Apesar da alta percepção de risco, maioria das companhias ainda não adota práticas sustentáveis; custos e falta de conhecimento técnico são principais entraves
As mudanças climáticas já deixaram de ser uma ameaça distante e passaram a impactar diretamente os negócios em São Paulo. Um levantamento inédito da FecomercioSP, revela que 64,5% das empresas no estado já enfrentaram consequências diretas da crise climática — um dado que escancara a urgência de adaptação do setor empresarial.
Entre os principais efeitos relatados estão a interrupção de operações por conta de chuvas intensas, perdas de estoque e até falhas nas cadeias de fornecimento causadas por ondas de calor. O cenário é particularmente relevante na capital paulista, que recentemente enfrentou fortes temporais com reflexos severos para a população e o comércio local.
Apesar disso, a transição para práticas mais sustentáveis ainda caminha a passos lentos. De acordo com o estudo, 58% das empresas entrevistadas afirmaram não adotar nenhuma ação ou prática ambiental para mitigar emissões de carbono, mesmo com 61,5% delas reconhecendo a relevância do tema.
Barreiras financeiras e técnicas freiam avanços
A falta de recursos financeiros é apontada como o principal obstáculo por 40% dos empresários. Já 26% destacam o desconhecimento técnico como uma barreira significativa para a implementação de medidas sustentáveis. A combinação entre baixa capacitação e acesso restrito a crédito mostra que a mudança, embora urgente, ainda enfrenta dificuldades estruturais.
No entanto, o estudo também mostra que ações de baixo custo já começam a ganhar espaço. Cerca de 69% das empresas destinam resíduos orgânicos à compostagem e 79,8% optam pelo uso de etanol como alternativa aos combustíveis fósseis. Medidas mais estruturadas, como a adoção de veículos elétricos, ainda são exceção.
Na frente de economia circular, 28,6% das empresas afirmam realizar triagem de resíduos para reciclagem, 13,9% adotam compostagem e 17% participam de programas de logística reversa. As ações, no entanto, seguem concentradas principalmente no manejo de resíduos sólidos.
Falta engajamento e percepção do papel empresarial
De acordo com o Conselho de Sustentabilidade da FecomercioSP, o empresariado ainda não compreende plenamente seu papel como agente de transformação ambiental. Parte disso se deve à percepção de que o consumidor valoriza práticas sustentáveis, mas não estaria disposto a pagar mais por produtos com menor impacto ambiental.
Lançamento da Agenda Verde
O estudo, realizado com 200 empresas entre fevereiro e março, antecede o lançamento da “Agenda Verde” da FecomercioSP, previsto para esta quinta-feira (10), em São Paulo. A proposta reúne diretrizes voltadas à transição energética, regulação do mercado de carbono e ao fortalecimento da economia circular. A iniciativa pretende colaborar com as metas climáticas do Brasil, como a erradicação do desmatamento ilegal até 2030.