Queda de 0,5 ponto era dada como certa pelo mercado financeiro. BC estima inflação em 5%, Focus aposta em 4,86%
O comportamento dos preços fez o Banco Central (BC) cortar os juros pela segunda vez no semestre. Por unanimidade, o Comitê de Política Monetária (Copom) reduziu a taxa de juros básica da economia (Selic) em 0,5 ponto percentual, para 12,75% ao ano. A decisão era esperada pelos analistas financeiros, conforme os boletins semanais Focus do BC, que medem as expectativas.
Ao reduzir os juros , o Copom barateia o crédito e incentiva a produção e o consumo, mas enfraquece o controle da inflação, em busca de um equilíbrio. Para cortar a Selic, a autoridade monetária precisa estar segura de que os preços estão sob controle e não correm risco de subir.
O Copom informou que o corte é compatível com a estratégia para fazer a inflação convergir para a meta em 2024 e em 2025. O órgão deve continuar a promover reduções na mesma intensidade nos próximos encontros, mas não informou se prosseguirá com os cortes no início do próximo ano.
“O comitê ressalta ainda que a magnitude total do ciclo de flexibilização ao longo do tempo dependerá da evolução da dinâmica inflacionária, em especial dos componentes mais sensíveis à política monetária e à atividade econômica, das expectativas de inflação, em particular as de maior prazo, de suas projeções de inflação, do hiato do produto [capacidade ociosa da economia] e do balanço de riscos [para a inflação futura]”, justificou o órgão.
De março de 2021 a agosto de 2022, o Copom elevou a Selic por 12 vezes consecutivas, em um ciclo de aperto monetário que começou em meio à alta dos preços de alimentos, de energia e de combustíveis durante a pandemia. Por um ano, de agosto do ano passado a agosto deste ano, a taxa foi mantida em 13,75% ao ano por sete vezes seguidas.
Antes do início do ciclo de alta, entre agosto de 2020 a março de 2021 a Selic foi reduzida para 2% ao ano, no nível mais baixo da série histórica iniciada em 1986. O BC queria estimular a produção e o consumo durante a contração gerada pela covid-19. Porém, o patamar também espantou o capital estrangeiro, o que forçou uma retomada.
Inflação
Em agosto, a inflação oficial, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), ficou em 0,23% e acumulando 3,23% em 12 meses. Foi o que permitiu a redução, apesar do governo ter pressionado desde fevereiro pela mudança de rumo. Após sucessivas quedas no fim do primeiro semestre, a inflação voltou a subir na segunda metade do ano, mas essa alta era esperada pelos economistas.
O índice fechou o ano passado acima do teto da meta de inflação. Para 2023, o Conselho Monetário Nacional (CMN) fixou meta de inflação de 3,25%, com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual. O IPCA, portanto, não podia superar 4,75% nem ficar abaixo de 1,75% neste ano.
No Relatório de Inflação divulgado no fim de junho pelo Banco Central, a autoridade monetária estimava que o IPCA fecharia 2023 em 5% no cenário base. A projeção, no entanto, pode ser revista na nova versão do relatório, que será divulgada no fim de setembro.
As previsões do mercado estão mais otimistas que as oficiais. De acordo com o boletim Focus, pesquisa semanal com instituições financeiras divulgada pelo BC, a inflação oficial deverá fechar o ano em 4,86%. Há um mês, as estimativas do mercado estavam em 4,9%. No último Relatório de Inflação, o Banco Central projetava crescimento de 2% para a economia em 2023.
O que MONEY REPORT publicou
- Fazenda aumenta previsão oficial de crescimento do PIB para 3,2%
- Brasil perdeu mais de 400 mil empresas só em 2023
- Orçamento de 2024 almeja crescimento de 2,26% do PIB
- Empresariado elogia redução dos juros
- Conforme o esperado, Copom corta juros para 13,25% ao ano
- Caminho está pavimentado para queda da Selic, diz Haddad
- Bancos aguardam queda da Selic em agosto, informa Febraban
- CMN decide que meta de inflação será contínua a partir de 2025
- André Esteves defende corte de 0,5 ponto na Selic em agosto
- Ata do Copom sugere queda de juros em agosto