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Erros que as pessoas cometem ao serem demitidas – e que podem destruir a carreira

Por Jeffrey Tucker

Eis o primeiro fato crucial a ser entendido: o trabalho assalariado é uma via de mão dupla.

Em uma economia de mercado, o contrato de trabalho ocorre quando há a expectativa de que ocorrerá uma cooperação mútua, a qual irá melhorar a situação tanto do empregador quanto do empregado.

Caso não houvesse escassez no mundo, o empregador iria preferir não contratar ninguém e fazer tudo sozinho. Isso não apenas lhe pouparia recursos, como também, em todo caso, a maioria dos empregadores imagina poder fazer um trabalho melhor do que qualquer pessoa que venham a contratar. Eles apenas contratam porque sabem que não podem fazer tudo sozinhos.

A própria existência de empresas que empregam mais pessoas do que o número de proprietários é um fenômeno oriundo da necessidade de se dividir o trabalho. A teoria da divisão do trabalho e das vantagens comparativas mostra que, mesmo que o patrão seja o melhor contador, faxineiro, comerciante, desenvolvedor de página de website e especialista em marketing em todo o mundo, ele estará em melhor situação caso se especialize em apenas uma área, e entregue as outras tarefas para outras pessoas, mesmo que estas pessoas não sejam tão boas quanto ele nestas tarefas.

Cada patrão, portanto, considera cada decisão de contratação uma combinação entre temor (“não quero desperdiçar dinheiro!”) e alívio (“finalmente poderei me concentrar em algo aqui!”).

O empregado não está fazendo nenhum favor ao seu patrão ao meramente trabalhar ali. Já o patrão não deve ser visto como um generoso distribuidor de fundos, muito menos alguém sob uma obrigação moral de fazer redistribuição de renda. O empregado está ali porque a natureza do mundo e a escassez de tempo e recursos o tornam necessário.

Para que todo este arranjo funcione bem e pacificamente, é necessário haver benefícios mútuos. Sempre.

Quando este benefício mútuo deixa de existir, passa a ser do interesse de ambos os lados desfazer a relação. O empregado, que deixou de ser útil para aquele patrão, estará livre para ir à procura de melhores e mais agradáveis oportunidades. Já o patrão poderá parar de pagar a esse empregado, que estava lhe oferecendo serviços que ele não mais acredita serem benéficos para a empresa.

Por isso, vale repetir, o contrato de trabalho deveria ser baseado no benefício mútuo. A liberdade de demitir e a liberdade de se demitir são os mecanismos que mantêm funcionando essa relação de trocas mútuas.

O que nos leva ao fenômeno da demissão.

Nem sempre é uma tragédia

Ser demitido nem sempre é uma tragédia. No ciclo ideal da vida, você vive, aprende e segue em frente.

Adicionalmente, a causa da sua demissão nem sempre é a incompetência. Nunca conheci uma pessoa produtiva, ambiciosa e talentosa que não tenha sido demitido de pelo menos um emprego. Todas as pessoas, por melhores que sejam, já foram demitidas ao menos uma vez.

Em algumas ocasiões, grandes empregados são tão inovadores que passam a ser vistos como disruptivos, o que faz com que a estrutura já estabelecida da empresa na qual ele trabalha reaja negativamente. Steve Jobs é o exemplo mais famoso: ele foi demitido de sua própria empresa em 1985, e retornou anos depois para liderar a Apple à grandeza.

Dito isso, é fato que as pessoas raramente estão preparadas para ser demitidas. Por essa razão, pessoas que são demitidas tendem a cometer os mesmos erros quando recebem a notícia. E é assim porque a experiência é nova, e nada em nossa educação ou no nosso sistema educacional nos preparou para o que fazer (com efeito, nosso sistema educacional não nos prepara para absolutamente nenhuma situação do mundo real).

Sendo assim, as pessoas recebem a notícia ruim, entram em pânico, e tornam a situação ainda pior.

Ser demitido já aconteceu comigo, e provavelmente acontecerá com você em algum momento da sua carreira (exceto se você for funcionário público). Sim, no momento, parece ser um dos grandes traumas da vida. Entretanto, todos nós temos a tendência de exagerar enormemente as implicações disso, e perdemos muito tempo pensando no ocorrido em vez de ver esse acontecimento como um desafio e uma oportunidade.

Primeiro, entenda que nem todo emprego é o certo para você

A criação de valor tem de ser para ambos os lados: de você para seu patrão e do seu patrão para você.

E essa relação de troca tem de continuar diariamente. Se houver uma incompatibilidade, não faz sentido continuar a relação.

Ao ser demitido, ninguém está necessariamente querendo prejudicar você, da mesma forma que você não está querendo prejudicar uma joalheria ao se recusar a comprar seu produto. Seu patrão simplesmente não mais está querendo continuar essa relação de troca, algo que é um direito humano dele.

