como reduzir riscos

  • Diversificação – Em cenários incertos quanto aos preços e à cotação da moeda nacional, estar exposto sem vendas realizadas significa ter a rentabilidade vulnerável. É crucial observar o contexto geral. Uma quebra em uma região específica pode não refletir a situação como um todo e os preços podem se comportar de maneira inesperada, até se mantendo. Daí a necessidade de diversificar as culturas.
  • Garantia – Contratar seguros de preço pode ser um aliado valioso em momentos incertos, garantindo uma rentabilidade mínima enquanto se aproveitam movimentos favoráveis nas cotações das commodities.
  • Logística – Uma safra abundante traz complexidades à sua execução. O Brasil enfrenta uma situação deficitária em termos de armazenagem e pressões para transportar com eficiência das áreas produtoras para as consumidoras ou exportadoras.
  • Custo financeiro e oportunidade – Com as taxas de juros em alta, adiar vendas implica custos financeiros ao longo do tempo. Com a Selic projetada para 15% ao ano, esse custo torna-se relevante. Além disso, os custos com armazenagem e possíveis perdas de qualidade devem ser considerados por aqueles que optam por segurar os grãos para vendas futuras.

    Fontes: Biond Agro e Emater/RS

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