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Economistas criticam uso do Focus como balizador da economia

Corecon-SP alerta para influência desproporcional do mercado financeiro nas projeções divulgadas pelo Banco Central e seus impactos sobre a política monetária

Economistas do Conselho Regional de Economia da 2ª Região – SP (Corecon-SP) emitiram um comunicado contundente questionando o uso do Boletim Focus como principal referência para decisões econômicas no país. Segundo a entidade, o levantamento semanal divulgado pelo Banco Central estaria comprometido por conflitos de interesse e distorções nas projeções, que acabam influenciando negativamente tanto a formulação de políticas públicas quanto a tomada de decisão de agentes econômicos.

O Boletim Focus reúne previsões de cerca de 160 instituições financeiras e consultorias econômicas sobre indicadores como inflação, PIB, câmbio e taxa Selic. Embora elaborado com base nas respostas do mercado, o documento é publicado oficialmente pelo Banco Central, o que leva parte do público — incluindo empresários e investidores — a associá-lo diretamente à visão da autoridade monetária.

“O Focus não expressa a opinião do Banco Central, mas sim a de instituições com interesses próprios, em especial do setor financeiro”, afirma o Corecon-SP. Segundo o conselho, há um viés natural nessas projeções, já que os principais respondentes são beneficiados por juros elevados — especialmente através da remuneração de títulos públicos, que têm suas taxas atreladas à Selic.

A crítica vai além do conflito de interesse. O Corecon-SP destaca que o boletim tem apresentado erros significativos nas previsões, o que compromete sua credibilidade como ferramenta de orientação. “Entre o primeiro e o último relatório de 2024, as projeções variaram substancialmente: o IPCA passou de 3,9% para 4,9%; o PIB de 1,59% para 3,49%; o dólar de R$ 5,00 para R$ 6,00; e a Selic de 9% para 11,75% ao ano”, aponta o documento.

Para os economistas do conselho, essas mudanças expressivas evidenciam que o boletim muitas vezes reflete mais os desejos do mercado do que estimativas realistas. “Há um incentivo quase sem risco para superestimar a inflação, pressionar por uma Selic mais alta e garantir juros reais elevados, o que favorece o retorno financeiro dessas instituições”, critica o Corecon-SP.

O conselho também chama atenção para os efeitos colaterais dessa dinâmica: com expectativas inflacionárias infladas e previsões de juros elevados, empresários acabam adiando investimentos produtivos, o que afeta negativamente o crescimento econômico, a geração de empregos e a competitividade do país.

Diante desse cenário, o Corecon-SP defende a criação de alternativas mais equilibradas para aferir as expectativas econômicas do país. Entre as iniciativas citadas está o Relatório Firmus, que busca captar trimestralmente a percepção de empresas não financeiras sobre seus negócios e o ambiente econômico. Ainda em fase piloto, o levantamento já está na terceira edição e, segundo o conselho, precisa ganhar mais visibilidade e apoio institucional.

“Como está hoje, o Focus distorce a realidade em favor de poucos. É urgente repensar a forma como construímos e interpretamos as expectativas econômicas no Brasil”, conclui o comunicado.

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