Dica: você não vai querer um emprego no qual você não é visto como um criador líquido de valor. Se a relação não está funcionando, você tem de saber disso.

A razão por que você foi demitido importa? Não muito. O próprio empregador nem sempre sabe o motivo. Ele apenas sabe que, do ponto de vista dele, a relação não mais está funcionando. E ele está em seu perfeito direito de terminá-la.

De novo: por que você iria querer continuar trabalhando para alguém que não mais lhe quer?

Por fim, se seu empregador decide que você não mais se encaixa no empreendimento, não lhe fará nada bem ficar penando em um estado de negação, acreditando, por exemplo, que alguém irá ligar para você implorando para voltar. Isso não irá acontecer, mesmo que devesse. Aquele período da sua vida acabou, e um novo período está começando. Processe essa realidade o mais rapidamente possível.

Segundo, não tenha um surto de raiva

Isso seria um erro enorme e desastroso. Você precisa criar uma ponte entre seu atual emprego e o próximo. Sua saída tem de ser elegante, com manifestações de genuína gratidão pela confiança que o empregador demonstrou ter em você. Expresse isso de todas as maneiras possíveis — deixando de lado todas as fantasias de vingança —, com o máximo de sinceridade que você conseguir reunir.

Ainda que você tenha a certeza de que o lugar vai entrar em colapso na sua ausência, deixe que isso seja um problema deles, não seu.

Acredite: você ficará feliz por ter optado por se comportar como uma pessoa decente e madura. Seu empregador ficará positivamente impressionado com sua atitude, e poderá de muito bom grado escrever uma ótima carta de recomendação para seu próximo emprego. Jamais se deixe levar pela ideia de que isso não é importante.

Dentro de semanas ou meses, você será perguntado como ou por que sua relação anterior de emprego terminou. Você terá de explicar. É quase certo que seu próximo patrão irá entrar em contato com seu anterior. Você quer que essa conversa seja boa. Se você deixar seu empregador com a sensação de que você é uma pessoa decente, ponderada e até mesmo magnânima, melhor para você.

E tenha em mente também que as relações que você construiu gerarão bons retornos em termos de reputação pelos próximos anos, quem sabe décadas. Sua atitude não se resume apenas ao contracheque do momento. O objetivo é construir uma rede de respeito e admiração por sua inteligência, seu caráter e sua disciplina.

Não há momento melhor para mostrar isso do que quando as más notícias são recebidas.

Terceiro, há um problema sério e imediato: fluxo de caixa

Por algum motivo, enquanto estão empregadas, as pessoas tendem a se esquecer das finanças, se comportando como se sua atual receita fosse um direito garantido. E então vem a demissão inesperada e a pessoa entra em choque depois de um mês ao descobrir que o dinheiro parou de entrar. Esse comportamento é fatal. Ao ser demitido, você tem de imediatamente se ocupar em encontrar uma maneira de estancar o vazamento em suas finanças pessoais. Cortar gastos é essencial.

Você pode até conseguir alguns meses de oxigênio com o seguro-desemprego, mas isso será temporário (e, na esmagadora maioria das vezes, sua receita será bem menor do que seu salário anterior).

Tudo fica pior ao se deparar com a realidade do mercado de trabalho: você pode demorar meses até encontrar seu próximo emprego. E, se encontrar, terá de esperar mais 30 dias até receber o próximo salário. Essa é a realidade cruel, e ela se deve majoritariamente aos custos artificiais impostos pelo governo na relação de trabalho. Os encargos sociais e trabalhistas, bem como toda a carga tributária, aumentam enormemente os riscos de se contratar alguém. Não deveria ser assim, e não seria assim em um livre mercado. Mas não vivemos nesse mundo e essa é a realidade.

Portanto, entre o fim do seguro-desemprego e o início do próximo emprego, pode haver um espaço de meses. Se, durante esse tempo, você estourar seu cartão de crédito e estiver sem renda, você estará seriamente encrencado, entrando em uma situação da qual poderá levar mais de um ano para se recuperar.

Tenho uma amiga que tinha um ótimo emprego em uma cidade grande. O salário era alto, e ela era “gastadeira” e não tinha o hábito de poupar. Sempre agiu como se fosse estar naquele emprego para sempre. E então veio o imprevisto, e ela se tornou vítima dos maus humores do novo administrador da empresa. Repentinamente, ficou desempregada. Como não tinha feito poupança, ela rapidamente percebeu que agora tinha duas ocupações: procurar outro emprego e conseguir renda imediatamente, de qualquer fonte.

O que ela fez? Tornou-se lavadora de pratos no pequeno restaurante na rua de sua casa. Ao mesmo tempo, não descuidou de sua página no LinkedIn. Foi realmente incrível e inspirador. Rapidamente, ela encontrou outro emprego ainda melhor que o anterior, e está hoje ascendendo na carreira corporativa. É assim que se faz.

Entretanto, nada substitui a importância da poupança e da educação financeira. Crie esse hábito para não passar aperto ao eventualmente ficar desempregado.

Quarto, abra seu leque ao procurar o próximo emprego

Pode ser que você já esteja de olho em uma determinada empresa porque, por exemplo, um amigo trabalha lá. Você se apresenta e se esforça para conseguir uma vaga. É ali que você se imagina. No entanto, a dolorosa realidade é que você não está no controle da situação. Com efeito, você não possui o controle exclusivo de nenhuma situação. Por isso, em vez de se prender a uma única oportunidade, você tem de se imaginar em uma variedade de novas posições e instituições, e se inscrever em todas elas, o mais rapidamente possível.

Há um elemento prático aqui. Seu próximo empregador tem de acreditar que você está sendo bastante demandado por todos os lados, de modo que ele terá de começar a fazer ofertas salariais pelos seus serviços o mais rapidamente possível. Do seu ponto de vista, você tem de estar um tanto desprendido. Você tem de estar na posição de poder recusar, e talvez até mesmo (embora isso seja capcioso) jogar uma instituição contra outra, colocando as duas para disputar sua mão-de-obra. Para ser um agente independente no processo de contratação, você precisa de opções. Mas somente você pode criá-las.

Quinto, aprenda com seus erros

Todos cometemos erros. A primeira vez que fui demitido foi por insubordinação. Eu trabalhava em uma loja que vendia ternos feitos sob medida. Cheguei a ser considerado pela gerência o melhor vendedor da loja. Durante uma temporada de natal, o patrão disse a todos os vendedores que, dali em diante, todos os pedidos de alteração nas medidas das roupas só poderiam ser prometidos para três semanas após a data da venda (quem fazia o trabalho de alfaiate era o próprio patrão).

Considerei aquele alongamento vergonhoso. Não era necessário tanto tempo.

Como era de se esperar, menos de uma hora depois, um cliente adentrou a loja e disse que compraria sete ternos caríssimos, mas com uma condição: todas as alterações teriam de estar prontas em, no máximo, uma semana.

Desconsiderei as ordens do patrão e prometi ao cliente que as roupas estariam prontas em uma semana. Ao fim do expediente daquele dia, meu patrão descobriu os recibos, ficou enfurecido, jogou todos os sete ternos em cima de mim e exigiu saber “quem irá fazer as alterações neles?”

E então eu disse: “Eu irei”. E imediatamente fui para a máquina de costura e comecei a trabalhar. Quando eram 9 da noite, eu já havia terminado todos os ternos. Imediatamente, levei todo o trabalho completo para o patrão e disse que eu mesmo entregaria os ternos pessoalmente ao cliente na manhã do dia seguinte.

Meu patrão, então, disse: “Ótimo.” E completou: “Quando você terminar da fazer isso, não mais precisarei dos seus serviços.”

Não, isso não foi uma injustiça. Nenhum patrão toleraria tamanha insubordinação. Aprendi com isso, cresci, e simplesmente arrebentei no meu emprego seguinte. (Virei gerente em outra loja de roupas, diretamente concorrente à do meu antigo patrão; minha loja superou a dele em todas as temporadas seguintes).

De novo: todos cometemos erros. Descubra quais foram os seus, aprenda com eles, e utilize essas lições em seu próximo emprego. Deixe o rancor de lado e pense em si mesmo como um ativo cujo valor aumenta com o tempo e, principalmente, com os erros cometidos e reconhecidos.

Para finalizar

Talvez a demissão nem foi porque cometemos erros. A relação de troca funcionou por algum tempo, e então parou de funcionar. Isso acontece e é normal. Já lidei com essa situação várias vezes ao longo de minha vida profissional. Não há nada de errado com isso. Pode acontecer a qualquer pessoa em qualquer situação de emprego.

Por esse motivo, o empregado esperto tem de estar sempre se imaginando em outras posições no mercado, talvez não ativamente procurando novos empregos, mas sempre mantendo o olho aberto para possíveis opções. Isso não é deslealdade. Ao contrário, tal atitude ajuda você a encontrar mais rapidamente qual é a ocupação que gera seu maior valor no mercado de trabalho, algo que beneficia seu atual empregador tanto quanto você.

Todos seremos demitidos em algum ponto da carreira. Saber transformar isso em algo positivo na sua vida vai depender de você.


https://www.mises.org.br/article/2979/erros-que-as-pessoas-cometem-ao-serem-demitidas–e-que-podem-destruir-a-carreira

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